Terminou há dias a XI
Conferência de Chefes de Estado e de Governo da CPLP e em Portugal pudemos
assistir a um coro de críticas quanto à entrada oficial da Guiné Equatorial
neste espaço de excelência.
Guiné Equatorial |
Num primeiro momento, as
criticas até faziam algum sentido. Dizer que na Guiné Equatorial não se fala Português
e esse é o denominador comum dos países integrantes ou que se trata do regime
mais violento e ditatorial africano também parecia um argumento mais do que
válido para sustentar a contestação. A Guiné Equatorial fez uma moratória à
pena de morte por imposição portuguesa para que a sua pretensão de entrada
fosse aceite mas a mesma foi feita aos EUA, à China ou ao Japão que também a
praticam? Creio que não.
A referência ao facto de ser
um país de língua castelhana que tem o francês como segunda língua é um
impedimento mas que uso abusivo se faz dos anglicanismos nos documentos
oficiais portugueses e nos media? Não teríamos então nós, para dar o exemplo
que usar somente o Português? Como justificamos então a norma constante do novo
Acordo Ortográfico com a introdução de “facultatividades” (i.e., possibilidade
da mesma palavra ter mais do que uma grafia permitida)? Isto significa que em
determinados casos, cada um pode usar as palavras “a seu bel-prazer” criando
vários idiomas paralelos, se quisermos. Mas a Guiné Equatorial tem que usar o
Português como língua oficial sem mais.
Guiné Equatorial |
Será que poderemos considerar
esse argumento válido? Se a isso juntarmos o facto de o Presidente
equa-guineense já ter, segundo dizem, contratado um professor para lhe dar
aulas de Português, e terem sido firmados acordos com empresas portuguesas
situadas na Madeira e no Porto, e estar a ser implementado um programa de
ensino de português nas escolas tendo-o já declarado como a terceira língua
oficial do território a seguir ao castelhano e ao francês, rapidamente chegamos
à conclusão que esse argumento não deve ser validado ainda mais se
considerarmos o peso económico e de influência da Guiné Equatorial no mapa
africano.
Quando ilustres nomes da nossa
praça se manifestam de forma tão veemente, somos obrigados a pensar e a
pesquisar um pouco mais sobre o assunto pois queremos acreditar que os
dirigentes dos países integrantes da CPLP se querem reunir dos melhores
parceiros por forma a fortalecer esta iniciativa.
Guiné Equatorial |
Assim, analisando alguns
textos e gráficos podemos chegar à conclusão que andamos todos enganados. Há um
discurso muito negativo quanto à permanência da Guiné Equatorial na Comunidade
e por incrível que pareça, não se prende com o facto de ser um país produtor e
exportador de petróleo. Não é por isso que não querem que pertença mas também
não foi por isso que aceitaram o seu pedido para a integrar.
Tal como em qualquer momento
político, é preciso ler a História, enquadrá-la e depois então tentar perceber
as razões que levaram a este convite e à sua aceitação e a História africana é
tudo menos fácil de entender à primeira vista.
A questão africana é revestida
de muitos contornos de cedências, trocas e guerras pelo controlo do território
e manutenção de influência como podemos ver, no caso da Guiné Equatorial, em
1778, reinava D. Maria I, que através do Tratado de El Pardo, o cede ao Rei
Carlos III de Espanha em troca de territórios no Sul do Brasil.
Guiné Equatorial |
Esta troca permitiu a Portugal
consolidar as fronteiras naquele território. Portugal resolve com este Tratado
o seu problema no Brasil e Espanha fica assim com a sua única colónia a Sul do
Sahara. Em 1968, pela mão do ditador Francisco Nguema, mais tarde destituído
pelo seu sobrinho e actual Presidente Obiang através de um golpe militar, a
Guiné Equatorial torna-se independente da Espanha, que não demonstrou nenhum
interesse no território até à descoberta do petróleo em 1990. Foi também nessa
altura que a França voltou a manifestar o seu interesse, visto a Guiné
Equatorial estar inserida numa região de hegemonia francesa. Não deixa no
entanto de ser curioso que os territórios só passem a ter interesse para os
países europeus quando lá se encontra petróleo e seja este recurso o motivador
das guerras por esse Mundo fora.
No caso particular da Guiné
Equatorial, estamos perante um país que tinha a sua produção e exportação dependente
do cacau, mais tarde da madeira e desde 1991 do petróleo, gás natural e seus derivados.
É portanto uma economia que apesar de ter as suas fragilidades, assume um papel
importante no cenário internacional dados os produtos que transacciona.
