A UCCLA orgulha-se de
apresentar, amanhã, 2 de março, pelas 18h30, o conto “O Kaputo, Camionista e
Eusébio” de Manuel Rui, conto este que vem na estiva de “Quem me dera ser onda”
em que retrata a realidade de forma invulgar e única, com muito humor à mistura.
O conto inclui vários relatos
de amigos de Manuel Rui, incluindo o do Secretário-Geral da UCCLA, Vítor
Ramalho, que foi, no Huambo, colega de Manuel Rui, embora mais novo.
Vamos voltar a 1966. Em
Inglaterra, Portugal vai entrar em campo para jogar com a Coreia do Norte. O pé
de Eusébio vai pisar daqui a nada a relva. Mas não é para Inglaterra que este
livro do angolano Manuel Rui nos leva. É mesmo para Angola, para uma solitária
estrada de Angola. Está Eusébio a entrar em campo e está um camião em viagem.
Saído do Lubango, Sá da Bandeira colonial, por uma estrada de Angola vai um
camião sem auto-rádio. É dia 23 de Julho de 1966, um sábado. Um camionista fala
com o pendura a quem deu boleia. Fala de Eusébio, do que espera de Eusébio, da
forma como mitifica Eusébio. E falando de Eusébio, fala dos seus preconceitos,
dos seus medos, da estranheza das outras raças. Em Inglaterra, Eusébio está em
campo e Portugal joga contra a Coreia do Norte. O camionista acelera, quer
saber o resultado na primeira tasca de estrada que apanhe. Vai num alvoroço
patriótico. Quer a glória desportiva. E, no entanto, espera-o um resultado
desencantado. Para ele, kaputo camionista, um resultado humilhante. Poderá o
mito de Eusébio resistir ao choque?
Manuel Rui, com uma mestria
insuperável, com um camião, Botija ao volante, e Tó-Tó, à boleia, sentado ao
seu lado, escreve uma ficção encantatória, uma pequena novela. Com o espírito
de Eusébio a cobrir Angola como um véu de amargura, de redenção e, talvez, de
glória, resgatando, golo a golo, uma pátria triste.
A esta sua quase épica ficção,
Manuel Rui quis juntar o prefácio de David Borges, e textos de Carla Ferreira,
filha de Eusébio, de Boaventura Sousa Santos, José Jorge Letria, e outros
amigos. Um livro tão original que até Boaventura Sousa Santos confessa a Manuel
Rui: «os sociólogos não sabem andar de boleia». In
“UCCLA”
Manuel
Rui.
Nasceu no Huambo, a 4 de Novembro de 1941. Licenciado em Direito, em Coimbra,
foi ministro no governo de transição, em 1975, integrando a representação de
Angola em organismos internacionais como a OUA e a ONU.
É poeta, contista, dramaturgo,
romancista e cronista. Escreveu a letra do Hino nacional angolano e letras de
canções. Participou em filmes, como figurante e declamando poemas, mas também
escrevendo diálogos.
Do espanhol ao mandarim, os
seus livros estão traduzidos em mais de doze línguas. Publicou, em 1977, Sim
Camarada!, o primeiro livro de ficção angolana pós-independência. Quem Me Dera
Ser Onda converteu-se num clássico da literatura escrita em português. O Kaputo
Camionista e Eusébio é o seu mais recente livro.
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