Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

terça-feira, 14 de agosto de 2018

Angola - Nova espécie de sapo pigmeu

"Nova espécie de sapo pigmeu encontrada em Angola - uma bizarria da natureza que está a deixar os cientistas perplexos"

"As décadas de guerra que atravessaram a história recente de Angola produziram quase em exclusivo sofrimento e miséria, mas há um cantinho dessa mesma história para encaixar as coisas que, em muitos casos, provavelmente, só ainda existem por causa dos conflitos que subsistiram até 2002. E qui se relata um desses exemplos."



É uma criatura anfíbia pequenina, mesmo muito pequenina, que deixou o mundo da ciência em sentido para ouvir do que se tratava.

Não é já novidade que Angola é um dos países em África que mais interesse desperta no seio da comunidade científica que se dedica ao estudo da biodiversidade e à procura por novas espécies, algumas delas que se pensava estarem extintas, como foi o caso da rara palanca negra gigante, entre tantas outras.

Como a National Geographic Society revelou no início deste ano, depois de concluir, ao fim de quase três anos de investigação no terreno, entre 2015 e 2017, foram encontradas, no sudeste do país, englobado ainda faixas de território da Namíbia e do Botsuana, mais de mil espécies de aves, mamíferos e repteis, incluindo 24 novas para a ciência e, algumas delas, encontradas em zonas que só ficaram intocáveis devido à guerra, permitindo a algumas espécies animais, mas também plantas, sobreviver até aos dias de hoje quando desapareceram de outros locais no mundo.

Mas antes, tinha sido divulgada a descoberta, no Kwanza Sul, de um primata novo para a ciência, que, a par daquele que agora, segundo o sítio Science Daily, é a última das descobertas angolanas - o tal anfíbio que deixou o universo científico à escuta e atento para ouvir novidades -, podem ser os mais importantes tesouros da biodiversidade angolana.

Quando o encontraram, os investigadores perceberam que era da família das jágaras (Galago), um primata relativamente comum na África subsaariana e abundante nas florestas austrais do continente, mas depois deram conta que estavam perante uma nova espécie.

À semelhança dos seus parentes, esta espécie anã de jágara, tem olhos grandes esbugalhados, comuns em animais nocturnos e comunica com um estridente chamamento seguido de estalidos, como explicou na altura a New Cientist no seu sítio.

Mas se esta descoberta foi um feito notável para a vida selvagem, pode durar pouco porque os investigadores que descobriram o animal, deram também de caras com o rápido desaparecimento do seu habitat, o que coloca em risco o futuro desta espécie.

A descoberta, feita por investigadores da Oxford Brookes University, do Reino Unido, foi colocada no ramo familiar das jágaras, em primeira instância, porque a forma como comunicam entre si é muito semelhante aos restantes ramos da família sobejamente conhecidos.

A grande diferença é o seu tamanho, três vezes maior que os até agora conhecidos, o que, segundo Magdalena Svensson, da equipa que fez a descoberta, citada, no ano passado, pela New Cientist, coloca algumas dúvidas na sua classificação, porque tende a sair dos requisitos para a lista das jágaras anãs.

Os investigadores observaram em Angola 36 indivíduos, mas ainda se sabe muito pouco sobre os seus hábitos alimentares ou sociais.

O que se sabe de forma muito clara, apontou Magdalena Svensson é que o habitat deste primata está a desaparecer rapidamente devido ao desmatamento e à desflorestação provocados pelos madeireiros e pela apanha de lenha para usar como combustível directo ou na forma de carvão.

O pequeno sapo que só existe no sul de Angola

A última novidade da biodiversidade angolana, agora revelada, segundo o site da Science Daily, é um sapo pigmeu que viveu até hoje escondido do mundo nas montanhas do Namibe, num pico isolado na Serra da Neve.

Este pequeno anfíbio vive em zonas ligeiramente húmidas, debaixo de pedras e folhagens, e distingue-se dos "primos" de todo o mundo por causa da ausência de ouvidos.

Foi descoberto por uma equipa internacional de cientistas e investigadores em 2016 naquele que é um dos picos montanhosos mais altos de Angola, a mais de 1 500 metros de altitude, tendo a particularidade de estar geograficamente isolado de outros motes e picos.

E é, por isso, o "berço" ideal para procurar novas espécies porque permitem que algumas evoluam em sentidos diferentes e com particularidades que, por vezes, confundem a ciência, como é o caso deste sapo pigmeu que os seus descobridores baptizaram com o nome científico de Poyntonophrynus pachnodes.

Na composição da equipa de investigadores, estão cientistas do Instituto Nacional da Biodiversidade e Áreas de Conservação (Angola), Universidade Villanova e do Museu de História Natural da Florida (EUA), do  Museu Nacional de Historia Natural e da Ciência e do Centro de Estudos em Biodiversidade e Recursos Genéticos (Portugal), tendo sido o estudo publicado no jornal ZooKeys.

Depois do trabalho no terreno, os investigadores procederam a diversos testes, genéticos e outros, aos anfíbios e repteis encontrados para determinar laços familiares com outros existentes no mundo conhecido, tendo sido através de uma técnica de tomografia computorizada de alta resolução que foi provada a ausência de ouvidos neste sapo pigmeu.

E foi essa particularidade - não possui ouvido interno e externo - que permitiu distinguir esta de outras espécies de sapos pigmeus, tendo ainda sido determinado que evoluiu de outra espécie com ouvidos completamente formados.

Com esta descoberta, sobe para cinco o número de espécies de sapos pigmeus, sendo que esta, o Poyntonophrynus pachnodes, com apenas 31 mm de comprimento, é a única sem ouvidos entre os que foram já identificados nesta região africana composta pelo sudoeste de Angola e noroeste da Namíbia, alinhando, todavia, com os seus "primos" locais no gosto por locais, ao contrário dos que existem no resto do mundo, mais áridos que o normal, o que os aproxima das preferências típicas dos lagartos.

Uma das conclusões imediatas deste estudo e desta descoberta é que as denominadas ilhas-montanha, como é o pico onde o Poyntonophrynus pachnodes foi encontrado, devem merecer especiais cuidados no que toca à preservação da biodiversidade, porque, devido às suas características geográficas - isolamento - são locais especiais no que diz respeito à evolução das espécies.

Para além da constituição física deste sapo pigmeu exclusivamente angolano, há uma dúvida que está a deixar os cientistas intrigados: como é que ele faz para conseguir encontrar parceiros para se reproduzirem?

Isto, porque se sabe que a totalidade dos outros sapos com ouvidos encontram os parceiros sexuais através de um chamamento sonoro e estes, por uma qualquer bizarria evolutiva, conseguem fazê-lo sem ouvidos. Ricardo Bordalo – Angola in “Novo Jornal”

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