“Na escola do meu tempo nem todos lá entravam
e muitos dos que o conseguiam saíam ao fim de pouco tempo, ficando com a
segunda ou terceira classe, como então se chamava. Chegava para um país
atrasado, rural e sem necessidade de qualificação.
Na escola do meu tempo os rapazes estavam
separados das raparigas.
Na escola do meu tempo havia um só livro e
toda a gente aprendia apenas o que aquele livro trazia.
Na escola do meu tempo levavam-se muitas
reguadas, basicamente por dois motivos, por tudo e por nada.
Na escola do meu tempo, ensinavam-nos a ser
pequeninos, acríticos e a não discutir, o que quer que fosse.
Na escola do meu tempo eu era “obrigado” a
ter catequese, religiosa e política.
Na escola do meu tempo aprendia-se que os
homens trabalham fora de casa e as mulheres cuidam do lar e dos filhos.
Na escola do meu tempo não aprender não era
um problema, quem não “tinha jeito para a escola, ia para o campo”.
No tempo da minha escola, quem mandava no
país achava que muita escola não fazia bem às pessoas, só a algumas. Ao meu pai
perguntaram porque me tinha posto a estudar depois da quarta classe, não era
frequente naquele meio. Para ser serralheiro como ele não precisava de estudar
mais.
Na escola do meu tempo não se falava do lado
de fora de Portugal. Do lado de dentro só se falava do Portugal cinzento e
pequenino. Na escola do meu tempo eu era avisado em casa para não falar de
certas coisas na escola, era perigoso. As pessoas até podiam ser presas e
maltratadas.
Sim, eu sei, não precisam de me dizer que a
escola deste tempo ainda tem muitas coisas parecidas com a escola do meu tempo.
Também estou muito preocupado com o que vai acontecendo na escola de hoje.
Mas o caminho é mesmo melhorar a escola deste
tempo não é, não pode ser, querer a escola do meu tempo.” José Morgado – Portugal in “Diário de Notícias”
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