SÃO PAULO – Depois de quase cinco anos de negociações, União Europeia
(UE) e Japão acabam de assinar um amplo acordo comercial, que elimina quase
todas as tarifas sobre os produtos que comercializam. Esse acordo é também uma
resposta às ações do governo norte-americano, que elevou as tarifas sobre os
bens importados de vários parceiros comerciais. Espera-se agora que esse mesmo motivo leve a UE a concluir
pela necessidade de uma ação política que favoreça a assinatura de acordo
semelhante com o Mercosul, que vem sendo negociado há quase 20 anos.
Para favorecer esse entendimento, há também a guerra comercial entre EUA
e China, que pode beneficiar o acordo entre Mercosul e UE, pois essa parceria
seria estratégica para o bloco europeu. Além disso, o Mercosul fez uma nova
proposta à UE, ao sugerir uma cota de importação de 60 mil veículos anuais,
sendo que nos primeiros sete a oito anos o imposto de importação teria uma
margem de preferência de 50%, caindo assim dos 35% atuais para 17,5%. Cumprido aquele
prazo, o imposto de importação seria reduzido gradativamente até zero, quando
se completassem os 15 anos para o início do livre comércio entre as regiões.
A proposta do Mercosul também prevê o livre comércio de carros elétricos
e híbridos, que não são produzidos na América do Sul. Em contrapartida, o
Mercosul espera que o setor agrícola europeu não continue a levantar os
obstáculos que têm dificultado sobremaneira o acordo entre os dois blocos. Essa
abertura do Mercosul em busca de um acordo dá-se porque houve mudança na agenda
de comércio exterior brasileira, que passou a incluir a negociação de acordos
essenciais para a inserção do País no comércio internacional. Ao mesmo tempo, o
governo argentino, o outro grande parceiro do Mercosul, também mudou sua
política de comércio exterior e tem pressa em fechar esse acordo com a UE.
Esse movimento de abertura, obviamente, será benéfico para os dois países,
na medida em que permitirá às empresas sul-americanas o acesso a novos
mercados, além de fomentar a competição interna e contribuir para integrar as duas
economias nas cadeias internacionais. Talvez seja o caso de o Mercosul seguir
os passos da UE e tentar também um acordo com o Japão, que tem um mercado
superior a 120 milhões de consumidores.
É de se lembrar que o acordo da UE com o Japão remove as tarifas de 10%
do bloco europeu sobre carros japoneses e de 3% na maioria das autopeças. E
ainda elimina os impostos japoneses de cerca de 30% ou mais sobre o queijo da
UE e de 15% sobre os vinhos, além de garantir acesso a grandes licitações
públicas no Japão.
Por fim, o acerto elimina quase 99% das tarifas sobre os bens japoneses
comercializados para a UE e cerca de 94% das tarifas sobre as exportações da
Europa para o Japão. O setor de alimentos da Europa foi amplamente beneficiado pelo
tratado, que deve permitir o crescimento da demanda japonesa por queijos,
chocolates, carnes e massas de alta qualidade. Em compensação, os fabricantes
japoneses de carros e autopeças esperam aumentar suas vendas na Europa.
Em outras palavras: é preciso encontrar compensações que levem o setor
de alimentos europeu a deixar de constituir o maior obstáculo para o acordo
Mercosul-UE, como tem sido até agora. Milton
Lourenço - Brasil
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Milton Lourenço é
presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos
Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo
(Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de
Cargas e Logística (ACTC). E-mail: fiorde@fiorde.com.br. Site: www.fiorde.com.br
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