"Percepção e influência de Tagore em Goa"
“O galego-português é o meu idioma materno,
por isto com grande prazer, porque também sou um tagoreano, investiguei sobre a
forma em como Robindronath Tagore, em todas as suas múltiplas facetas, foi
acolhido nos países que têm como oficial a minha língua — que todos conhecemos
como mundo da Lusofonia. O presente estudo, que não é exaustivo, pois há ainda
muito por investigar, é o resultado das minhas pesquisas levadas a cabo nos
últimos meses. Encontrei verdadeiras maravilhas sobre o tema e descobri temas
tagoreanos do maior interesse, nomeadamente em Goa e no Brasil. A língua
portuguesa, conhecida como português, é uma língua românica flexiva, filha do
latim, originada no galego-português falado no Reino da Galiza e no norte de
Portugal. Esta língua é a mais antiga das latinas da Península Ibérica,
começando a ser usada em documentos escritos lá pelo século IX. No século XV
chegou a ter uma literatura muito rica. Os Portugueses com os seus
Descobrimentos levaram-na por todo o mundo, daí a sua presença em países de
todos os continentes. Sendo oficial de uns dez países e bastante falada noutros
territórios, como os indianos de Goa, Damão e Diu, e o chinês Macau. É a oitava
língua mais falada do planeta e a terceira entre as línguas ocidentais, após o
inglês e o castelhano. É usada no dia-a-dia por cerca de 273 milhões de pessoas
nos diferentes países que integram o que se denomina mundo da Lusofonia, no
qual dous grandes países emergentes, como o Brasil na América Latina e Angola
na África, a têm como oficial. Além disso, é também oficial em muitos
organismos internacionais, como a União Europeia, o Mercosul, a Unesco e a OUA.
Em 1996 foi criada a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), que
reúne os países de língua oficial portuguesa com o propósito de aumentar a
cooperação e o intercâmbio cultural entre os Estados-membros e uniformizar e
difundir a língua portuguesa nos quatro continentes em que é falada e usada.
No presente estudo analiso como a grande
figura de Robindronath Tagore, o “Leonardo da Vinci do século XX”, foi acolhida
em cinco países lusófonos: Galiza, Goa, Portugal, Brasil e Angola. Onde houve
numerosas traduções das suas obras, a partir da consecução do Prémio Nobel de
Literatura em 1913. Onde foi muito apreciado por infinidade de escritores e
muitos poetas e educadores. Analisando também o acolhimento que teve em jornais
e publicações periódicas e as homenagens organizadas arredor da sua figura para
comemorar especialmente o centenário do seu nascimento em 1961 e em anos
posteriores. No Brasil ainda hoje continuam a publicar-se em novas edições as
suas obras mais importantes, tendo um grande sucesso. Em menor medida, mas
também, em Portugal.
A linda Terra de Goa:
A 17 de fevereiro de 1510, Afonso de
Albuquerque, ao comando de uma frota portuguesa integrada por 21 navios e uns
mil e seiscentos homens, conquistou para a Coroa de Portugal o território
indiano de Goa. No dia 18 de dezembro de 1961 o exército indiano invadiu o
território, sem nada poderem fazer as poucas forças portuguesas que o defendiam
naquela altura. Passando a ser Goa, com capital em Panjim, um novo estado da
União Indiana, federado com os outros que integram a República da Índia.
