Durante
quatro dias, três instituições de ensino superior de Macau vão acolher o
Congresso Internacional Filosofia e Literatura, um evento que reunirá mais de
20 académicos e oradores para analisar a lusofonia enquanto utopia criadora. O congresso
decorrerá entre os dias 27 e 30 deste mês para, a partir de 4 de Abril, o tema
ser desenvolvido em Portugal
A terceira edição do
“Congresso Internacional Filosofia e Literatura: entre Portugal e Macau”
reunirá na próxima semana na RAEM mais de 20 oradores que, através de
diferentes comunicações em várias instituições académicas, pretendem responder
à questão “Lusofonia, utopia criadora?”.
O ponto de partida dá-se na
segunda-feira no Instituto Internacional de Macau, com uma sessão de
boas-vindas. A primeira intervenção caberá a Maria Antónia Espadinha, no
Instituto Politécnico de Macau (IPM), sobre as “Tradições, Mitos e Costumes Chineses”.
Ao Jornal Tribuna de Macau, a
vice-reitora da Universidade de São José, explicou que a sua intervenção, ainda
que sumária, pretende explicar quais os “aspectos dessas superstições, mitos
urbanos ou não, que se espelham na literatura de Macau em língua portuguesa”.
Para isso, serão dados
exemplos dos textos de Deolinda da Conceição e de Henrique de Senna
Fernandes. “Os mitos e as próprias superstições também estão ligados à
filosofia e muitas dessas crenças, também associadas à religião, têm a ver com
o confucionismo”, rematou Maria Antónia Espadinha.
Por outro lado, o poeta Camilo
Pessanha será também referenciado nas duas intervenções de Adelto Gonçalves e
Celina Veiga Oliveira. Em particular, serão discutidos os temas “O Poema de
Forma Livre: oito elegias chinesas, de Camilo Pessanha” e “Camilo Pessanha e o
abismo chinês”, respectivamente.
As sessões no IPM terminam com
três sessões a cargo de Ilda Teresa de Castro, Vítor Rua e Vera Borges, docente
na USJ que irá descortinar o “mito na definição de uma poética especificamente
portuguesa” nomeadamente no momento das Descobertas.
“Desde a pedra angular que Os
Lusíadas constituem, há uma linha de inquirição, na poesia que em
português se escreve, identificando o movimento histórico e mítico das Descobertas
com a própria natureza da poesia”, apontou Vera Borges ao Jornal Tribuna de
Macau.
“Em poetas como Sophia de
Mello Breyner, Ruy Cinnatti, Manuel Alegre, Fernanda Dias e Sales Lopes,
encontramos elementos de uma poética particular, celebratória do olhar
e de uma luz inaugural, decorrente dos Descobrimentos. Essa poética específica,
que explora as afinidades entre discurso poético e mapeamento ou cartografia,
representação por analogia, translação exata e invenção do real, devolver-nos-á
à questão da identidade própria”, concluiu a docente.
No dia 29, o congresso chega à
Universidade de Macau (UM) com sessões a partir das 09:30 até às 14:30 nas
quais serão abordadas as “Representações culturais da lusofonia a partir de Macau”,
“A literatura como forma de conhecimento do outro”, entre outras.
A última sessão em Macau
realiza-se na USJ. A 9 de Maio, o congresso “viaja” até Portugal, para ter lugar
na Faculdade de Letras da Universidade do Porto.
A
utopia na escrita africana
Uma das últimas intervenções
em Macau estará a cargo de Inocência Mata. “A minha comunicação vai ser sobre a
escrita da utopia nas literaturas africanas, particularmente na literatura
angolana. Vou falar sobre a escrita como forma de expressão e reflexão que
visou novos valores, racionalidades e éticas”, disse a docente da UM ao Jornal
Tribuna de Macau.
A comunicação de Inocência
Mata será a única, em todo o congresso no território, a fazer uma incursão pela
literatura de África. “Vou apresentar a utopia como uma posição estruturante
dos sistemas literários africanos, com particular incidência na literatura angolana
do século XIX”, acrescentou.
Para a docente, este encontro
de vários académicos é pertinente na medida em que se pretende “trazer outros
pedaços da literatura portuguesa” para um diálogo entre a filosofia e a
literatura.
Segundo revelou, a quarta
edição deste evento poderá realizar-se em Goa. Contudo, ainda não há certezas
concretas sobre essa possibilidade.
“Será para pôr em diálogo
através da relação entre literatura e filosofia os vários mundos da língua
portuguesa. A mais-valia é precisamente trazer Macau como um elemento estruturante
desse mundo da língua portuguesa”, concluiu Inocência Mata.
A Comissão Organizadora do
evento integra o professor Carlos Ascenso André, do Instituto Politécnico de
Macau, a professora Inocência Mata, da UM, Jorge Rangel, presidente do Instituto
Internacional de Macau e Maria Antónia Espadinha, vice-reitora da USJ. Estas
sessões surgem no seguimento do Congresso Internacional Errâncias de um
Imaginário, no Brasil, em Portugal e em Cabo Verde, bem como da publicação de
um livro electrónico “Congresso Internacional de Língua Portuguesa: Filosofia e
Poesia” e do Congresso Internacional Filosofia e Literatura: Fidelino de
Figueiredo. Catarina Almeida –Macau in “Jornal
Tribuna de Macau”
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