Lisboa
- O projeto Lata 65 leva idosos para as ruas das cidades, onde aprendem
técnicas de intervenção urbana e grafitam em paredes e muros
A arquiteta portuguesa Lara
Seixo Rodrigues, de 37 anos, criou em 2012 o projeto Lata 65, que leva idosos
para as ruas das cidades, para aprenderem técnicas de intervenção urbana e
grafitarem paredes e muros. A iniciativa quer mostrar que a idade é apenas um
número.
“O resultado tem sido
impactante. O que nós percebemos foi que usamos a arte urbana para atingir
pontos na vida dos idosos que não podíamos imaginar. Eles percebem a rua, a
cidade onde vivem, é um projeto de inclusão. E tem os pequenos desafios como,
por exemplo, voltar a desenhar," disse Lara Rodrigues.
Segundo a arquiteta, "há
idosos que não desenham há 50, 60 anos, e eles estão superando estes desafios.
É uma enorme transformação. Muitas vezes chegam pessoas desgastadas com a vida,
cabisbaixas e tristes. E, a partir do momento que vão para a rua, começam a
pintar como crianças, super felizes. Eles dizem que é uma experiência para toda
a vida.”
O resultado do projeto
surpreendeu a idealizadora, que já viajou por diversas cidades em Portugal,
esteve no Brasil e nos Estados Unidos, e têm viagens marcadas para fazer
workshops na Espanha. Para dar continuidade ao projeto, Lara busca apoios
locais de orçamento participativo e vende camisetas e broches do projeto pela
internet.
Até o momento, 257 idosos já
participaram de 24 workshops ministrados em ambientes descontraídos para
facilitar a aprendizagem de técnicas de intervenção nas ruas. A média de idade
entre os alunos é 72 anos e o mais idoso tinha 102 anos. Para os participantes
não é apenas uma oportunidade para sair e fazer amizades, mas também um momento
de desfrutar da liberdade com criatividade.
Para Lara, aproximar os idosos
de formas de expressão habitualmente associada aos mais novos é uma maneira de
mostrar que a arte urbana tem o poder de promover e valorizar a democratização
do acesso à arte contemporânea, pela simplicidade e naturalidade com que atinge
as pessoas.
No Brasil, a iniciativa
aconteceu em São Paulo, em outubro do ano passado, a partir de um convite do
Serviço Social do Comércio. De acordo com Lara, a experiência foi extremamente
positiva e, para sua surpresa, apesar de o Brasil ser considerado a “Meca” do
grafite, a relação dos idosos com a arte urbana é muito semelhante à
portuguesa.
“Eu tinha receio de como seria
[dar o workshop] no Brasil, pelo contato diário que as pessoas têm com a arte
urbana. Mas percebi que, na verdade, as perguntas e curiosidades dos idosos são
as mesmas”, afirma Lara.
Os cursos têm duração de oito
a dez horas, divididas em dois dias. A primeira parte é teórica e visual, onde
os alunos vão aprender sobre a história do grafite, quem foram os precursores,
quais as técnicas existentes, etc. A segunda parte é prática e os idosos
aprendem a preparar moldes e saem para pintar o muro.
Lara conta que há idosos que
têm dificuldades motoras e que precisam ser ajudados e incentivados. Vê-los em
ação é extremamente gratificante. “Há ali [no momento em que estão pintando]
uns cliques que os transformam.” Marieta
Cazarré – Brasil in “Agência Brasil”
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