Durante 451 anos, esta formosa terra, que banha o Mar Arábico, pertenceu a
Portugal, como uma colónia, e nos últimos tempos com a denominação de província
portuguesa do Ultramar. Hoje é sem dúvida o território indiano mais rico,
melhor organizado e estruturado de todos, com uma riqueza turística enorme. As
pessoas de certa idade ainda conservam viva ali a língua portuguesa, e há
infinidade de vestígios relacionados com a cultura lusófona. Por estar situado
o território de Goa no subcontinente indiano e muito perto da cidade de Bombaim
(hoje de nome oficial Mumbai), para os escritores e intelectuais goeses a
figura de Tagore era já muito conhecida ali desde princípios do século XX, e
mais desde que se lhe concedera o Nobel de Literatura no ano 1913, temas
noticiados com frequência os meios de comunicação social goeses. Traduzido para
português por José F. Ferreira Martins, no ano 1914, publica-se em Nova Goa a
obra Chitra (Chitrangoda), o primeiro livro de Robindronath publicado em
português em terras da Índia. Muitos Goeses formados nas universidades da
metrópole, nomeadamente na mais famosa de Coimbra, foram grandes tagoreanos,
admiravam a sua obra e pensamento e escreveram numerosos interessantes artigos
e livros sobre a sua figura. Exponho a seguir importantes dados sobre o
relacionamento de Tagore com Goa e destacados Goeses, produto das minhas
pesquisas feitas ali nas minhas viagens realizadas de Santiniketon a este
território nos dous últimos anos.
1.-Telo de Mascarenhas (1899-1979),
importante tradutor tagoreano:
Ademais de tagoreanos Goeses notáveis, como
Adeodato Barreto, Propércia Correia e Froilano de Melo, de quem falarei mais
adiante, considero, por muitos motivos, Telo de Mascarenhas, nascido em
Mormugão-Goa, como um dos tagoreanos lusófonos mais importantes do mundo,
comparável a qualquer outro tagoreano doutras nacionalidades e idiomas
mundiais. Especialmente porque, como dominava o idioma bengali (Bangla), levou
a cabo formosas traduções ao português de obras tagoreanas: A Casa e o Mundo
(Ghore Baire), O Naufrágio (Noukadubi), As quatro vozes (Choturongo) e uma
antologia de contos sob o título genérico de A chave do enigma e outros contos.
Em 1943 editou no Porto um interessante estudo titulado Rabindranath Tagore e a
sua mensagem espiritual. No mesmo ano publicou a tradução para português do
livro de Gandhi História da minha vida. Foi um grande admirador e estudioso da
cultura indiana, o que o levou a publicar monografias sobre a mulher hindu, Goa
e a sua terra, o Ramayana e várias antologias de contos indianos. Em 1920
partiu para Portugal onde, na universidade de Coimbra, se formou em Direito.
Por algum tempo exerceu de notário e, juntamente com Adeodato Barreto e José
Paulo Teles, criou em Coimbra o jornal Índia Nova e na sua universidade o
Instituto Indiano, para o que receberam o apoio do próprio Tagore. Em jornais
goeses, como O Heraldo e no Ressurge Goa, criado por ele mesmo, escreveu em
várias ocasiões sobre a figura de Robindronath, dedicando-lhe algum que outro
poema e traduzindo outros do poeta bengali para português. Em 1984 o governo da
Índia dedicou-lhe uma monografia da série “Builders of Modern India” escrita
por Shashikar Kelekar e editada pelas Publications Division-Ministry of
Information and Broadcasting-Government of India, que mostra o reconhecimento
da República Indiana para com o escritor, jornalista, poeta, tradutor e grande
tagoreano Mascarenhas. Pelo seu amor a Goa, à Índia e sua cultura, à obra e
pensamento de Tagore e o apoio que teve sempre para a causa indiana do
território goês, em contra da colonização portuguesa, empenhamento que o levou
ao cárcere de Lisboa onde esteve preso vários meses. No entanto, convém
assinalar que amou e defendeu sempre de forma profunda a língua portuguesa.
Basta ler muitos dos seus poemas e romances e os seus artigos nos diferentes
jornais de Goa. A dada altura, e no nome da Comissão Organizadora do Instituto
Indiano da Universidade de Coimbra, escreveu a Tagore para conseguir para esta
instituição o seu apoio e o envio de livros tagoreanos. No jornal Índia Nova de
7 de maio de 1928 publica-se em tradução portuguesa a carta de resposta de
Robindronath, na qual e o Bengali se alegra da criação do Instituto e anima os
seus dinamizadores, dando também conta do envio de vários dos seus livros para
a biblioteca do mesmo.
