Ivo Carneiro de Sousa lança na
próxima segunda-feira, 18 de Junho de 2018, “History of East-Timor”, esperando contribuir para que a história e
a antropologia de Timor-Leste não caiam no esquecimento e despertar o interesse
de jovens investigadores.
Seis de mais de 30 artigos que
escreveu sobre Timor-Leste desde 1983 foram o ponto de partida para o livro que
o investigador Ivo Carneiro de Sousa espera que ajude a compreender, de uma
perspectiva antropológica, a história do pequeno país asiático. O lançamento
tem lugar na próxima segunda-feira, pelas 18h30, no Clube Militar.
Embora, ao longo dos anos,
tenha recebido pedidos, incluindo de um ministro da Educação timorense, para
compilar alguns dos artigos que foi escrevendo sobre a terra à qual tem
relações familiares, a “oportunidade” para finalmente o fazer – como descreve –
só surgiu em Fevereiro do ano passado, quando foi submetido a uma operação e,
ainda no hospital, começou a dar forma a “History
of East-Timor” (“História de Timor-Leste”).
“A ideia foi compilar,
reorganizar, reescrever os textos que permitissem compreender, de uma
perspectiva antropológica a história de Timor-Leste”, explica o autor que
tentou “perceber as estruturas sociais, culturais, a dispersão etnográfica e
como tudo isso é tão importante hoje em dia na construção de um país
independente”.
A obra não ficou, porém,
reduzida a uma colectânea, dado que Ivo Carneiro de Sousa acabou por introduzir
conteúdos novos, sobre os quais nunca havia escrito, e mergulhar em nova
pesquisa, adicionando fontes novas. O autor destaca nomeadamente as leituras sobre
as campanhas arqueológicas feitas pelos australianos em Timor: “Eu não fazia
ideia que tinham recuado a presença humana de Timor de 30 mil para 42 mil anos,
o que é uma descoberta científica muito importante, porque significa que são
essas populações que depois vão ser os aborígenes da Austrália”.
Na feitura do livro, uma das
“grandes preocupações” foi sobretudo “perceber aquilo que se designa como a
história pré-colonial anterior à extensão da administração portuguesa em Timor.
Isto é, as estruturas sociais e políticas”, salienta Ivo Carneiro de Sousa,
apontando que o objectivo foi “trabalhar a memória e perceber como é que ela se
actualiza hoje em dia”. Assim, o livro, com o subtítulo “entre mitos, reinos da
memória, Macau e os desafios da antropologia cultural”, tem um corte não tanto
cronológico, mas antes mais temático.
As relações com Macau
Macau também “entra” na
História de Timor-Leste. “Quis mostrar a ligação muito estreita que existia,
que não era apenas a económica, mas também os aspectos relacionados com o
próprio conhecimento cultural e etnográfico que se faz a partir de Macau”,
sublinha.
É que “além do comércio de
sândalo desconhece-se significativamente que parte importante da escravatura
que vinha para Macau era timorense, sobretudo feminina”, observa. “Macau era um
mercado importante de venda regional de escravatura”, realça Ivo Carneiro de
Sousa, contextualizando: “Filipe II proibiu a escravatura nas Filipinas e não
era possível escravizar as populações locais, pelo que o que acabou por acontecer
é que Macau se torna numa plataforma de venda de escravos para as Filipinas e
para outros locais”.
Depois, no século XVIII,
embora “seja proibida a escravatura nas colónias portuguesas de África,
“continua a fazer-se em Timor e através de Macau”, salienta o investigador,
dando conta da presença no território de descendentes de chineses casados com
antigas escravas timorenses. Em paralelo, há “uma comunidade chinesa-timorense,
fruto da emigração de chineses de Macau para Timor que também continua a
existir”.
Ivo Carneiro de Sousa também
procurou perceber quem em Macau estudou e se interessou por Timor-Leste,
recuperando designadamente Wenceslau de Moraes (1854-1929), Bento da França
(1859-1906) ou Jaime do Inso (1880-1967) que passaram por Macau e por Timor.
Este último reveste-se de particular importância na perspectiva do
investigador. “Ele esteve na chamada guerra de Manufahi, que é a guerra
colonial de Timor e escreveu ‘Timor-1912’ que é um livro importante, mas muito
menos conhecido que as célebres ‘Visões da China’ que escreveu em Macau”.
Com “History of East-Timor”,
Ivo Carneiro de Sousa espera contribuir para que a história e a antropologia de
Timor-Leste não caia no esquecimento e despertar ao mesmo tempo o interesse de
jovens investigadores. “É para que possam existir alunos de mestrado e
doutoramento que se interessem por investigar Timor que não é propriamente
fácil”, afirmou, referindo-se ao facto de “existir muito pouca informação
documental, porque parte dos arquivos desapareceram durante a ocupação
indonésia e a invasão japonesa”.
O livro tem a chancela da
Este-Oeste Instituto de Estudos Avançados, criada em 2012. A apresentação da
obra, na próxima segunda-feira, vai ser feita em português, inglês e chinês. Diana do Mar – Macau in “Hoje
Macau”
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