SÃO PAULO – Se o Brasil hoje
detém menos de 1% de participação no comércio mundial, depois de ter alcançado
1,41% em 2011, culpa cabe à política equivocada que o seu governo adotou a
partir de 2003, quando o Ministério das Relações Exteriores perdeu completamente
sua autonomia, passando a responder à Assessoria Especial da Presidência da
República. Segundo aquela orientação ideológica e partidária, os Estados Unidos
seriam o grande satã do planeta e o País deveria lutar para deixar de ser
dependente de sua economia, idéia que levou Brasil e Argentina a boicotarem
deliberadamente as negociações para a formação da Área de Livre Comércio das
Américas (Alca).
Com isso, o Brasil passou a
vender majoritariamente matérias-primas para a China e a perder espaço para os
seus produtos manufaturados nos Estados Unidos. Hoje, há uma diminuição na
demanda no comércio mundial que afeta diretamente o desempenho do País. De
acordo com a consultoria McKinsey, 17,5% do comércio mundial se encontram nas
Américas (com os Estados Unidos em crescimento e a América Latina e o Caribe
operando abaixo da média), 38,8% na Europa, que apresenta lenta recuperação,
31,4% na Ásia, que registra queda de demanda, 4,2% na Comunidade dos Estados
Independentes (CEI), 4,25% no Oriente Médio e 3,8% na África.
Obviamente, diante desse
quadro, se o Brasil tivesse continuado na órbita dos Estados Unidos, com
certeza, a sua participação no comércio mundial seria superior a 1,5%. E não
sofreria tanto as consequências da queda que se registra nas cotações de soja,
milho e trigo, em função dos abalos que ocorrem na economia chinesa.
Como resultado disso, houve na
balança comercial de 2015 uma redução drástica nas importações, que caíram de
US$ 229 bilhões para US$ 171 bilhões. As exportações também tiveram queda,
passando de US$ 225 bilhões para US$ 191 bilhões. Isso se deu porque a crise
levou o Brasil a reduzir quase pela metade suas importações, especialmente de
bens intermediários, ou seja, insumos para a produção industrial, que caíram
20,2% (US$ 25,3 bilhões a menos). Percentual idêntico foi registrado entre bens
de capital, ou seja, máquinas e equipamentos, produtos essenciais para a
expansão da produção.
De significativo, só há a
registrar o crescimento da exportação de manufaturados, que subiu de 35,5% em
2014 para 38,1% em 2015, voltando-se ao patamar de 2013 (38,4%), o que se deu
depois que a atual presidente da República, em seu segundo mandato, mandou às
favas a política terceiro-mundista que misturava política com comércio. E
devolveu ao Ministério das Relações Exteriores e ao Ministério do
Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) autonomia para buscar uma
reaproximação com os Estados Unidos e levar o Mercosul a se aproximar da
Aliança do Pacífico, além de procurar destravar as negociações com a União
Europeia. Esse é o caminho. Milton
Lourenço - Brasil
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Milton Lourenço é presidente
da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de
Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e
da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e
Logística (ACTC). E-mail: fiorde@fiorde.com.br. Site: www.fiorde.com.br
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