2.-Outros importantes tagoreanos:
Nas nossas recentes pesquisas realizadas nas
últimas visitas a Goa e, em concreto, à nova biblioteca da capital Panjim, ao
Instituto Vasco da Gama (hoje com o nome de Menezes Bragança), e às cidades de
Margão e Mapuçá, encontramos documentação muito importante sobre outros
tagoreanos destacados e sobre a presença da figura de Tagore na imprensa goesa,
em boletins, revistas e jornais. Ademais de Telo de Mascarenhas foram
tagoreanos os que a seguir resenho:
a) Adeodato Barreto (1905-1937):
Professor, notário, jornalista e poeta, de
seu nome completo Júlio Francisco António Adeodato Barreto, tinha nascido na
localidade de Margão. Em 1923 partiu para Coimbra, em cuja universidade estudou
as carreiras de Direito, Letras e Ciências Filosóficas. Preocupado com a
educação, diplomou-se também na Escola Normal Superior e, por um tempo, exerceu
de docente em várias instituições educativas, chegando a criar a Universidade
Livre de Coimbra. O labor social e pedagógico que desenvolveu na comarca da
cidade do rio Mondego, a favor da infância, do povo e dos trabalhadores, é
merecedor de um estudo profundo, porque foi exemplar e modelar, seguindo os
princípios do movimento da Escola Nova e as ideias educativas tagoreanas.
Infelizmente morreu muito jovem, sem poder desenvolver mais o seu estupendo
labor. No entanto, escreveu de forma profunda sobre muitos e variados temas e,
juntamente com Telo de Mascarenhas e José Paulo Teles, como já referimos antes,
com o apoio de vários professores da Faculdade de Letras, criou o Instituto
Indiano de Coimbra e, em 1928 o jornal Índia Nova, para promover a civilização
e o humanismo oriental, onde também foram publicados alguns poemas tagoreanos e
estudos sobre a sua figura. Da autoria de Barreto é um amplo estudo sobre a
Civilização hindu (Autodomínio. Tolerância. Humanismo. Síntese), que foi
publicada como livro pela revista Seara Nova de Lisboa no ano 1936. Como tinha
que ser, dedica amplos espaços às figuras de Tagore e Gandhi. Surpreende que é
ainda hoje o dia em que não está publicada a tradução que fez do francês para o
português da biografia Mahatma Gandhi, publicada em 1925 em Paris pelo também
tagoreano Romain Rolland, que com grande agrado pela sua parte autorizou a sua
tradução. E ainda mais, que esteja inédito um estudo descritivo e crítico que
Barreto escreveu em 1929-30 com o título de Ideias pedagógicas de Tagore, sobre
a pedagogia tagoreana, seguido de um ensaio para a aplicação às escolas
portuguesas dos seus princípios fundamentais. Por último, não quero deixar de
assinalar que desde a rua do Rego d´Água, número 3, de Coimbra, no dia 27 de
abril de 1931, Barreto envia uma muito interessante e longa carta manuscrita a
Robindronath. Na mesma, entre outras cousas, solicita autorização para realizar
traduções de obras tagoreanas para o idioma português. Desde Santiniketon, a 18
de abril do mesmo ano responde no nome de Tagore o seu secretário particular
Onil Kumar Chondro. Tenho cópias de ambas as cartas, que se encontram
digitalizadas no museu-biblioteca-arquivo de Robindro-Bhovon de
Visva-Bharoti-Santiniketon (Bengala).
