SÃO PAULO – Dados da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB)
mostram que as exportações de produtos manufaturados dos últimos três anos são
menores do que aquelas que o País registrou em 2007. Naquele ano, foram
exportados US$ 83,9 bilhões, ao passo que em 2017 as vendas chegaram a US$ 80,2
bilhões, em 2016 a US$ 73,9 bilhões e em 2015 a US$ 72,8 bilhões. O pior é que não
há esperança de que esse quadro irá se alterar em 2018, mesmo porque o volume
de negócios até o meio do ano caiu 33,3%, sinalizando uma tendência que pode
resultar em declínio da atividade industrial e maior capacidade ociosa.
Como se recorda, esse declínio começou em função da crise econômica que
começou em 2008 nos EUA, sintomaticamente depois que o governo brasileiro da
época, com o apoio da Argentina, bateu de frente com o governo norte-americano
nas negociações para a formação da Área de Livre-Comércio das Américas (Alca),
passando a dar prioridade a um hipotético eixo de poder chamado Sul-Sul, ao
lado de Índia e África do Sul, que em termos práticos poucos resultados ofereceu.
Se a Alca estivesse em vigência, provavelmente, as vendas para o mercado
norte-americano continuariam em ascensão, apesar da concorrência chinesa, pois
contariam com vantagens-extras como benefícios fiscais. Como exemplo, pode-se
citar o México, que hoje destina para os EUA 80% de suas exportações,
favorecido pelo Tratado de Livre-Comércio da América do Norte (Nafta), também
integrado pelo Canadá. É de se ressaltar que 90% das vendas do México para o
exterior são de produtos industrializados.
Já o Brasil, uma década depois, embora seja a oitava economia mundial,
continua estacionado na 25ª colocação no ranking mundial, com uma participação
no comércio do planeta que pouco ultrapassa 1%. Em função disso, embora tenha
apresentado superávits em sua balança comercial, o País vem perdendo mercado
para seus produtos industrializados, inclusive na Argentina, que
tradicionalmente sempre foi o principal comprador de produtos manufaturados
brasileiros. Dessa maneira, tornou-se basicamente um exportador de commodities, cujos preços são balizados
por cotações do mercado internacional, além de não contarem com nenhum valor
agregado e produzirem poucos empregos.
Para piorar, está prevista para 2018/2019 uma queda nos preços
internacionais das commodities, o que
deverá agravar ainda mais o cenário. Até julho, o superávit comercial
acumulado, por exemplo, ficou em torno de US$ 33,9 bilhões, registrando uma queda
de 16% em relação ao mesmo período de 2017.
Reverter esse quadro de desindustrialização não será fácil porque, ainda
que o País, por intermédio do Mercosul, venha a assinar acordos comerciais com
a União Europeia e com a Aliança do Pacífico, a questão fundamental é o chamado
custo Brasil, ou seja, aqueles fatores internos que impedem o produto
manufaturado de competir internacionalmente. Milton Lourenço - Brasil
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Milton Lourenço é presidente da Fiorde Logística Internacional e
diretor do Sindicato dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e
Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e da Associação Nacional dos
Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística (ACTC). E-mail:
fiorde@fiorde.com.br. Site: www.fiorde.com.br
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