Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

domingo, 3 de janeiro de 2016

Malaca - Uma herança portuguesa construída longe de Portugal, na Malásia























Malaca – Músicas de origem lusa cantadas no crioulo português de Malaca, como “Maliao, maliao” e “Ti Anika”, têm elevado o nome dos grupos folclóricos dos lusodescendentes na Malásia, mas raramente são associadas a Portugal.

O nome do grupo “1511 O Maliao Malaio Dance Troupe” faz referência ao ano que os portugueses tomaram Malaca, mas, segundo o chefe do rancho, Gerard da Costa, o público raramente faz essa associação.

O grupo é “sobretudo associado com o governo”, mas “somos como embaixadores de Portugal de graça”, refere Gerard de Costa, que dança desde os onze anos.

Deparando-se com a falta de espetáculos para a festa do São Pedro do ano passado, Gerard e a esposa, Anne de Mello, decidiram formar um grupo e fizeram a sua primeira atuação apenas após “cinco dias de treino”.

No reportório dos ranchos dos lusodescendentes há várias músicas que lembram Portugal, como o “Maliao, maliao”, mas há também muitas canções criadas por habitantes locais, como “O Amor”, composta pelo pai de Anne, Norman De Mello.

A diferença entre os grupos de folclore da comunidade reside no estilo de dança, com alguns mais aportuguesados, outros mais originais, mas todos se unem no derradeiro propósito de defender o seu Portugal singular, nascido e criado em Malaca.

Há também diferentes trajes, desde as típicas saias rodadas e lenços na cabeça usados pelos ranchos lusos à blusa tradicional do Sudeste Asiático conhecida como kebaya, e passando ainda por trajes de Natal vestidos apenas nesta quadra para combinar com as canções natalícias.

Apesar do avultado investimento em tempo e em dinheiro, ainda que o grupo tenha alguns patrocinadores anónimos. Anne deseja que os seus filhos lhe sigam os passos de dança, até porque “as pessoas amam as nossas músicas” e é uma forma de manter a arte “viva”.

“Definitivamente queremos ir lá [Portugal] e fazer algo para eles”, responde.

O marido completa, afirmando querer “mostrar a Portugal que nós existimos aqui e que estamos a manter a cultura portuguesa”.

Também o grupo cultural DomMarina é “famoso” na Malásia, mas surge sempre “associado a Malaca” e não a Portugal, segundo Jeremiah Hendricks, filho dos pais do grupo.

Dominic Hendricks e a esposa, Marina Damker, formaram o conjunto de 20 pessoas em 2006 e hoje em dia procuram músicas portuguesas no sítio Youtube para juntar ao reportório de músicas locais.

Dominic Hendricks, que no ano passado viajou a Dili a convite do governo timorense para atuar na cimeira da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), refere que sonha com o dia em que será convidado a atuar em Portugal.

Os ensaios do DomMarina, onde não faltam palavras em português, são liderados pelo octogenário Noel Felix e às coreografias é imprimido um ar “mais moderno e mais vivo”, segundo o fundador.

Jeremiah Hendricks quer continuar o grupo iniciado pelos pais, porque estas manifestações culturais são parte da sua identidade enquanto “português” de Malaca.

“Um, dois, três, anda”, diz uma das crianças durante o ensaio do grupo de dança Troupa de Santa Maria, iniciado por Sara Frederica Santa Maria no início deste ano, para “passar a cultura para as crianças.”

Também os mais novos vestem trajes portugueses e, nesta quadra natalícia, são convidados a brindar o Natal com as suas danças fora de Malaca.

Por seu lado, Alvin Fletcher considera difícil envolver os jovens na música tradicional, por isso há um mês iniciou aulas de música com um grupo de oito a nove alunos.

Dentro de um ano, após “ensiná-los a ler notas musicais” e a tocar “os nossos antigos instrumentos”, Alvin Fletcher espera poder iniciar um grupo de batucada, por considerar o estilo apelativo para a geração mais nova, embora reconheça que precisará de patrocinadores para adquirir os instrumentos.

A comunidade de lusodescendentes de Malaca, que reúne cerca de mil pessoas num bairro perto do centro de Malaca, embora tenha elementos espalhados por outros pontos do globo, tem-se mantido fiel à herança portuguesa que os seus antepassados receberam há 500 anos, quando Afonso de Albuquerque conquistou a cidade. In “Observatório da Língua Portuguesa”

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