b) Propércia Correia Afonso de Figueiredo
(1882-1944):
Professora e conferencista, nasceu em
Benaulim-Salsete. Foi uma estudante brilhante da Escola Normal de Goa, mestra
de primária e depois, pelos seus méritos, professora desta Escola Normal até o
seu falecimento. Por várias vezes, substituiu o diretor da mesma e o inspetor
de ensino primário. Chegou a ser vogal do Conselho de Instrução e do Conselho
da província ultramarina de Goa. Pronunciou ao longo da sua vida muitas e
interessantes conferências. Foi sócia efetiva do Instituto Vasco da Gama de
Panjim, escrevendo assiduamente para o Boletim desta instituição. Em 1933
publicou um notabilíssimo estudo de mais de duzentas páginas sobre A mulher na
Índia Portuguesa. Os seus estudos pedagógicos sobre a criança e a língua, o
jogo como escola de vida, o folclore na vida da criança, os jardins da
infância, a educação das meninas, a ética dos docentes, a educação para a
solidariedade, a educação familiar e a educação social, ademais de serem muito
inovadores, revelam como foi grande pedagoga e o conhecimento profundo que
tinha das grandes figuras europeias da pedagogia e da psicologia. Por isto, o
seu amplo trabalho “Rabindranath Tagore. O educador!”, publicado em 1942 no
número 51 do Boletim do Instituto Vasco da Gama, é uma verdadeira maravilha, a
patentear o apreço e amplo conhecimento que a educadora tinha por Tagore e pelo
seu modelo educativo. No mesmo vai analisando a profunda vocação de educador
que tinha Robindronath, as ideias educativas tagoreanas sobre a psicologia da
criança, a alma infantil, a importância do papel da mãe, a língua materna, o
valor educativo das artes, a educação social do povo, o mestre na concepção
tagoreana e o valor do ensino para o logro de grandes ideais. Analisa assim
mesmo as instituições educativas tagoreanas da Morada da Paz-Santiniketon e da
Universidade Internacional de Visva-Bharoti (Sabedoria Universal), as suas
atividades e modelos didático-educativos. Tomando como base para o seu estudo a
biografia sobre Robindronath do Português Bento de Jesus Caraça, publicada por
Seara Nova de Lisboa em 1939, analisa o significado das palavras bengalis
“Robi” e “Kobi” (Sol e Poeta) e comenta especialmente vários e lindos poemas
tagoreanos do livro A lua nova (The crescent moon/Sissu), como “o último
contrato”, “a escola das flores”, “a flor da champaca” e “o astrónomo”. Como
tinha que ser, outro dos livros que comenta é o Gitanjali (Oferenda lírica).
c) Froilano de Melo (1887-1955):
De nome completo Indalêcio Froilano Pascoal
de Melo, foi um médico de renome internacional, extraordinário parasitologista,
epidemiologista e grande orador. Nasceu em Benaulim-Salsete e faleceu no
Brasil. Foi um destacado professor da Escola Médica de Goa, a mais importante
da Ásia naquela altura. Desde 1922 foi também professor na Faculdade de
Medicina do Porto. Participou como relator em numerosos congressos médicos
realizados em muitos lugares do mundo. Foi um grande investigador e publicou
infinidade de trabalhos sobre temas relacionados com as suas especialidades
científicas e médicas. Escrita no ano 1944 e publicada posteriormente pelo
jornal O Comércio do Porto, é muito interessante a sua monografia titulada O
cântico da vida na poesia tagoreana. Tema que antes foi uma sua conferência
proferida no dia 4 de fevereiro de 1946 nos locais da Liga Portuguesa de
Profilaxia Social. De maneira muito acertada, com grande sensibilidade,
reveladora do seu apreço pela poesia de Tagore, vai analisando passo a passo,
tomando como base os livros poéticos tagoreanos mais importantes: Gitanjali
(Oferenda lírica), The Gardener (O Jardineiro), Lover´s Gift (Regalo de
amante), Fruit Gathering (A Colheita), The Crescent Moon (A lua nova) e, entre
outros, Stray Birds (Pássaros perdidos), a lírica tagoreana da primeira
infância, o delicioso arrulhar da segunda infância, a lição do adolescente, a
delicada timidez do amor feminino, o velado idílio entre dous, a ética da
maturidade e a canção da morte. Este interessante livro fecha-se com um
glossário muito documentado dos termos tradicionais da cultura indiana
empregados no estudo.
d) Amâncio Gracias (1872-1950):
De nome completo João Baptista Amâncio
Gracias, nasceu em Loutulim, concelho de Salcete-Goa. Foi um historiador e
polígrafo ilustre. Escreveu infinidade de artigos num elevado número de
publicações periódicas goesas. Também morou em Moçambique, Angola e Cabo Verde.
