SÃO PAULO – A se
levar em conta declarações e atitudes do novo presidente dos EUA, Donald Trump,
o mundo caminha para um ambiente de protecionismo exacerbado, do tipo em que
quem pode mais chora menos. A princípio, o Brasil não terá muito a ganhar nesse
tipo de ambiente, mas, se o seu governo souber aproveitar as oportunidades, com
certeza, o País poderá aumentar o seu intercâmbio comercial com os demais
países e blocos.
Com o esvaziamento da
Parceria Transpacífico (TPP), depois da saída dos EUA a 23 de janeiro de 2017, o
Brasil só tem a ganhar, até porque estava fora do acordo e, para fazer negócio
com um de seus sócios, teria de se submeter às regras que seriam impostas pelos
signatários do tratado. Formada também por Austrália, Brunei, Canadá, Chile,
Japão, Malásia, México, Nova Zelândia, Peru, Cingapura e Vietnã, a parceria TPP
estava destinada a ser o maior bloco econômico do mundo e haveria de impor
regras de comércio a todo o planeta.
Com a saída dos EUA,
não se sabe o que o futuro reserva para a TPP, mas o Brasil, por meio do Mercosul,
não agiria mal se procurasse se aproximar comercialmente dos parceiros que
continuam a fazer parte do acordo. Aliás, com México, Chile e Peru, que com a
Colômbia formam a Aliança do Pacífico, o Mercosul já vem procurando estabelecer
pontes para um intercâmbio mais intenso, superando os anos de desconfiança
entre os dois blocos que marcaram a presença dos Kirchner à frente do governo
argentino e do chamado Partido dos Trabalhadores (PT) do governo brasileiro.
De fato, com o México,
o Brasil pode se aproveitar do espaço deixado pelos EUA, em especial na área do
agronegócio. Como se sabe, o México é um grande importador de milho e carne dos
EUA, mas, se as relações entre os dois países continuarem a se deteriorar, o
Brasil pode aparecer como a principal opção para o fornecimento daqueles dois
importantes itens.
Se houver uma
política norte-americana hostil em relação à China, com o aumento do
protecionismo aos produtos dos EUA, o Brasil, da maneira transversal, também
pode se beneficiar dessa política, aumentando suas exportações para aquele país.
Como se sabe, a China constitui hoje um grande parceiro do Brasil no
agronegócio.
Embora se saiba que
Trump pessoalmente exale um desconhecimento assombroso a respeito do Brasil, o
governo brasileiro não pode deixar de fazer esforços para aumentar o
intercâmbio com os EUA. Afinal, hoje, os EUA são o segundo maior parceiro
comercial do Brasil, ficando atrás apenas da China, com comércio bilateral de
US$ 46 bilhões em 2016.
No ano passado, o déficit
comercial do Brasil com os EUA baixou quase quatro vezes em comparação com
2015, caindo para US$ 646 milhões. Mas não há muito a se comemorar com essa
redução do déficit, pois foi provocada pela queda de importações por parte do
Brasil, em razão da crise econômica e política que o País atravessou em 2016. Como
se sabe que a prioridade dos EUA agora é aumentar as exportações, reduzindo as
importações, como se conclui do lema “America first” de Trump, é preciso
cautela nesse relacionamento, pois, do contrário, o déficit brasileiro poderá crescer
assustadoramente. Milton Lourenço -
Brasil
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Milton Lourenço é
presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos
Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo
(Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de
Cargas e Logística (ACTC). E-mail: fiorde@fiorde.com.br. Site: www.fiorde.com.br
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