A
árvore da vida ou o símbolo de África mais facilmente reconhecido em todo o
mundo, o embondeiro, está a morrer um pouco por todo o continente, alguns ao
fim de quase 3 mil anos, naquilo que pode ser um dos mais sérios avisos para o
mal que a espécie humana está a fazer ao planeta
Os investigadores andam com a
cabeça à roda para perceber o que está a matar a árvore da vida, havendo,
apenas enquanto possibilidade, algumas teses e, entre estas, a seca aparece
como uma das mais fortes, mas também outras relacionadas com as alterações climáticas,
como a mudança de temperaturas, sejam cacimbos e épocas de chuva mais longos ou
mais quentes, mais chuvosos ou mais frios... mas também pode ser de tristeza.
Dizem as sociedades mais
antigas no continente que o embondeiro tem alma, está na origem do mundo e
demonstram a sua tristeza pelo caminhar da humanidade, definhando, mas os
cientistas acham que as causas são menos poéticas, são, na verdade consequência
do comportamento da humanidade que não consegue travar a marcha da poluição
provocada por sociedades e economias alicerçadas nos combustíveis fósseis, como
o petróleo, o gás ou o carvão.
Por exemplo, na África
Austral, essas alterações são já evidentes há vários anos, com os fenómenos El
Nino ou La Nina, que partem da descida ou subida da temperatura da água do mar
no Oceano Pacífico, o que gera correntes de ar e no mar com severas
consequências na pluviosidade, estando por detrás de uma das mais graves secas
em décadas nesta sub-região do continente, com implicações importantes também
em Angola, onde a ONU estima haver, no sul, mais de 700 mil pessoas a sofrer
carências alimentares e de água devido a isso.
Por exemplo, na África
Austral, essas alterações são já evidentes há vários anos, com os fenómenos El
Nino ou La nina, que partem da descida ou subida da temperatura da água do mar
no Oceano Pacífico, o que gera correntes de ar e no mar com severas
consequências na pluviosidade, estando por detrás de uma das mais graves secas
em décadas nesta sub-região do continente, com implicações importantes também
em Angola, onde a ONU estima haver, no sul, mais de 700 mil pessoas a sofrer
carências alimentares e de água devido a isso.
E a gravidade da situação é
ainda salientada pelo facto de o embondeiro ter como uma das suas
características mais conhecidas a capacidade de armazenar milhares de litros de
água no interior do seu tronco, precisamente para fazer face a longos períodos
de secura, própria das regiões áridas em que abundam.
O fenómeno da morte dos
embondeiros foi descoberto mais ou menos por acaso, quando uma equipa de
investigadores de uma universidade romena, Babes-Bolyai, liderada por Adrian
Patrut, divulgou, na revista Nature Plants, um estudo de anos sobre estas
árvores para compreender melhor a sua biologia e fisiologia, como é o caso do
idiossincrático tronco oco, que evoluiu para servir de depósito de água, tão
bem conhecido de algumas etnias africanas que nele encontram literalmente a
fonte da sua vida.
Depois de seleccionarem mais
de meia centena de exemplares, dos mais antigos que se conhecem, em países como
a África do Sul, Namíbia, Botsuana, Zimbabué, Zâmbia ou Moçambique, e ao longo
do estudo, a equipa percebeu que algumas destas árvores estavam a morrer,
especialmente as mais antigas, constatando que alguns, pouco mais de uma
dezena, com idades que vão dos 1 100 aos 2 500 anos, estão em vias de morrer ou
já morreram.
A ideia de serem causas
estruturais por detrás desta mortandade entre os embondeiros foi o facto de
terem encontrado vários com os mesmos problemas, porque isso "não tem
precedente estatístico", o que os impeliu a procurarem a causa comum, que
é, para já, um mistério, apesar das suspeitas.
Entre as árvores da vida
observadas para consolidar a ideia de um fenómeno alargado, estão alguns dos
exemplares mais conhecidos e antigos do mundo, entre estes a árvore de Platland
na África do Sul, cujo tronco tem dez metros de diâmetro, ou ainda o embondeiro
Chapman, Botsuana, onde explorador britânico David Livingstone, no século XIX
gravou as iniciais e o país classificou como património nacional.
O embondeiro é também em
Angola uma árvore comum e alguns de imponente porte, sucedendo que, por vezes,
surgem exemplares que parecem estar secos, mortos, o que não é forçosamente
verdade, visto poder tratar-se de um dos mecanismos biológicos que o
embondeiro, através do processo evolutivo, encontrou para lidar com a carência
de chuva.
Mas esta equipa de
investigadores aconselham os países austrais a tentarem perceber o estado de
saúde das suas árvores da vida. Ricardo
Bordalo – Angola in “Novo Jornal”
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