Foi secretário da Imprensa Nacional de Goa, colaborador do jornal O Século de
Lisboa e correspondente da Academia das Ciências de Lisboa, do Instituto de
Coimbra e do instituto Vasco da Gama de Panjim e, por muitos anos, vogal da
Comissão Permanente de Arqueologia de Goa. Entre os seus múltiplos e
interessantes artigos sobre temas dos mais variados, históricos e
bibliográficos, etnográficos e arqueológicos, quero salientar aquele intitulado
“Tagore, político e poeta”. Publicado, também como separata, no Boletim do
Instituto Vasco da Gama, número 51, do ano 1941 (Bastorá-Goa, Tipografia
Rangel), analisa no mesmo duas destacadas facetas de Tagore, a de
sócio-político e a de poeta. Entre outros interessantes aspetos tagoreanos,
refere a pertença de Robindronath ao Brahmo-Samaj, criado pelo Raja Rammohun
Roy a princípios do século XIX. Também, de forma ampla, o grande valor de
Tagore ao renunciar ao título de “Sir” dado pelos britânicos, depois das
famosas matanças de inocentes indianos no ano de 1919 na cidade de Amritsar.
Entre os livros tagoreanos do seu maior interesse no artigo comenta
especialmente as obras Nationalism (Nacionalismo), Gitanjali (Oferenda lírica),
Creative Unity (Unidade Criadora), The Religion of Man (A Religião do Homem) e,
entre os poéticos as Canções vespertinas e matutinas, ademais do Kori o Komol
(Duro e Tenro). É também enormemente interessante a análise que faz da escola
tagoreana de Santiniketon, da universidade internacional de Visva-Bharoti, e de
que por próprio merecimento, como grande mestre de mestres que foi, Tagore é
conhecido na Índia como “Gurudev”, apelativo de uso exclusivo para
Robindronath.
e) Renato de Sá (1908-1981):
Nascido em Panjim-Goa, foi farmacêutico,
literato e jornalista. Estudou na famosa escola Médica de Goa. Colaborou em
numerosos jornais e revistas goeses e portugueses, sobre assuntos literários,
biográficos, crónicas e reportagens. Entre eles o Diário de Lisboa, O Primeiro
de Janeiro do Porto e O Globo do Rio de Janeiro. O seu grande amor por tudo o
que fosse cultura e língua portuguesa levou-o, em 1964, a fundar o Centro de
Cultura Latina na cidade de Panjim. Quatro anos mais tarde, em 1968, criou uma
interessante revista anual com o formoso título de A Harpa Goesa, onde foram
publicados textos tagoreanos e depoimentos sobre a sua figura. Da mesma
publicaram-se catorze números. O último, de dezembro de 1981, é um monográfico
dedicado à memória de Renato de Sá, quem, a 24 de setembro de 1934, envia uma
carta manuscrita a Tagore desde Nova Goa, respondida no dia 30 do mesmo mês pelo
secretário de Robindronath em Santiniketon. Uma nova carta manuscrita, com data
de 21 de dezembro de 1938 é enviada a Tagore por de Sá, em que fala sobre a
grande figura de Gandhi. Com data de 2 de janeiro de 1939 Tagore envia a R. de
Sá uma sua fotografia autografada. Em Robindro-Bhovon existem cópias
digitalizadas destas cartas, das quais tenho fotocópias.
