Malaca – Músicas de origem
lusa cantadas no crioulo português de Malaca, como “Maliao, maliao” e “Ti
Anika”, têm elevado o nome dos grupos folclóricos dos lusodescendentes na
Malásia, mas raramente são associadas a Portugal.
O nome do grupo “1511 O Maliao
Malaio Dance Troupe” faz referência ao ano que os portugueses tomaram Malaca,
mas, segundo o chefe do rancho, Gerard da Costa, o público raramente faz essa
associação.
O grupo é “sobretudo associado
com o governo”, mas “somos como embaixadores de Portugal de graça”, refere
Gerard de Costa, que dança desde os onze anos.
Deparando-se com a falta de
espetáculos para a festa do São Pedro do ano passado, Gerard e a esposa, Anne
de Mello, decidiram formar um grupo e fizeram a sua primeira atuação apenas
após “cinco dias de treino”.
No reportório dos ranchos dos
lusodescendentes há várias músicas que lembram Portugal, como o “Maliao, maliao”,
mas há também muitas canções criadas por habitantes locais, como “O Amor”,
composta pelo pai de Anne, Norman De Mello.
A diferença entre os grupos de
folclore da comunidade reside no estilo de dança, com alguns mais
aportuguesados, outros mais originais, mas todos se unem no derradeiro
propósito de defender o seu Portugal singular, nascido e criado em Malaca.
Há também diferentes trajes,
desde as típicas saias rodadas e lenços na cabeça usados pelos ranchos lusos à
blusa tradicional do Sudeste Asiático conhecida como kebaya, e passando ainda
por trajes de Natal vestidos apenas nesta quadra para combinar com as canções
natalícias.
Apesar do avultado
investimento em tempo e em dinheiro, ainda que o grupo tenha alguns
patrocinadores anónimos. Anne deseja que os seus filhos lhe sigam os passos de
dança, até porque “as pessoas amam as nossas músicas” e é uma forma de manter a
arte “viva”.
“Definitivamente queremos ir
lá [Portugal] e fazer algo para eles”, responde.
O marido completa, afirmando
querer “mostrar a Portugal que nós existimos aqui e que estamos a manter a
cultura portuguesa”.
Também o grupo cultural
DomMarina é “famoso” na Malásia, mas surge sempre “associado a Malaca” e não a
Portugal, segundo Jeremiah Hendricks, filho dos pais do grupo.
Dominic Hendricks e a esposa,
Marina Damker, formaram o conjunto de 20 pessoas em 2006 e hoje em dia procuram
músicas portuguesas no sítio Youtube para juntar ao reportório de músicas
locais.
Dominic Hendricks, que no ano
passado viajou a Dili a convite do governo timorense para atuar na cimeira da
Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), refere que sonha com o dia
em que será convidado a atuar em Portugal.
Os ensaios do DomMarina, onde
não faltam palavras em português, são liderados pelo octogenário Noel Felix e
às coreografias é imprimido um ar “mais moderno e mais vivo”, segundo o
fundador.
Jeremiah Hendricks quer
continuar o grupo iniciado pelos pais, porque estas manifestações culturais são
parte da sua identidade enquanto “português” de Malaca.
“Um, dois, três, anda”, diz
uma das crianças durante o ensaio do grupo de dança Troupa de Santa Maria,
iniciado por Sara Frederica Santa Maria no início deste ano, para “passar a
cultura para as crianças.”
Também os mais novos vestem
trajes portugueses e, nesta quadra natalícia, são convidados a brindar o Natal
com as suas danças fora de Malaca.
Por seu lado, Alvin Fletcher
considera difícil envolver os jovens na música tradicional, por isso há um mês
iniciou aulas de música com um grupo de oito a nove alunos.
Dentro de um ano, após
“ensiná-los a ler notas musicais” e a tocar “os nossos antigos instrumentos”,
Alvin Fletcher espera poder iniciar um grupo de batucada, por considerar o
estilo apelativo para a geração mais nova, embora reconheça que precisará de
patrocinadores para adquirir os instrumentos.
A comunidade de
lusodescendentes de Malaca, que reúne cerca de mil pessoas num bairro perto do
centro de Malaca, embora tenha elementos espalhados por outros pontos do globo,
tem-se mantido fiel à herança portuguesa que os seus antepassados receberam há
500 anos, quando Afonso de Albuquerque conquistou a cidade. In “Observatório
da Língua Portuguesa”
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