Falta de planejamento
Foi preciso que o
estágio de saturação em que se encontram as vias de acesso ao Porto de Santos
alcançasse níveis insuportáveis para que as autoridades chegassem a um consenso
e, finalmente, o Serviço de Patrimônio da União (SPU), órgão do Ministério do Planejamento,
liberasse um terreno com cerca de 250 mil metros quadrados para a construção de
um pátio regulador de caminhões no bairro da Alemoa, junto ao cais.
É de lembrar que, desde 2010, a Companhia Docas do Estado
de São Paulo (Codesp) pretendia utilizar a área, mas a medida vinha sendo
protelada e, certamente, não teria sido tomada se a ameaça de caos não tivesse
se concretizado. E muito menos se não tivesse sido nomeada para a chefia do SPU
a ex-vereadora santista Cassandra Nunes que, conhecendo de sobejo o problema
decorrente do tráfego intenso de carretas na região, empenhou-se em apressar a
cessão do terreno. Obviamente, o pátio de caminhões não irá resolver por
completo a questão do escoamento de cargas, ainda que possa amenizá-la, já que
a tendência é que o problema venha a se agravar porque, passada a atual safra
de soja, virão a de milho e a de açúcar.
O resultado da falta de planejamento está à vista de
todos: em função do apagão que toma conta do Porto de Santos a estatal
chinesa Chinatex já anunciou a suspensão parcial da compra de grãos do País.
Justifica-se: a empresa asiática já deveria ter recebido 13,5 milhões de
toneladas, mas até agora só recebeu 3,5 milhões. Como se sabe, em comércio
exterior, é fundamental cumprir prazos e, quando isso não acontece, os
prejuízos são incalculáveis porque a quebra de confiança se reflete nos
negócios futuros.
O pior é que, nas atuais circunstâncias, não há muito que
fazer, a não ser contar os prejuízos e atribuir ao imponderável, ou seja, ao
clima instável, a responsabilidade pelo black out, como tem feito o
governo federal. Até porque ninguém vai admitir que o programa de concessão de
rodovias e ferrovias e a Medida Provisória 595/2012, que estabelece um novo
marco regulatório para o setor portuário e abre espaços para investimentos
privados, vieram muito tarde, já na metade do governo Dilma Rousseff, quando
deveriam ter sido anunciados e implementados no governo anterior.
Para complicar, a MP 595 sequer foi aprovada e ainda é alvo de contestação por parte dos trabalhadores portuários. Ora, com esse clima
de insegurança jurídica, os investimentos privados continuarão apenas na
promessa. Em outras palavras: se não houver flexibilidade do regime de
terminais de uso privativo, com a não exigência de carga própria, os recursos
privados migrarão para outros setores e tão cedo não haverá melhorias na
infraestrutura portuária.
Diante disso, só resta esperar que não ocorram no Polo
Industrial acidentes, como o vazamento de produto químico em alguma fábrica, porque,
nesse caso, haverá pânico e conseqüências inimagináveis, em razão do
congestionamento da rodovia Cônego Domênico Rangoni e do sistema
Anchieta-Imigrantes que, em certas horas do dia, faz paralisar completamente o
trânsito no centro da cidade de Cubatão. Mauro
Dias - Brasil
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Mauro
Lourenço Dias, engenheiro eletrônico, é vice-presidente da Fiorde Logística
Internacional, de São Paulo-SP, e professor de pós-graduação em Transportes e
Logística no Departamento de Engenharia Civil da Universidade Estadual de
Campinas (Unicamp). E-mail: fiorde@fiorde.com.br Site: www.fiorde.com.br
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