Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

sábado, 9 de março de 2013

Cubulazinzis

“O rei Cubulazinzi e a bela esposa do soldado”
 
“O rei Cubulazinzi, homem rico e comandante de um exército, tinha os súbditos a seus pés. Numa visita a uma sanzala, encontrou uma jovem muito atraente, Malila. Mas ela era casada e amava o seu marido e os filhos. Tinha apenas 20 anos e sabia ler os livros que chegavam do reino do Congo. Também escrevia palavras que ninguém conhecia.
 
Cubulazinzi apaixonou-se por Malila. O rei chegou ao ponto de lhe implorar o seu amor, mas ela não acedeu. Foi retardando a sua presença na sanzala na esperança de que aquela bela mulher respondesse às suas súplicas de amor.
 
Depois de muitas recusas o rei Cubulazinzi, furioso com a situação, ameaçou Malila:
 
- Tu vais ser sacrificada se persistires na recusa. Ninguém pode ousar desagradar ao seu rei!
 
Malila, altiva, disse a Cubulazinzi:
 
- Nem por Deus nem pelo rei alguma vez trairei o meu marido.
O rei ficou perturbado com a ousadia da bela Malila e perguntou:
 
- Quem é o teu marido?
 
E Malila respondeu:
 
- É um dos teus soldados!
 
O rei ordenou que o soldado viesse à sua presença. Falou com ele e perguntou-lhe se era capaz de desempenhar uma missão especial para o seu rei e comandante. O pobre soldado disse que faria tudo pelo seu senhor porque foi assim que foi ensinado pelos ancestrais. Cabulazinzi ficou satisfeito com a resposta e depois enviou-o para a frente de combate, onde os seus inimigos estavam a causar derrotas ao seu exército.
 
Alguns dias depois o pobre soldado morreu, atravessado pela lança de um inimigo.
 
O rei Cubulazinzi foi o primeiro a saber da morte do soldado. Nesse instante chamou Malila à sua presença e disse-lhe:
 
- O teu marido morreu em combate. A partir deste momento és a minha amada mulher.
 
A jovem chorou lágrimas amargas pelo seu amado e como já não tinha qualquer desculpa, aceitou ser esposa do rei.
 
Na aldeia havia um sábio que adivinhava o futuro. Um dia foi ter com o rei porque havia um problema grave na aldeia. Um homem muito rico e temido, dono de fundos e mundos, tinha 71 ovelhas. E um homem pobre tinha apenas uma ovelha. O rico resolveu roubar a ovelha ao pobre. Como ele tentou defender a sua propriedade, mandou matá-lo.
 
O rei ouviu a queixa do súbdito e ficou a pensar. Chegou à conclusão de que ninguém deve prejudicar quem mais precisa. Como tinha poderes especiais, todas as suas sentenças eram cumpridas de imediato com a ajuda dos deuses. Naquele momento proferiu uma terrível sentença:
 
- Confisquem toda a sua riqueza a ponto de que a sua dor o atinja até aos ossos. Façam com que este homem se torne pobrezinho e por fim morra.
 
O velho sábio que apresentou a queixa ao rei pediu perdão pela ousadia e disse:
 
- Mas o homem rico de que falei é o rei Cubulazinzi. Foi ele que roubou a única ovelha do seu soldado e o mandou para a morte na frente de batalha!
 
O rei Cubulazinzi naquele instante recordou o episódio da bela Malila e do seu marido, o intrépido soldado. Mas já era tarde porque a maldição o atingiu como um raio. O rei tornou-se paupérrimo e morreu corroído pela dor.
 
Vavává uvanguila vavává úfutila ade vana wela fua. Cá se fazem cá se pagam, as nossas palavras podem ser armas de dois gumes, com um deles apontado para nós. Matam-nos dolorosamente: Lúfua lu mpasi!” Domiana Njila- Angola in “Jornal de Angola”


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