O Novo
Atlas da Língua Portuguesa, lançado na passada semana pelo ISCTE em edição
bilingue, quer ser “um cartão-de-visita” da língua e da comunidade dos países
lusófonos
Se as projecções demográficas
das Nações Unidas vierem a confirmar-se, o número de falantes de português no
mundo não só aumentará substancialmente - serão 387 milhões em 2050 e 487
milhões no final do século -, como a geografia da língua se alterará de forma
radical com o brutal crescimento demográfico previsto para Angola e Moçambique,
que no seu conjunto somarão 266 milhões de habitantes em 2100, muito acima dos
200 milhões estimados para o Brasil.
Este é um dos dados mais
surpreendentes do Novo Atlas da Língua
Portuguesa organizado pelo ISCTE, que é lançado esta terça-feira à tarde
(às 16h30) no Palácio das Necessidades e que conta com um extenso prefácio do
ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva.
Publicado em edição bilingue
português-inglês, o livro pretende funcionar como um cartão-de-visita do
português e da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) à atenção de
um mundo onde o português está a expandir-se, sendo já hoje a quarta língua
mais falada (atrás do mandarim, do espanhol e do inglês), e a quinta mais
utilizada na Internet, depois do inglês, do chinês, do espanhol e do árabe. E
se nos cingirmos às redes sociais, o português é a terceira língua do Facebook
(só perde para o inglês e o espanhol) e a quinta do Twitter. Números de 2012
indicam que S. Paulo era então a cidade onde mais se “tweetava”, logo a seguir
a Jacarta, Tóquio e Londres, e acima de Nova Iorque ou Los Angeles.
“Mais do que uma obra
académica, quisemos fazer um livro de divulgação e afirmação da língua
portuguesa em termos globais, e daí termos optado por uma edição bilingue
português-inglês”, diz Luís Antero Reto, reitor do ISCTE e co-autor deste atlas
com outros dois professores e investigadores do Instituto, o sociólogo Fernando
Luís Machado e o economista José Paulo Esperança. “Faltava um livro que
funcionasse como um cartão-de-visita da língua portuguesa e da CPLP no mundo”,
acrescenta Luís Reto, que já lançara em 2012 o volume Potencial Económico da Língua Portuguesa e prepara agora, com a sua
equipa do ISCTE, uma nova obra, cujo título provisório é Português, Língua Global: Economia e Política de Língua.
Editado em colaboração com o
Instituto Camões, o Novo Atlas da Língua
Portuguesa está dividido em grandes temas, da história da língua à sua
geografia e demografia, do ensino do português no mundo à expressão económica
dos países de língua portuguesa, do português como língua de cultura, ciência
ou negócios à sua presença na Internet. Outro tópico investigado é o das
migrações humanas nos países lusófonos. Para cada um deles, o atlas enumera os
dez principais países de origem dos imigrantes e os dez principais destinos dos
emigrantes. No caso de Portugal, a comunidade imigrante mais numerosa é a
brasileira (um pouco mais de 120 mil pessoas), e o top ten inclui mais quatro países lusófonos: Cabo Verde (2.º),
Guiné-Bissau (4.º), Angola (5.º) e S. Tomé e Príncipe (9.º). Os restantes são
três países do leste europeu (Ucrânia, Roménia e Moldávia), a China e o Reino
Unido.
A França continua a ser o
principal país de destino da emigração portuguesa (mais de 713.000), seguida
dos Estados Unidos, Suíça, Brasil, Canadá, Angola, Espanha, Reino Unido,
Alemanha e Luxemburgo.
Menos vulgar numa obra deste
tipo é o capítulo Língua como Património
Comum, que consiste numa antologia de autores de oito países de expressão
portuguesa, com excertos das respectivas obras, que em alguns casos tiveram
mesmo de ser traduzidos para inglês porque não existiam traduções disponíveis.
Numa obra de divulgação que
também se destina ao exterior do espaço lusófono, justifica-se o capítulo
dedicado a personalidades que se distinguiram em diversas áreas, como os
prémios Nobel de língua portuguesa - Egas Moniz, Ramos-Horta, Ximenes Belo e
José Saramago -, os prémios Pritzker (Oscar Niemeyer, Álvaro Siza, Paulo Mendes
da Rocha e Eduardo Souto de Moura), os cineastas premiados nos grandes
festivais de cinema, como Manoel de Oliveira ou os brasileiros Anselmo Duarte,
Walter Salles e José Padilha, os vencedores de prémios Grammy, como António
Carlos Jobim ou a cantora brasileira Maria Rita, e ainda os desportistas
lusófonos que foram campeões olímpicos.
Nem sequer foram esquecidos os
falantes de português com mais fãs no Facebook, liderados por Cristiano Ronaldo
com mais de 112 milhões de seguidores. Oito são brasileiros, e só quatro não
são futebolistas: o escritor Paulo Coelho, o apresentador de televisão Luciano
Huck e os cantores Luan Santana e Aline Barros.
O desejo de Luís Reto era
agora conseguir que este atlas se tornasse no futuro um portal na Internet, que
“coligisse sistematicamente dados sobre a língua e a comunidade lusófona”,
desejavelmente apoiado numa equipa transnacional. Luís Queirós – Portugal in “Jornal Público”
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