f) Mariano José de Saldanha (1878-1975):
Professor e médico, nasceu em Ucassaim,
concelho de Bardez-Goa. Estudou na Escola Médica goesa e, mais tarde, terminou
os estudos na Escola Colonial de Lisboa e a Licenciatura em sânscrito na
Faculdade de Letras da mesma capital portuguesa. Foi docente dos idiomas marata
e sânscrito no Liceu de Nova Goa de 1915 a 1929, e desde este ano, até 1948,
destacado professor de sânscrito na Faculdade de Letras de Lisboa. Durante dous
anos ensinou também concani, além de sânscrito, na Escola Superior Colonial,
sendo por um tempo, na mesma, subdiretor do Instituto de Línguas Africanas e
Orientais. Foi também sócio do Instituto Vasco da Gama de Panjim. Escreveu
inúmeros de artigos e opúsculos, de temas muito curiosos e variados,
especialmente relacionados com as línguas, a cultura indiana e temas culturais
de Goa. Visitou a escola de Santiniketon tagoreana, de que ficou gratamente
surpreendido. Em 1943, a revista da Faculdade de Letras de Lisboa, no seu tomo
X, com várias e interessantes ilustrações e lâminas, publica o estudo de
Saldanha titulado “O Poeta duma Universidade e a Universidade de um Poeta ou
Rabindranath Tagore e a sua obra literária e pedagógica”. Em 24 páginas,
publicado também como separata, o autor analisa não só a interessante obra
literária de Tagore, mas também a sua grande obra educativa da escola nova de
Santiniketon, com as suas aulas ao ar livre, e a da Universidade Internacional
de Visva-Bharoti, comentando os princípios teóricos e práticos das instituições
educativas tagoreanas. Este estudo muito interessante foi antes uma conferência
proferida por Saldanha em 29 de maio de 1943 na Faculdade de Letras da
Universidade de Lisboa. Ilustrada com projeções luminosas e precedida de uma
invocação em sânscrito por Sudhindro M. Tagore, seguida da canção em bengali
(Bangla) “A lira do universo”, letra e música de R. Tagore, cantada por alunas
do curso de sânscrito, acompanhadas pelo órgão da sala. Foi esta a primeira vez
que se ouviram em Portugal as duas línguas indianas, o antigo sânscrito e o
Bangla, cantadas no 65º aniversário da fundação da cadeira de Sânscrito que
fora inaugurada no mesmo estabelecimento educativo superior pelo saudoso e
douto professor Guilherme de Vasconcelos Abreu.
g) Outros Tagoreanos goeses:
Em Goa, por estar inserida em território
hindustânico, houve outros tagoreanos menores, se os compararmos com os
resenhados antes, mas também merecedores de serem citados neste estudo. Em
primeiro lugar, temos ao professor Ramachondra Naique, que tinha feito uma
conferência sobre Robindronath intitulada «O Gurudeva de Santiniketana», que
veio publicada no jornal Heraldo em 13 de setembro de 1941, seguida no mesmo
diário nos dias 16 e 18 do mesmo mês. Em segundo lugar, está o Padre Altino
Ribeiro Santana (1915-1973), nascido em Pavorim do Socoro e falecido em
Moçambique, que com o título de “O ideal religioso de Tagore” publicou um
curioso depoimento de 5 páginas no Boletim Eclesiástico da Arquidiocese de Goa
no nº 02, Vol. A01, do ano 1942. Outro padre chamado Carmo da Silva, no mesmo
Boletim antes citado, nº 09 e Vol. A05, do ano 1947, publica outro formoso
depoimento de três páginas com o título de “A mensagem de Tagore”. Basílio
Joaquim Francisco Furtado, na Xaverian Printing Press, em 1965, publica uma
biografia de 53 páginas sobre Tagore. Pela sua parte, Sitarama Quercar publica
outra em fevereiro de 1915 na revista Luz do Oriente. Igualmente, uma outra
biografia escrita por Damodar B. Bounsuló, é publicada em 1950 na revista do
Liceu nacional Afonso de Albuquerque. Sob o título de “R. Tagore: Gitanjali uma
visual experiência”, Eugéne d´Vaz da à luz um estudo na Inland Book de Chennai,
em 2005. Áureo de Quadros, em 1996, publica em Panjim uma tradução sua de
Gitanjali para português. José F. Ferreira Martins, de quem já referimos acima
que traduziu para português a obra Chitra em 1914, publicou também em Goa, no
ano seguinte de 1915, Poemas em prosa de Tagore. E José da Conceição Souza
escreve sobre as ideias religiosas de Tagore. Sempre houve um grande interesse
em comparar as ideias cristãs com as próprias ideias religiosas de
Robindronath. Especialmente num território como Goa, onde a religião cristã era
maioritária.
