Ana Sofia Silva é uma das
poucas especialistas no mundo em conservação e restauro de instrumentos
musicais antigos, uma arte na qual se especializou num país que é hoje a sua
única oportunidade para “consertar música”, os Estados Unidos
Desde maio que é curadora
associada no Museu Nacional de Música de Vermillion (Dakota do Sul, EUA), uma
das grandes instituições do género no mundo, com uma coleção de mais de 14.800
instrumentos americanos, europeus e não ocidentais de praticamente todas as
culturas e períodos históricos.
“Após uma ponderada
consideração em conjunto com a família, que me apoia incondicionalmente, decidi
aceitar a proposta de trabalho e regressar ao Estados Unidos que, no fundo, é o
único país que me continua a dar valor”, disse em declarações à agência Lusa.
Ana Sofia Silva faz agora
parte dos cerca de 1,4 milhões de portugueses e lusodescendentes a viver nos
Estados Unidos, país que este ano foi um dos locais de celebração do Dia de
Portugal.
Licenciada em Conservação e
Restauro de Bens Culturais pela Faculdade de Ciências e Tecnologia da
Universidade Nova de Lisboa, mestre em música com a especialização em História
dos Instrumentos Musicais, Ana Sofia, 35 anos, tem ainda formação em Ciências
Musicais e Engenharia Florestal para compreender a anatomia e biodegradação da
madeira.
A música faz parte da sua vida
desde os onze anos quando se iniciou como clarinetista nas filarmónicas do
concelho do Seixal. Nunca mais se afastou dela e hoje, além de tocar, adquiriu
a arte de estudar, restaurar, catalogar e preservar os instrumentos musicais.
A sua aventura americana
começou em 2009, com a oportunidade de realizar um estágio no Metropolitan
Museum of Art, em Nova Iorque. Um sonho que lhe custou um empréstimo bancário,
mas que lhe devolveu experiência e conhecimento, sempre fora de portas e longe
da família, uma distância que é a parte menos agradável da sua rica vivência
profissional.
Entre 2009 e 2018 foi
contratada nos EUA e no Reino Unido, para projetos de curta e média duração,
dependentes de financiamento para os desenvolver.
Depois do estágio no
Metropolitan, Ana Sofia Silva regressou a Portugal, e procurou alternativas,
mas em vão. Regressou aos Estados Unidos para, desta vez, fazer um mestrado de
História dos Instrumentos Musicais, que é exclusivamente disponibilizado pela
Universidade de Dakota do Sul, em colaboração com o National Music Museum.
Para este novo sonho ganhou
uma bolsa de estudante/trabalhador oferecida pela universidade de Dakota do Sul
e, findo o mestrado, o National Music Museum, de Vermillion, faz-lhe um
contrato por um ano.
O Musical Instrument Museum,
em Phoenix (Arizona, EUA), foi o desafio seguinte, tendo sido contratada para
conservadora. Contudo, face à necessidade de renovação de visto e à insistente
tentativa de conseguir estar mais próxima da família, Ana Sofia Silva
candidatou-se a um projeto na Europa.
É nesta altura que surge a
oportunidade de ir para Londres, e, em 2016, é escolhida para o projeto
MINIM-UK liderado pelo Royal College of Music, de catalogação da maior coleção
virtual de instrumentos musicais existentes em museus públicos de todo o Reino
Unido.
“Essencialmente, o meu
trabalho foi catalogar e fotografar instrumentos musicais existentes nas
coleções de museus que visitei durante o projeto. Trabalhei em conjunto com um
outro catalogador, o Matthew Hill. No espaço de um ano, visitei 20 museus na
região sul do país e cataloguei cerca de 1400 instrumentos!”, explicou.
Um ano depois e com o fim
desta iniciativa, Ana Sofia parte novamente à descoberta de outra oportunidade
em Portugal, junto da família e onde toda a sua vivência emocional tem raízes,
mas, mais uma vez, não encontrou espaço para a sua arte apesar das elevadas
qualificações.
Em cada regresso a casa traz
sempre essa esperança. A última vez foram oito meses de procura intensa de
trabalho na área e uma sensação de frustração que terminou com esta nova
proposta, novamente nos Estados Unidos, agora com um contrato de três anos para
participar no projeto de expansão do Museu Nacional de Música de Vermillion.
“Sim, volto a estar longe de
Portugal e da minha família, mas a alternativa de estar perto, desempregada e
deprimida não era saudável para ninguém. Após um longo processo de burocracia e
espera relacionados com o visto de trabalho dei por mim a regressar àquela que,
para mim, continua a ser a terra da oportunidade”, disse Ana Sofia Silva que
brinca com a situação, lembrando que os sobrinhos já a chamam de “tia das
Américas”. In “Sapo24” – Portugal com “Lusa”
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