Tem 20 anos de idade e foi
"a ascensão da xenofobia com o aumento de popularidade da UDC" que o
empurrou para a política: inscreveu-se no PDC e convenceu os pais a pedir a
nacionalidade suíça.
"Tinha 16 ou 17 anos
quando vi serem votadas certas leis que atacavam frontalmente os estrangeiros,
incluindo as pessoas como eu, nascido aqui de pais com origem
estrangeira", contou à swissinfo.ch. "Como é possível atacarem-me? Eu
nasci cá, o meu país é a Suíça e eles querem tratar-me como estrangeiro? Não
sou estrangeiro, sou talvez até mais suíço que alguns xenófobos e não posso
aceitar isto. Se eles conseguem fazer tanto barulho e ser ouvidos, nós também
conseguiremos defender os nossos direitos."
Aos 17 anos militante, aos 18
candidato na lista do PDC na freguesia de Thônex, foi eleito na primeira
campanha que fez e é membro do Conselho Municipal há dois anos e meio. Na
atividade política não esquece a ligação à comunidade portuguesa, mas frisa que
é suíço. "Tento ser o elo entre a comunidade portuguesa e as nossas
instituições, porque conheço os problemas da comunidade, mas represento todos
os eleitores, independentemente das suas origens e sem prioridade para os
portugueses."
"É
na Suíça que me sinto em casa"
Os avós vivem em Portugal, na
região de Trancoso, de onde os pais emigraram – o pai no final da década de 80
e a mãe no início dos anos 90. Bruno e o irmão de 12 anos nasceram na Suíça.
"Gosto muito de Portugal, mas antes de ser português sou suíço. Vivi aqui
toda a minha vida e nunca foi meu objetivo viver em Portugal."
Os pais também não pensam ir
viver para Portugal porque viveram a maior parte das suas vidas na Suíça e têm
os filhos cá. Isto, apesar de terem a restante família toda em Portugal, com
exceção de um tio. Para Bruno, este assunto está arrumado: "A família é
muito importante, mas a vida não é só a família. Vemo-nos sempre nas férias,
falo todas as semanas com os meus avós, mas temos cá toda a nossa vida
profissional e escolar." Considera que em Portugal "as pessoas vivem
mais felizes, pois cultivam mais os laços humanos", enquanto "aqui
domina um tipo de vida individualista que a longo prazo custa a suportar",
mas é na Suíça que se sente em casa.
A maior parte dos seus amigos
são "suíços filhos de suíços". Recorda algumas situações quando foi
apontado como "filho de portugueses", mas acrescenta que tais
atitudes são "sinal de má educação de quem deseja provocar, não vêm de
pessoas responsáveis."
Empurrado
para a política pela xenofobia
Depois de quinze anos na
comuna de Cherbourg, a família mudou-se para Thônex, onde havia uma associação
de jovens – o Parlamento dos jovens de Thônex. Não era uma organização
política, mas sim uma estrutura associativa que permitia aos jovens exercer pressão
sobre os eleitos locais para poderem organizar festivais de música no verão ou
defender projetos na Câmara Municipal. O ponto de viragem viria a seguir:
"Tinha 16 ou 17 anos quando começaram a surgir sinais de uma crescente
xenofobia na Suíça, promovido pelo partido de extrema-direita, a UDC. Foram
votadas várias leis que atacavam frontalmente os estrangeiros, incluindo
aqueles que como eu já pertencem à segunda ou terceira geração."
Bruno percebeu que estas
iniciativas políticas eram uma ameaça real e que era necessário organizarem-se
para defenderem os seus direitos. Decidiu entrar na política e começou a
insistir com os meus pais para que pedissem a nacionalidade suíça para eles e
para os dois filhos. "Inscrevi-me no PDC em Thônex ainda antes de ter a
resposta definitiva das autoridades sobre a nacionalidade."
Encorajar
a participação política
Atualmente é membro da
assembleia municipal em Thônex e líder da juventude do PDC no cantão de
Genebra. Preocupa-o o fraco envolvimento da juventude suíça na política, com a
abstenção a rondar os 25%. Constata que, como noutros países, os jovens estão
desiludidos com a política e considera que uma melhor comunicação poderia
ajudar: "Os processos políticos têm de ser explicados de forma mais clara.
É importante que os jovens entendam que as decisões políticas têm influência
nas nossas vidas e que é através do envolvimento político que terão possibilidade
de modificar os processos."
Gostaria igualmente de
conseguir aumentar a participação da comunidade portuguesa na política. Na sua
opinião, a pouca participação dos portugueses na política não se explica apenas
com desinteresse. Diz que muitas das pessoas com quem tem falado dizem que
gostariam de votar, mas que é demasiado complicado: "Antes de haver falta
de vontade, há o desconhecimento das pessoas. O processo não é suficientemente
explicado aos eleitores. Quando os meus pais obtiveram a nacionalidade suíça, se
não fosse eu a explicar-lhes como se abre um envelope de voto, como se vota e
como se envia, eles não saberiam. Foram depois eles que explicaram aos amigos
deles, que também não sabiam."
Bruno tem mais combates na
agenda. Quer "mudar a imagem de país racista que cada vez mais tem a Suíça
no exterior", uma imagem que considera muito injusta, pois "o povo
suíço não é nada assim, é um povo extraordinário, muito aberto e muito
acolhedor." Ao mesmo tempo, frisa que acredita no valor do projeto
europeu, defende que a Suíça não deve viver isolada e de costas voltadas à
União Europeia: "Há problemas a resolver na UE, mas os discursos
populistas e simplistas estão longe da realidade."
Não vai ser candidato nas
eleições para o governo regional em 2018. A sua meta são as autárquicas em
2020, quando será candidato na freguesia. Entretanto aposta, enquanto líder da
juventude do PDC, em conseguir colocar no meio dos deputados do PDC no
parlamento cantonal de Genebra alguns dos membros jovens do partido. "É
importante fazer o rejuvenescimento do partido, até porque o peso dos jovens
tem aumentado e essa é a imagem real do partido no terreno. Temos jovens entre
os 20 e 25 anos com competências e capacidades à altura das exigências." Nelson Pereira – Suíça in “swissinfo.ch”
Sem comentários:
Enviar um comentário