Pelo seu interesse, não quero deixar de citar
que, na localidade nortenha de Goa denominada Mapuçá, existiu com o nome de
“Tagore Academic Association”, uma instituição dedicada a Robindronath. Deste
importante dado inteirei-me em Robindro-Bhovon de Santiniketon, ao encontrar
cópias digitalizadas de duas cartas enviadas a Tagore pelo secretário desta
associação académica, Caxinath Sar Dessay, com datas de 3 de novembro e 7 de
dezembro de 1937. A 22 de novembro do mesmo ano o secretário de Tagore responde
à primeira desde Santiniketon. Temos fotocópias das mesmas e consideramos que é
muito importante continuar no futuro investigando sobre o labor desta academia
tagoreana em Goa.
3.-Tagore na imprensa de Goa:
Na última visita feita por mim a Goa contei
com a inestimável colaboração, para as minhas pesquisas sobre Tagore, da
funcionária da biblioteca de Goa em Panjim, Mª de Lourdes Bravo da Costa
Rodrigues, profundamente lusófona, e que já conhecia de visitas anteriores. Do
historiador e escritor de Panjim Percival Noronha, que mora no bairro de
Fontainhas e também conhecia antes. E dos três que conheci agora, o professor
de Mapuçá Suresh Amonkar, a professora e escritora de Aldona-Bardez Maria
Aurora Couto e o funcionário analista de Curtorim-Salcete Rafael Viegas, filho
do grande jornalista e bibliotecário Álvaro Viegas (1894-1946). Estou muito
agradecido para todos e, em especial, para Viegas, porque me forneceu cópias de
interessantes documentos sobre artigos e textos dedicados a Tagore nos jornais
goeses O Académico e O Ultramar. Deste último era secretário de redação o
próprio pai de Viegas.
Além dos artigos e depoimentos sobre Tagore
publicados nos jornais goeses Heraldo, O Heraldo, Ressurge Goa!, Diário da
Noite e nos Boletins do Instituto Vasco da Gama e Eclesiástico da Arquidiocese
de Goa, a que já aludi ao referir-me aos autores dos mesmos, quero destacar,
pelo seu interesse, os aparecidos em O Académico e O Ultramar, após o
falecimento de Robindronath. O Académico era uma revista bimensal, órgão e
propriedade da União Académica de Nova Goa. No número 4 de maio de 1941
publica-se um editorial, com foto inclusa, dedicado a Tagore, em que se exalça
a sua figura. O número 6 de setembro de 1941 é um número monográfico de 50
páginas de homenagem a Robindronath. Ademais do editorial, em vinte brilhantes
artigos, analisa-se a figura e obra de Tagore, as suas múltiplas facetas de
escritor, educador, filósofo, pensador, poeta, a sua terra bengalesa, a sua
vida e instituições, os seus ideais e o seu labor e pensamento social. Entre
outros, escrevem Ruy Sant´Elmo, Lúcio de Miranda, Pedro Correia, Berta de
Menezes, Soares de Rebelo, Joaquim da Silva, Augusto Cabral, Caxinata Damodar,
Áureo de A. Quadros, António Furtado, Xencora B. Camotim, Datá Caxinata e Jorge
de Ataíde Lobo. Merece ser destacado o artigo titulado “Tagore e os
portugueses”, na página 31, em que escrevem pequenos depoimentos sobre Tagore e
a sua obra eminentes escritores como Júlio Dantas, Agostinho de Campos, E.
Tudela de Castro, Augusto de Casimiro, Ferreira de Castro e Bento de Jesus
Caraça, sendo para mim este último o maior tagoreano português.
O Ultramar era um semanário da localidade de
Margão, fundado em 1859, que passou a bissemanário em 1905 e com o número 5.499
deixou de publicar-se em setembro de 1941. Pouco antes de fechar, com data de
25 de agosto de 1941, poucos dias depois do falecimento de Tagore,
dedicou-se-lhe um número monográfico de homenagem a Robindronath. No mesmo, o
número 5.497 em concreto, resenha-se a homenagem que a Câmara Municipal de
Margão tributou ao vate bengali, fazendo a crónica dos atos realizados e os
intervenientes nos mesmos, recolhendo os textos dos diferentes discursos, que
foram muito lindos e acertados. O juiz comarcão e presidente do ato, Dr.
