O grupo de cante alentejano
Rancho de Cantadores de Paris vai fazer uma viagem a Serpa, de 28 de agosto a
11 de setembro, para gravar “o primeiro disco franco-português de cante
alentejano”.
Em Serpa, no distrito de Beja,
o grupo de sete parisienses vai “conviver com os grupos e trocar experiências e
formas de cantar diferentes”, e vai fazer gravações com 17 grupos, explicou à
Lusa o único português do Rancho de Cantadores de Paris, Carlos Balbino.
“Este é o primeiro CD
franco-português ou luso-francês de cante alentejano, porque nós somos um grupo
de Paris e eu sou o único português no grupo. Somos o primeiro grupo
estrangeiro de cante alentejano que vai fazer um CD. Para nós é uma grande alegria,
mas temos a noção que, para o cante alentejano, é um grande passo”, sublinhou
Carlos Balbino, também ensaiador do grupo.
O objetivo é lançar o disco em
2019, com uma editora francesa, procurando ser um álbum de cante alentejano “o
mais fiel possível ao cante tradicional contemporâneo”, ainda que haja “alguns
grupos convidados que começam a ter já uma nova interpretação do cante
alentejano”.
“No CD, tentaremos fazer a
representação do cante alentejano atual. Por isso, nos convidados, haverá
artistas individuais que contribuíram muito para o cante, como grupos de
mulheres, homens, mistos, e de crianças, e ainda grupos instrumentais. Ou seja,
o cante alentejano em todas as suas vertentes”, vincou.
As gravações vão acontecer no Musibéria,
centro internacional de músicas e danças de raiz ibérica, e vai haver um
repertório “muito vasto e muito heterogéneo”, em que foram escolhidas “modas
que fazem parte do património de cada grupo coral, e que estão ligadas à forma
de cantar de cada região”.
“Já há CD de cante alentejano,
já há documentação sonora muito, muito boa. A nossa ideia é tentar fazer uma
coisa diferente, unir todos os grupos de cante alentejano que nos inspiraram, e
termos a nossa participação em cada moda para termos o nosso toquezinho”,
descreveu.
Na prática, as músicas vão ter
“partes de ‘solo’ que vão ser cantadas pelos membros dos Cantadores de Paris, e
outras que vão ser cantadas pelos grupos convidados e, na parte coral, vai
cantar toda a gente”.
Quanto aos sotaques
estrangeiros, Carlos Balbino adiantou que quase “não se percebe que são
estrangeiros”, porque “houve um grande trabalho de pronunciação” ao longo do
ano, que começou com a aprendizagem das letras em português, acompanhada pela
tradução em francês, e depois “eles também cantam por instinto”.
Escola
de Cante Alentejano em Paris
O Rancho de Cantadores de
Paris nasceu em Paris, em 2016, com a criação de uma peça de teatro, ‘La
Dernière Corrida’ (‘A Última Tourada’), da companhia Rêves Lucides, na qual
Carlos Balbino levou ao palco o cante alentejano e o tema dos forcados nas
touradas à portuguesa.
Esta “trupe de teatro
contemporâneo, pluridisciplinar”, já tinha feito um primeiro espetáculo,
“L’Architecte des Rêves”, em 2013, na qual Carlos Balbino recorria ao canto
polifónico russo, numa peça sobre a sociedade russa durante a construção dos
Jogos Olímpicos de Inverno.
Entretanto, o ator e encenador
português criou, em Paris, a primeira escola de cante alentejano no
estrangeiro, que ensaia numa associação do 19.° bairro da capital, L’Espace 19,
e que tem alunos de diferentes nacionalidades.
O Rancho de Cantadores de
Paris foi retratado no documentário ‘Os Cantadores de Paris’, do realizador
Tiago Pereira, que se estreou no DocLisboa, no ano passado, e que conta com
atuações improvisadas em locais emblemáticos de Paris e em Serpa.
Carlos Balbino, de 30 anos,
estudou teatro na Escola Profissional de Teatro de Cascais, na Worcester
College of Technology, em Worcester, na East 15 Acting School, em Londres, e na
École Internationale de Théâtre de Jacques Lecoq, em Paris.
Desde 2011, o português vive
na capital francesa, onde vai fazer um mestrado em etnomusicologia e uma tese
sobre cante alentejano.
O cante alentejano foi
classificado como Património Cultural Imaterial da Humanidade, pela UNESCO, a
27 de novembro de 2014, graças a uma candidatura apresentada pela Câmara de
Serpa e pela Entidade Regional de Turismo do Alentejo e Ribatejo. In “Mundo
Português” - Portugal
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