"Nova
espécie de sapo pigmeu encontrada em Angola - uma bizarria da natureza que está
a deixar os cientistas perplexos"
"As
décadas de guerra que atravessaram a história recente de Angola produziram
quase em exclusivo sofrimento e miséria, mas há um cantinho dessa mesma
história para encaixar as coisas que, em muitos casos, provavelmente, só ainda
existem por causa dos conflitos que subsistiram até 2002. E qui se relata um
desses exemplos."
É uma criatura anfíbia
pequenina, mesmo muito pequenina, que deixou o mundo da ciência em sentido para
ouvir do que se tratava.
Não é já novidade que Angola é
um dos países em África que mais interesse desperta no seio da comunidade
científica que se dedica ao estudo da biodiversidade e à procura por novas
espécies, algumas delas que se pensava estarem extintas, como foi o caso da
rara palanca negra gigante, entre tantas outras.
Como a National Geographic
Society revelou no início deste ano, depois de concluir, ao fim de quase três
anos de investigação no terreno, entre 2015 e 2017, foram encontradas, no
sudeste do país, englobado ainda faixas de território da Namíbia e do Botsuana,
mais de mil espécies de aves, mamíferos e repteis, incluindo 24 novas para a ciência
e, algumas delas, encontradas em zonas que só ficaram intocáveis devido à
guerra, permitindo a algumas espécies animais, mas também plantas, sobreviver
até aos dias de hoje quando desapareceram de outros locais no mundo.
Mas antes, tinha sido divulgada
a descoberta, no Kwanza Sul, de um primata novo para a ciência, que, a par
daquele que agora, segundo o sítio Science Daily, é a última das descobertas
angolanas - o tal anfíbio que deixou o universo científico à escuta e atento
para ouvir novidades -, podem ser os mais importantes tesouros da
biodiversidade angolana.
Quando o encontraram, os
investigadores perceberam que era da família das jágaras (Galago), um primata
relativamente comum na África subsaariana e abundante nas florestas austrais do
continente, mas depois deram conta que estavam perante uma nova espécie.
À semelhança dos seus
parentes, esta espécie anã de jágara, tem olhos grandes esbugalhados, comuns em
animais nocturnos e comunica com um estridente chamamento seguido de estalidos,
como explicou na altura a New Cientist no seu sítio.
Mas se esta descoberta foi um
feito notável para a vida selvagem, pode durar pouco porque os investigadores
que descobriram o animal, deram também de caras com o rápido desaparecimento do
seu habitat, o que coloca em risco o futuro desta espécie.
A descoberta, feita por
investigadores da Oxford Brookes University, do Reino Unido, foi colocada no
ramo familiar das jágaras, em primeira instância, porque a forma como comunicam
entre si é muito semelhante aos restantes ramos da família sobejamente
conhecidos.
A grande diferença é o seu
tamanho, três vezes maior que os até agora conhecidos, o que, segundo Magdalena
Svensson, da equipa que fez a descoberta, citada, no ano passado, pela New
Cientist, coloca algumas dúvidas na sua classificação, porque tende a sair dos
requisitos para a lista das jágaras anãs.
Os investigadores observaram
em Angola 36 indivíduos, mas ainda se sabe muito pouco sobre os seus hábitos
alimentares ou sociais.
O que se sabe de forma muito
clara, apontou Magdalena Svensson é que o habitat deste primata está a
desaparecer rapidamente devido ao desmatamento e à desflorestação provocados
pelos madeireiros e pela apanha de lenha para usar como combustível directo ou
na forma de carvão.
O
pequeno sapo que só existe no sul de Angola
A última novidade da
biodiversidade angolana, agora revelada, segundo o site da Science Daily, é um
sapo pigmeu que viveu até hoje escondido do mundo nas montanhas do Namibe, num
pico isolado na Serra da Neve.
Este pequeno anfíbio vive em
zonas ligeiramente húmidas, debaixo de pedras e folhagens, e distingue-se dos
"primos" de todo o mundo por causa da ausência de ouvidos.
Foi descoberto por uma equipa
internacional de cientistas e investigadores em 2016 naquele que é um dos picos
montanhosos mais altos de Angola, a mais de 1 500 metros de altitude, tendo a
particularidade de estar geograficamente isolado de outros motes e picos.
E é, por isso, o
"berço" ideal para procurar novas espécies porque permitem que
algumas evoluam em sentidos diferentes e com particularidades que, por vezes,
confundem a ciência, como é o caso deste sapo pigmeu que os seus descobridores
baptizaram com o nome científico de Poyntonophrynus pachnodes.
Na composição da equipa de
investigadores, estão cientistas do Instituto Nacional da Biodiversidade e
Áreas de Conservação (Angola), Universidade Villanova e do Museu de História
Natural da Florida (EUA), do Museu
Nacional de Historia Natural e da Ciência e do Centro de Estudos em
Biodiversidade e Recursos Genéticos (Portugal), tendo sido o estudo publicado
no jornal ZooKeys.
Depois do trabalho no terreno,
os investigadores procederam a diversos testes, genéticos e outros, aos
anfíbios e repteis encontrados para determinar laços familiares com outros
existentes no mundo conhecido, tendo sido através de uma técnica de tomografia
computorizada de alta resolução que foi provada a ausência de ouvidos neste
sapo pigmeu.
E foi essa particularidade -
não possui ouvido interno e externo - que permitiu distinguir esta de outras
espécies de sapos pigmeus, tendo ainda sido determinado que evoluiu de outra
espécie com ouvidos completamente formados.
Com esta descoberta, sobe para
cinco o número de espécies de sapos pigmeus, sendo que esta, o Poyntonophrynus
pachnodes, com apenas 31 mm de comprimento, é a única sem ouvidos entre os que
foram já identificados nesta região africana composta pelo sudoeste de Angola e
noroeste da Namíbia, alinhando, todavia, com os seus "primos" locais
no gosto por locais, ao contrário dos que existem no resto do mundo, mais
áridos que o normal, o que os aproxima das preferências típicas dos lagartos.
Uma das conclusões imediatas
deste estudo e desta descoberta é que as denominadas ilhas-montanha, como é o
pico onde o Poyntonophrynus pachnodes foi encontrado, devem merecer especiais
cuidados no que toca à preservação da biodiversidade, porque, devido às suas
características geográficas - isolamento - são locais especiais no que diz
respeito à evolução das espécies.
Para além da constituição
física deste sapo pigmeu exclusivamente angolano, há uma dúvida que está a
deixar os cientistas intrigados: como é que ele faz para conseguir encontrar
parceiros para se reproduzirem?
Isto, porque se sabe que a
totalidade dos outros sapos com ouvidos encontram os parceiros sexuais através
de um chamamento sonoro e estes, por uma qualquer bizarria evolutiva, conseguem
fazê-lo sem ouvidos. Ricardo Bordalo –
Angola in “Novo Jornal”
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