Siurama Bolvonta Rau pronunciara um discurso acerca da grande personalidade de
Robindronath. O Dr. António Colaço, que tinha nascido em Aldona-Bardez em 1889
e faleceu em Margão em 1983, foi um importante médico, e como jornalista
colaborou, assiduamente, no Heraldo e no A Vida de Margão. Admirava Tagore e
também o tagoreano Froilano de Melo, sobre quem em 1955 publicou uma
monografia. Por isto, o texto da sua intervenção sobre Tagore, na homenagem que
comentamos, é muito formoso. Igual que o do outro interveniente, o professor
Eduardo da Silva. No número 5.498, de 22 de setembro do mesmo ano, o penúltimo
publicado antes de fechar, num artigo da redação, com o título de “A sua
lição”, fala-se outra vez de Tagore.
Reproduzido em O Heraldo de Goa de 14 de
fevereiro de 2011, aparece um artigo titulado “Os dramas de Tagore”, que foi
escrito em 1961 por Paraxurama Quensori. No mesmo fala da profundidade,
sentimentalismo, lirismo e simbolismo do teatro tagoreano. Também da sua
dificuldade para ser representado. Ademais de assinalar a importância que o
teatro tem em Bengala, centra-se especialmente na análise da formosa obra Roktokorobi
(Red Oleanders) de Tagore, na qual Robindronath “apresenta um quadro vivo da
crise da civilização contemporânea do mundo e trata do horrível dilema do homem
moderno nas garras da sociedade aquisitiva e materializada”.
Tampouco se devem esquecer os textos que
sobre a vida e obra de Tagore aparecem publicados periodicamente no jornal goês
O Bharat.” Paz Rodrigues – Galiza in “Portal Galego da
Língua”
José Paz
Rodrigues – Academia Galega de Língua Portuguesa (AGLP), Didata e Pedagogo
Tagoreano
Tagore e Goa: Bibliografia básica:
BARRETO, Adeodato: Ideias pedagógicas de
Tagore. Goa, 1929-30. Inédito.
ID.: Civilização hindu. Lisboa: Seara Nova,
1935. Sobre R. Tagore: Pp. 240-247.
BRAGANÇA, Berta M.: Adeodato Barreto
(1905-1937). Bastorá-Goa: Tip. Rangel. Sepª Bol. Inst. Menezes Bragança nº 96,
1971.
CORREIA AFONSO DE FIGUEIREDO, Propércia:
“Rabindranath Tagore-O Educador!”. Bastorá-Goa: Boletim do Instituto Vasco da
Gama nº 51, ano 1941, Pp. 27-52.
DA COSTA, Aleixo Manuel: Dicionário de
Literatura Goesa (3 volumes). Macau-Lisboa: Instituto Cultural de
Macau-Fundação Oriente, 1997.
DA SILVA, Padre Carmo: “A mensagem de
Tagore”. Goa: Boletim Eclesiástico da Arquidiocese nº 9, 1947, Pp. 287-289.
FURTADO, Basílio J. F.: Rabindranath Tagore.
Goa: Xaverian Print Press, 1965.
GRACIAS, J. B. Amâncio: “Tagore, político e
poeta”. Bastorá-Goa: Boletim do Instituto Vasco da Gama nº 51, ano 1941, Pp.
1-26. (Também editado em separata, pelo mesmo Boletim).
KELEKAR, Shashikar: Telo de Mascarenhas. N. Delhi: Publications Division of India, 1984.
MASCARENHAS, Telo de: Rabindranath Tagore e a
sua mensagem espiritual. Porto: Ed. Oriente,
1943.
ID.:
When the Mango-Trees Blossomed. Quasi-Memoirs. Bombay: Orient Longman, 1976.
MELO, I. Froilano P. de: O Cântico da vida na
poesia tagoreana. Porto: O Comércio, 1946.
ID.: A mulher hindu. Bastorá-Goa: Jaime
Rangel, 1927.
RIBEIRO SANTANA, Altino: “O ideal religioso
de Tagore”. Goa: Boletim Ecl. Arquidiocese nº 2, 1942, Pp. 73-78.
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