Lei Chi Veng, pintor de Macau e antigo
professor de arte de uma escola primária na Ilha Verde, fez renascer as
memórias, vivências e paisagens que caracterizavam a zona há 40 anos numa série
de pinturas em aguarela. Nas 80 obras expostas, o artista pretende reavivar as
“recordações colectivas” dos moradores com quem se cruzou ao longo dos anos,
quer sozinho como com os alunos que os acompanhavam nesse processo criativo a
quem presta agora uma pequena homenagem
“Nunca
me vou esquecer. Antigamente, a Escola Primária da Ilha Verde ocupava apenas um
andar. Mal cabia uma turma, os alunos corriam para os campos como se voassem, e
quando a campainha soava iam rapidamente para a sala. Antes, a escola estava
rodeada de flores e plantas muito coloridas. Mas todas estas imagens agradáveis
já desapareceram”, recorda Lei Chi Veng, autor de uma série de aguarelas
intitulada “Amor da Ilha Verde”.
Neste
sentido, Lei Chi Veng desvendou que o convívio com os alunos esteve sempre
presente no momento em que decidia pintar. “Aproveitávamos o tempo de aula ou
fora dela para nos deslocarmos a diferentes locais, onde captávamos momentos
harmoniosos na Ilha Verde que se tornaram hoje em memórias colectivas dos
moradores de Macau”, referiu.
Para
o artista, a essência desta exposição é o amor pessoal pela Ilha Verde, mas
também pelos alunos – companhia insubstituível e indispensável neste longo
caminho de produção artística. “Os moradores da zona eram muito pobres e
trabalhavam arduamente. Podiam comprar apenas um quarto ou construir uma casa
com chapas de zinco. Mas, na altura, todas abriam as portas das suas casas, sem
medo de serem assaltados. Era tudo muito natural”, recordou, entre sorrisos.
Contudo,
nem todos os alunos mostravam interesse em participar nesta actividade, pois o
estilo de vida na zona era “péssimo”. Aliás, afirmou, para os moradores mais
antigos as memórias da zona trazem cheiros desagradáveis, potenciados por um
calor extremo, mas típico de Verão. “Na altura, a escola só tinha uma ventoinha
e os estudantes costumavam concentrar-se na mesma sala de aula onde ela estava
instalada”, lembrou.
Noutra
pintura, Lei Chi Veng retrata uma idosa de pele escura, de pés descalços e
sentada numa cadeira de plástico, de costas voltadas para a parede da sua casa
erguida em chapas de zinco transparecendo uma tranquilidade solitária, ainda
que acompanhada por um gato que se encontrava igualmente relaxado. “São
paisagens, momentos, que praticamente já não existem. Desapareceram. E mesmo
que ainda existam, estão diferentes, como o Mosteiro da Ilha Verde rodeado de
lixo”, lamentou.
Sobre
os sentimentos que pretende transmitir aos espectadores, o pintor sublinhou a
palavra “recordações colectivas”, mas também o papel de incentivo junto de
estudantes pela arte. Lei Chi Veng diz ser positivo que os artistas locais
retratem mais nas suas obras os elementos locais, como o património cultural,
por ser favorável ao desenvolvimento do turismo local. Rima Cui – Macau in “Jornal Tribuna de Macau”
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