No
novo livro “Jornalismo Multicultural em Português – Um estudo de caso de
Macau”, o autor José Manuel Simões concluiu que a imprensa local em português
peca por ser “mais para os portugueses” do que de língua portuguesa. Por isso,
entende ser preciso reforçar o papel dos jornais como “veículos de
conhecimento”
A obra “Jornalismo
Multicultural em Português - Um estudo de caso de Macau” é a mais recente
produção do académico José Manuel Simões, através da qual conclui o seu
pós-doutoramento na Universidade Católica Portuguesa. “Senti sempre necessidade
de voltar ao estudo das questões que assolam e dizem respeito à comunidade
jornalística de uma forma global, com o foco mais direccionado ao jornalismo
que é feito em língua portuguesa”, explicou José Manuel Simões ao Jornal Tribuna
de Macau.
O ressurgimento desta questão
na vida académica do autor e coordenador do Departamento de Comunicação e Media
da Universidade de São José (USJ) prolongou-se durante quatro meses, período em
que analisou diariamente os jornais locais em língua portuguesa e entrevistou
responsáveis da área, desde administradores, directores ou outros que lidam,
directa ou indirectamente, com este meio.
Nesse sentido, o autor
confrontou-se com uma necessidade comum em todos os jornais, a de ser mais
multicultural. Por outras palavras, observou, “diria que são jornais mais para
os portugueses do que jornais de língua portuguesa, porque os jornais em si
chegam muito pouco às outras comunidades que falam português e deviam fazer
essa aposta para chegar também a comunidades que falam outras línguas”.
Para o académico, os media
locais devem ser “veículos de conhecimento” e de “relação com as outras
comunidades”. “Em Macau, as pessoas vivem em segurança, há uma determinada
harmonia entre as comunidades mas não há pontes, conhecimento até. Portanto, os
jornais poderiam ter esse papel para contribuir que haja um conhecimento e uma
maior proximidade das outras comunidades”, salientou.
Quanto às conclusões, o autor
fala sobre a “dificuldade de acesso às fontes” que posteriormente “dificulta o
trabalho dos jornalistas” embora haja uma “flagrante” liberdade de informação e
de informação. “Há liberdade de informação e de expressão sem obstáculos, sem
constrangimentos na forma como se faz jornalismo em português em Macau”, mesmo
que, acrescentou, “se possa pensar que sendo os jornais subsidiados pelo
Governo após cinco anos de existência estarão dependentes”.
Outro constrangimento,
apontou, é a “pressão do tempo”. “Há um grande volume de trabalho” levando a
que “haja muito pouco jornalismo de investigação”. “Faz também com que muitas
vezes [os jornalistas] não possam confrontar fontes”, notou José Manuel Simões.
Por outro lado, o autor
recorda também que a comunicação apenas se forma quando existe um emissor e
receptor e, através desta obra, pretende contribuir para incentivar os media a
elevar a sua capacidade de intervir para a criação de uma sociedade mais
inclusiva e esclarecida.
“O jornalismo positivo pode
tirar partido da informação para tirar conhecimento, educando, formando,
construindo valores, contribuindo para o crescimento do ser humano e
melhoramento do indivíduo”, concluiu.
A obra de José Manuel Simões
foi apresentada na quinta-feira da semana passada, no auditório da USJ, e
esgotou numa primeira fase. No entanto, o livro ainda será colocado à venda na
Livraria Portuguesa. Catarina Almeida –
Macau in “Jornal Tribuna de Macau”
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