É habitual que na Galiza as
pessoas mais velhas de âmbitos rurais sejam consideradas modelos de língua.
Parte-se da base que conservam muitas formas de que carecem outras pessoas,
sejam neo-falantes ou moradores de zonas mais urbanas. Qual é realmente a sua
poção mágica? Tecnicamente, ainda que soe frio e metálico, a resposta é a
interação de input e output.
Estas pessoas idosas, rodeadas
de galego, acabam por usar as palavras que escutam e a esse respeito em nada se
diferenciam de nós. Frieira, embaçado, leilão ou ralo são algumas destas
palavras que talvez desconheçamos ou saibamos delas graças ao contacto com o
galego de Portugal e do Brasil. No meu caso foi assim.
O formato de galego que sai
das nossas bocas e dos nossos dedos é o resultado do que entrou nos nossos
ouvidos e, por maio da leitura, nos nossos olhos. Uma vantagem importante que
tem um pai e uma mãe portuguesa ou brasileira é que a sociedade em que se
desenvolve respira na nossa língua. Na sociedade galega, como sabemos, não é
assim.
Ao longo de um dia qualquer é
comum lermos informação, vermos alguns canais de televisão, falar com muitas
pessoas, ouvir rádio, trabalhar, navegar… e uma parte importante destas
entradas (input) são em castelhano. Portanto, as saídas (output), faladas ou
escritas, estão impregnadas nessa língua como é natural.
Em geral não damos muita
importância a este facto porque é o normal. Fomos educados num guião para a
língua da Galiza que mais ou menos diz assim: o castelhano é a língua a sério,
vale para tudo, e o galego vale para menos, bastante menos.
Um dos pontos fortes da
estratégia reintegracionista é que a nossa língua vale para muitas funções que
habitualmente destinamos ao castelhano. Por exemplo, procurar na Internet, o software do nosso portátil, as traduções
literárias, os ensaios, a música ou… as séries infantis para as nossas
crianças.
A aspiração dos pais
galego-falantes que estamos em Semente é que os nossos filhos e filhas falem a
mesma língua que nós. É certo que há dificuldades para isto. A maré tem muita
força polo que temos que nadar bem. Para sermos bons peixes é muito útil
aumentar os input em
galego-português, o dos adultos e o das crianças. Desfazer-se da televisão, por
exemplo, é uma medida eficaz. O input é
99% em castelhano, para além de haver uma escolha limitada. Uma hora diária de
canais infantis deixa uma pegada profunda na língua dos miúdos.
Ocupar o seu espaço com a
Internet é uma boa mudança dado que nos permite escolher o código linguístico e
aumentar o input na nossa língua, No
capítulo Peixe fora d´água, da versão brasileira de Dora, a aventureira, a
nossa criança vai ouvir encher, buracos, balde, rocha vermelha, caranguejo,
polvo, tartarugas, golfinhos. Na versão que nos oferece o sistema cultural
espanhol vai ouvir llenar, agujeros, cubo, roca roja, cangrejo, pulpo,
tortugas, delfines. Cada escolha leva implícito uns inputs diferentes… uma forma diferente de estar no mundo.
Animamo-nos a nadar? Valentim Fagim – Galiza in “Portal
Galego da Língua”
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