“Muito boa tarde a todos
Saúdo todos os presentes nesta Aula Magna que
é da Universidade e que é da cidade.
Dirijo-vos breves palavras como anfitrião
para dizer a alegria que sinto ao ver esta sala cheia em gesto de homenagem a
um antigo aluno (Álvaro Cunhal) da Universidade de Lisboa e membro do seu
Senado.
A maior distinção que podemos receber é
sempre a vida futura dos nossos estudantes, aquilo que cada um fez com que
aprendeu, aqui na Universidade, aquilo que cada um fez não por si, não para si,
mas pelos outros, pelo bem comum, pelo bem de todos.
Não há nada mais importante que a cultura, é
preciso que ela nos junte em diálogo uns com os outros por uma terra da fraternidade,
por uma terra da humanidade, em cada esquina um amigo, em cada rosto igualdade.
É preciso recordar, é preciso ter memória,
sobretudo nestes tempos de chumbo, de insensatez, de insensibilidade que
estamos a viver, tempos perigosos que anunciam o regresso a um país que Abril
fechou. Como é difícil respirar hoje neste nosso Portugal? Vêm-me à cabeça um
título de um conto breve, de um conto de Irene Lisboa “ Vamos durando vamos
sobrevivendo com uma mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma” e é por isso
que a cultura é tão importante, porque cultura quer dizer, a paz, o pão,
habitação, saúde, educação. Porque cultura quer dizer trabalho, quer dizer uma
vida digna de ser vivida, não há nada mais importante que a cultura, não há
nada mais importante que o conhecimento, é preciso conhecer, é urgente
conhecer, não podemos ignorar, não podemos continuar a remar, a remar, fechados
nos porões de uma qualquer galera, a remar, a remar, sem saber para onde vamos. O conhecimento torna-nos mais atentos, mais
solidários, faz-nos amigos maiores que o pensamento.
Permitam-me uma palavra, uma palavra de
profundo reconhecimento, já aqui dita a um amigo o Prof. Óscar Lopes,
intelectual de liberdade que ontem faleceu. Somos filhos da madrugada, mas não
de uma madrugada qualquer, somos filhos dessa manhã clara que Abril nos trouxe
e não queremos nem podemos apagar a chama que dá vida na noite inteira, que dá
vida à existência inteira. Somos nós os cantores da matinal canção, venha a
maré cheia, maré cheia de uma ideia, de um pensamento, venha a maré cheia e que
a maré traga outro amigo também.
Não há nada mais importante do que a cultura,
do que o conhecimento, não há nada mais importante do que a criação, do que a
arte, a cultura, o conhecimento, a criação, a arte, é isto que nos junta, é
isto que nos une, é isto que faz da Universidade um lugar de vida e da vida um
lugar de futuro.
Tanto mar, tanto mar, recordam-se da canção
de Chico Buarque onde ele nos diz “que ainda guarda um velho cravo, já
murcharam a festa pá! Mas certamente esqueceram-se de uma semente nalgum canto
de um jardim”, procuremos essa semente que há-de estar por aqui, quem espera
nunca alcança. É preciso fazer alguma coisa, antes que alguma coisa se faça
contra nós.
E o futuro? Ainda demora muito tempo? Tudo
depende de nós, tudo depende da nossa vontade, dentro de nós a cidade, dentro
de nós o futuro, por essa estrada amigo vem, a gente ajuda, havemos de ser
mais.” Sampaio da Nóvoa – Portugal
Aceda ao discurso aqui
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