O lenço de seda “kelagayi”,
peça de roupa tradicional das mulheres do Azerbaijão, é uma das marcas da
identidade nacional, reconhecida pela UNESCO como Património Cultural Imaterial
da Humanidade desde 2014.
“O ‘kelagayi’ é um trabalho
artesanal único. Em primeiro lugar, porque se distingue pelos materiais da sua
confecção, as diferentes variedades de seda fina”, explicou Eldar Mikailzade,
pintor, vendedor de tapetes e especialista em arte do Azerbaijão, em declarações
à agência EFE.
Segundo Eldar, o lenço produz
uma beleza estética ao incluir no seu design
elementos ornamentais do Azerbaijão, como a “buta” (lágrima curva), pássaros ou
flores. “Todas as regiões do país têm variantes únicas do ‘kelagayi’”, acrescentou.
Além de ser um complemento
fundamental no armário das azerbaijanas, este acessório também está a tornar-se
cada vez mais popular entre as turistas que visitam o país de maioria
muçulmana, banhado pelo mar Cáspio.
“Ao contrário de outros
acessórios usados na cabeça, o ‘kelagayi’ cai bem em todas as mulheres, por
isso, é muito procurado pelas turistas”, destacou o especialista.
À parte estética junta-se o
valor prático dos lenços de seda do Azerbaijão, pois protegem do frio e do
calor, dependendo da estação do ano, e têm longa durabilidade. “A seda é
caracterizada por ser um material durável, e as donas deste acessório, que
combina tradição com moda, podem gabar-se disso por muito tempo”, conclui.
As cores dos lenços também têm
um significado: mulheres mais velhas usam o “kelagayi” preto como sinal de luto
e, no dia-a-dia, costumam cobrir a cabeça com o branco. Nos casamentos
tradicionais, a noiva é coberta com um modelo vermelho. Porém, entre as jovens,
também são muito populares as cores azul, roxo e verde.
Antigamente, os lenços tinham
forma quadrada e um tamanho padrão de 150 x 150 centímetros, mas hoje essas
regras já não são aplicadas com tanto rigor no processo de fabrico.
Na montanhosa aldeia de
Basgal, 150 quilómetros a noroeste da capital Baku, situa-se um dos centros de
produção dos “kelagayi”, onde cada artesão pode confeccionar cerca de 15 lenços
por dia, dependendo da procura.
O artesão Abbasali Talíbov
herdou a técnica de fabrico do pai e avô, passando-a agora ao filho de 16 anos.
Segundo explicou, para decorar um lenço, é usado um molde especial e o desenho
é impresso com cera sobre a seda, sendo o resto do “kelagayi” tingido com a cor
principal.
Alguns moldes de aço e madeira
foram preservados desde tempos imemoriais e guardam uma mensagem especial. A
grande “buta”, por exemplo, simboliza o Sol e a realização dos desejos, e a
dupla “buta” amor e fidelidade.
Segundo os artesãos, o mestre
expressa geralmente no lenço os desejos para a sua futura mulher, pelo que não
há dois “kelagayi” iguais.
Em Basgal, os turistas podem
também visitar o museu do lenço do Azerbaijão, para aprender sobre a sua
história e até assistir ao processo de fabrico.
Segundo a chefe do
Departamento de Género e Psicologia Aplicada da Universidade Estadual de Baku,
o “kelagayi” simboliza “a honra das mulheres do Azerbaijão, a paz e o
bem-estar”. Rena Ibraguimbekova lembra que estudos realizados no final dos anos
90 concluíram que a arte do “kelagayi” estava a perder-se, porém, com o apoio
das autoridades, a antiga peça voltou a ganhar vida.
A inscrição na lista do
Património Cultural Imaterial da UNESCO representou o estímulo definitivo que
devolveu o lenço de seda ao quotidiano da sociedade azerbaijana. In “Jornal
Tribuna de Macau” - Macau
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