“O que em verdade, em verdade lhe digo, é que
os portugueses (e os galegos da ruralidade da Galiza) deixaram há muito de
recorrer a termos pagãos para designar os dias da semana.
Independentemente da
velha questão ideológica que subjaz nas motivações de Martinho de Dume, é
sempre bom lembrar o papel de Braga na formação da actual identidade cultural
(e linguística) galego-portuguesa, sendo essa a razão que leva muitos galegos
de Ourense a visitarem a paróquia de Dume, às portas de Braga.
Seja como for, a
antiga diocese de Dume acolheu, pelo menos desde finais do século IV, uma
livraria enorme de textos em Grego, relacionados com a Cristandade. Tal facto
fez afluir a Dume clérigos de outras partes da Europa Ocidental, nomeadamente o
marselhês João Cassiano, como o meu prezado amigo saberá melhor do que eu. Essa
afluência de clérigos transformou a referida zona dos arredores de Braga num
dos mais importantes centros difusores de Cultura da Europa Ocidental no
período clássico tardio.
Não foi por acaso que Martinho da Panónia foi parar a
Dume, apesar de ter vindo de tão longe. Há até boas razões para se dizer que não
foi Martinho que fez Dume, mas que foi Dume que fez... Martinho. Bem ou mal,
Dume e Braga contribuíram para a nossa identidade cultural e é isso que hoje
pesa neste esforço para a reintegração do idioma galego no sistema linguístico
luso-brasileiro-africano, com todo o caldeamento de culturas que se entrecruzaram
na nossa história comum, em especial com o fluxo cultural céltico, esse vento
muito pneumático que soprou do norte dos Alpes.” Pedro Leitão – Portugal in “Portal Galego da Língua”
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