SÃO
PAULO – Se a bola de cristal do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e
Serviços (MDIC) não estiver avariada, em 2017 haverá recuperação das
exportações e importações e superávit no mesmo patamar do registrado em 2016,
de US$ 47,7 bilhões, o maior da História do País. O panorama visto assim da
ponte, não seria desanimador. Pelo contrário. O problema é que, em razão da
crise em 2016, tanto as compras de outros países quanto as vendas externas
foram as menores desde 2009, ou seja, o que houve foi um “superávit negativo”.
Na
verdade, o resultado positivo recorde só foi possível porque, enquanto as
exportações recuaram 3,5% em relação a 2015, as importações sofreram ainda mais
e caíram 20,1% na mesma comparação, caindo quase cinco vezes mais que as
exportações. Por causa da crise e da menor demanda por bens, as compras do
Brasil no exterior recuaram 20,1%. Como se dizia à época feliz de nossas vidas,
quando alguém tentava ganhar um jogo na base da tramóia ou de uma manobra pouco
ética: assim não vale.
Por
isso, o MDIC nem deveria vir a público exercitar esses números, com o objetivo
indisfarçável de apresentá-los como prova de que o comércio exterior brasileiro
está reagindo à crise. Afinal, não é o superávit na balança comercial que gera
atividade econômica para o setor, mas a corrente de comércio. E esta não
reflete hoje um bom momento. Pelo contrário. Desde 2014, não há aumento da
corrente de comércio. Portanto, é preciso trabalhar muito para que esses
números sejam apresentados como reflexo de um cenário econômico positivo.
Essa
situação difícil pode ser constatada também em outros números. Por exemplo, as
importações de bens de capital (máquinas e equipamentos), que sinalizam o
interesse das empresas em investir, somaram US$ 18,3 bilhões em 2016, registrando
uma queda de 21,5% em comparação com 2015. As compras de bens intermediários
(insumos para elaboração de produtos) de outros países também apresentaram
redução de 14,9% em relação a 2015, somando US$ 84,9 bilhões.
Caíram,
entre outras causas, porque a demanda por bens do exterior – entre os quais
estão insumos e bens de capital, usados na produção industrial – recuou em
função da crise econômica que se instalou no País como resultado das
administrações desastrosas que caracterizaram os últimos governos. Para piorar,
as vendas ao exterior caíram principalmente em razão da redução de preços das commodities (bens primários com cotação
internacional).
A
rigor, a única boa notícia que se pode tirar dos dados apresentados pelo MDIC é
que as exportações de produtos industrializados, com maior valor agregado,
cresceram em 2016 na comparação com 2015. Divididos em manufaturados e
semimanufaturados, esses bens tiveram alta de 1,2% e 5,2% nas vendas,
respectivamente, em relação ao ano anterior. Embora essa elevação tenha ficado
abaixo da previsão que se fazia há um ano, esse pormenor mostra que o parque
industrial brasileiro continua dinâmico. É o que permite que se tenha ainda uma
visão otimista para este ano de 2017. Milton
Lourenço – Brasil
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Milton Lourenço
é presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos
Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo
(Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de
Cargas e Logística (ACTC). E-mail: fiorde@fiorde.com.br. Site:
www.fiorde.com.br
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