A balança comercial brasileira
teve o maior superávit da história em 2016, ao fechar o ano com um saldo
positivo de US$ 47,692 bilhões. O Ministério da Indústria, Comércio Exterior e
Serviços (Mdic) projeta que o resultado de 2017 deve "ficar no mesmo patamar,
com aumento nas exportações e nas importações", de acordo com o secretário
de Comércio Exterior, Abrão Neto.
O resultado do último ano se
deve a US$ 185,244 bilhões em exportações e US$$ 137,552 bilhões em
importações. Assim o desempenho histórico da balança comercial em 2016 se deve
a uma queda menor nas exportações do que nas importações. Na comparação entre
os dois últimos anos, as exportações caíram 3,5% na média diária enquanto as
importações recuaram 20,1%.
Embora o superávit seja
importante para as contas externas, a queda das exportações e importações,
ressaltam analistas, fez encolher, pelo terceiro ano consecutivo, a corrente de
comércio. Os embarques e desembarques brasileiros em 2016 somaram US$ 322,79
bilhões, a pior corrente de comércio desde 2009, quando esse resultado foi de
US$ 280,72 bilhões.
A corrente de comércio,
explica Rafael Bistafa, economista da Rosenberg & Associados, é importante
indicador do dinamismo do comércio e da economia doméstica. A expectativa para
este ano é de início de recuperação desse resultado. O superávit de US$ 47,69
bilhões de 2016, diz ele, veio dentro da expectativa da consultoria.
Para este ano, afirma Bistafa,
as projeções da consultoria indicam saldo positivo de US$ 40 bilhões, com alta
de 7,5% nas importações e de 3% nas exportações. As estimativas levam em conta
um crescimento de 1% do PIB e dólar a R$ 3,50 ao fim deste ano. Realizandose
as projeções, diz o economista, teremos em 2017 o primeiro ano com elevação de
exportações desde 2011 e o início da recuperação da corrente de comércio.
Para o secretário de Comércio
Exterior, o superávit de 2016 foi muito positivo pela contribuição às contas
externas. Segundo ele, a queda nas exportações se deve à redução de 6,2% nos
preços dos produtos vendidos ao exterior pelo Brasil, já que "houve
aumento das quantidades exportadas em 2,9%".
Nas importações, afirma Abrão
Neto, o comportamento é diferente. "Há queda tanto em preços de 9%, que
se explica por contexto internacional quanto na quantidade, de 12,2%, que se
explica em parte por conta da desaceleração da economia". A contapetróleo
teve resultado positivo pela primeira vez em duas décadas e foi crucial para
engordar o superávit recorde da balança em 2016. A contapetróleo considera
apenas as exportações e importações do hidrocarboneto e seus derivados. O
comércio desses produtos terminou 2015 com superávit de US$ 410 milhões para o
Brasil. A queda de 43,1% na importação de combustíveis e lubrificantes puxou a
melhoria da conta.
Segundo Abrão Neto, também
houve redução na exportação de petróleo em bruto, mas em ritmo bem inferior
(14,8%). "O saldo positivo se explica primeiro pela redução no preço do
petróleo, o menor desde 2004. O Brasil é importador líquido de petróleo e
derivados e portanto redução de preços influência de forma mais significativa o
lado das importações."
Além disso, houve um
"aumento na quantidade das exportações de petróleo, decorrente, entre
outros fatores, do aumento da produção brasileira", disse o secretário. A
atividade econômica em queda no Brasil também contribuiu para diminuir a
importações desses produtos. "O superávit de 2016 é conjuntural e não estrutural
[da contapetróleo]. Apesar dos aumentos consecutivos de produção de petróleo,
a tendência é que, no curto e médio-prazos, o Brasil continue sendo importador
líquido de petróleo e derivados."
Para 2017, o ministério
projeta desempenho semelhante a 2016, mas não estabeleceu um número preciso.
Esse movimento deve ser o resultado de um crescimento tanto nas importações
quanto nas exportações, disse o secretário. Ele listou uma série de eventos que
influenciarão esse resultado.
O aumento da safra de grãos
será determinante, disse ele, embora os preços sejam um fator de incerteza por
conta da expectativa de alta na produção mundial de soja e milho. "Há
também uma expectativa de melhora dos preços das commodities minerais. Teve aumento nos últimos três meses do preço
de petróleo e nos últimos quatro meses do minério doe ferro. Essa melhora
influencia nas exportações e importações", apontou. Além disso, Abrão Neto
apontou expectativa de crescimento da economia e comércio mundial em patamares
superiores a 2016, embora ainda de forma lenta.
As importações também devem
ser impactadas pela "retomada do crescimento da economia", o que leva
a uma alta nos desembarques. Já a taxa de câmbio, avaliou, deve permanecer no
mesmo nível de 2016. Lucas Marchesini e
Daniel Rittner – Brasil in “Valor Econômico”
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