Guiné Equatorial |
Esta descoberta de petróleo e
gás natural na sua costa e os dividendos que daí advêm, permitem uma aposta
clara na transformação económica que, por consequência, leva a uma melhoria no
ensino, nos níveis básico e secundário, na saúde, através por exemplo do
controlo do paludismo que era um flagelo que grassava na sociedade equa-guineense,
e do aumento do tráfego aéreo.
Se consultarmos os mapas das
entidades oficiais, podemos seguramente concluir que entre 1991 e 2006 a Guiné
Equatorial dependia da produção e exportação do petróleo e seus derivados,
atingindo em 2006 um peso máximo de 76% da estrutura do PIB do país. A
estrutura deste indicador macroeconómico foi sendo alterada a partir desta data
e o peso deste sector foi diminuindo ao longo dos anos, passando a contribuir,
em 2015, para 45% do PIB nacional. Esta situação demonstra uma maior
diversificação na composição da estrutura deste indicador macroeconómico na
última década.
Convém referir que no período
de 2007 a 2015 se verificaram três fases distintas relativamente à evolução do
PIB: entre 2007 e 2010 há uma descida acentuada do crescimento deste indicador,
passando de um crescimento positivo de 15,3% para -8,9%; de 2010 a 2012
assiste-se à recuperação do PIB, registando um máximo de +8,3% de crescimento;
a partir de 2010 a tendência volta a ser negativa.
Guiné Equatorial |
Nem os números nem as
previsões a médio prazo são animadoras mas a Guiné Equatorial detém um manancial
de matérias-primas que lhe permite sustentar uma economia baseada nas
exportações para além de ser o terceiro maior país produtor de petróleo da
região a seguir a Angola e à Namíbia, portanto podemos concluir que se adoptar
um regime mais redistributivo da riqueza existente baseado numa economia livre
e num regime mais democrático, o caminho para o desenvolvimento pode não ser
tão difícil quanto se augura.
Falamos de um país que até
aqui foi governado por um ditador, que praticava a pena de morte, que não tinha
respeito pelos Direitos Humanos, que tinha elevados níveis de corrupção,
riqueza mal distribuída, numerosos casos de morte infantil e que fazia uma
aposta clara nas infra-estruturas e não nas políticas sociais. Mas ainda assim este
país aceitou os pressupostos da CPLP, mudou a sua Lei interna, introduziu o
português como língua oficial e está a encetar todos os esforços que lhe foram
pedidos para agora que já está firmado, agir como um membro de pleno direito da
CPLP.
Guiné Equatorial |
Se pelo menos essa pertença
der mais qualidade de vida aos cidadãos e ajudar ao desenvolvimento do país e
por consequência da região e ainda ganhamos mais um país que tem a nossa Língua
como língua oficial, onde é que está o problema? O que não pode, ou não deve
acontecer é a Guiné Equatorial não levar a cabo as mudanças a que se
comprometeu e acomodar-se ao “chapéu-de-chuva” da CPLP mas se assim não for,
não vejo problema nenhum com esta adesão até porque devido a isso já outras
Nações pediram para ser observadoras.
Estão a vergar a Carta de
Princípios da CPLP? Talvez mas se fosse para a respeitar na íntegra e sem
nenhuma flexibilidade, esta Comunidade jamais poderia ambicionar ser um bloco
económico e ia ficar para sempre encerrada nas fronteiras auto-impostas pelos seus
Fundadores. Luísa Vaz – Portugal
(A
autora não usa o Acordo Ortográfico)
Luísa Maria
Teixeira Vaz - Natural da
cidade do Porto, licenciada em Estudos Europeus pela Universidade Aberta com
formação em Relações Internacionais pela Universidade do Minho. Fundadora e
escritora num blog de opinião chamado "As Opiniões da Lu" onde são
expostos pontos de vista sobre temas da actualidade de forma livre e sem
amarras. Participa na coluna Ágora Lusitana do blog Rua da Constituição com uma
opinião mensal e tem uma participação quinzenal no blog BIRD Magazine. É também
fundadora e blogger no Insónias.
Está neste
momento a preparar uma compilação de todos os seus artigos em formato e-book
que se prevê seja lançado ainda este ano. Profissionalmente esteve ligada à
revisão e publicação de obras numa Editora bem como realiza trabalhos de
tradução e retroversão em várias áreas de conhecimento. Colabora no blogue
“Baía da Lusofonia”
Guiné Equatorial |
Pobre país rico..
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