Hortêncio
Cassemene venceu um prémio de Melhor Escritor Estrangeiro na China com o livro
“The Foreigner”. Uma obra que o angolano descreve como “um guia de adaptação à
China”, pensado para ajudar os estudantes internacionais, mas não só, a
ultrapassar o choque cultural
Hortêncio Cassemene venceu em
maio passado o concurso de Melhor Escritor Estrangeiro na China, atribuído pela
Elevare – uma empresa que procura ajudar estudantes internacionais no país -,
com o livro “The Foreigner – Adapting to
a New Environment”. O angolano, que chegou à China em 2013, admite ao Plataforma
que levou dois ou três anos para se sentir “confortável por cá”.
A obra reúne entrevistas a 42
pessoas de 26 países que falam sobre os “muitos desafios em termos de adaptação
psicológica, social e também académica”, explica o escritor. O objetivo é
ajudar outros estudantes internacionais. “Se alguém com mais experiência me
tivesse dado dicas, imagino que a minha jornada na China teria sido mais leve”,
afirma o angolano. Ainda assim, o escritor rejeita generalizações sobre racismo
e choque cultural, defendendo que “a maioria dos problemas advém de
dificuldades de comunicação ou de um complexo de inferioridade”.
A obra “The Foreigner” aconselha os estrangeiros não apenas a aprender
mandarim, mas sobretudo a “manter uma mente aberta” para saber mais sobre a
cultura, a história e o modo de vida do povo chinês, explica Hortêncio
Cassemene. “As pessoas às vezes assustam-se quando vêm um negro, não querem
sentar-se ao teu lado no autocarro. Uma pessoa acaba tendo dias frustrantes e
pensando que os chineses te odeiam”, admite o angolano. Com o tempo, o escritor
começou “a acreditar que não era racismo, era curiosidade”.
Desconhecimento
mútuo
Hortêncio Cassemene lamenta
que haja ainda um enorme desconhecimento mútuo entre a China e África. “Muitos
chineses fazem perguntas que às vezes parecem de uma criança. Não sabem que
África é um continente e não um país. Perguntam se comemos bichos ou insetos,
se vivemos em árvores no meio da floresta”, sublinha.
O escritor lamenta que, apesar
da presença significativa de chineses em Angola, a imagem do povo para os
angolanos também não vá muito além dos estereótipos. “Temos essa perceção da
China do kung fu”, diz o escritor, “e não acreditam quando lhes digo que nem
todos os chineses sabem lutar como o Jackie Chan (famoso ator de artes marciais
de Hong Kong)”.
Após terminar o curso de
Engenharia de Segurança da Informação na Universidade de Telecomunicações e
Correios de Chongqing, Hortêncio Cassemene voltou a Angola no mês passado. Uma
das primeiras tarefas que tem em mãos é traduzir “The Foreigner” para português. “Não só para aqueles que pretendem
ir para a China, mas também para as pessoas que estão aqui em Angola e curiosas
por saber como é o estilo de vida na China”, explica.
Um relatório divulgado em
junho passado pelo Centre for China and Globalisation revela que já há cerca de
um milhão de imigrantes e estudantes vindos do exterior a viver na China
continental. “Só agora os chineses começaram a perceber a utilidade deste
livro, porque no princípio achavam que era um livro só para estrangeiros”, diz.
“Há cada vez mais chineses com vontade de perceber o que é que os estrangeiros
pensam da China.” Vítor Quintã – Macau in “Plataforma”
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