Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

domingo, 28 de abril de 2013

Mátria

PGL - Fernan Portas é galego nascido no Brasil, foi pressionado para que abandonasse o seu português, combatente contra o castelego que se fala na Galiza, a estratégia para o reintegracionismo deve ser paciência e sedução e aspira a que o governo central e autonómico deixe de ter medo.
 
Quê provocou em você a saudade do Brasil e o medo a perder a língua?
 
A certeza de que não votaria à mátria e o xenofobismo da cidade. Havia um acosso e crítica constantes da vila e da própria família em que deixássemos de falar português. Naturalmente nos entrava por um ouvido e saía pelo outro. Em casa e entre nós “sempre” em português. O povo que perde a sua língua, perde a sua identidade. E o poder despótico sempre quer corromper a língua, porque é o patrimônio cultural do povo. A mátria não é o meio geográfico, nem o conjunto de aparelhos econômicos e políticos. A mátria é o idioma, criado ou herdado pelo povo.
 
Como foi o contato com o Reintegracionismo?
 
Na Escola Oficial de Idiomas, um companheiro de aula estava nessa onda. Eu era bastante inclinado a que as pessoas daqui aprendessem português. Era um começo fácil, devido às dificuldades que há na Espanha para aprender idiomas, por culpa da dublagem e os métodos de ensino traduzido, que limitam muito a forma em que eu acho que se deve estudar uma língua, pela associação de ideias e imagens, sem ter sempre uma “língua primária” na qual tudo deve passar, como se fosse uma peneira.
 
Donde achas que vem a resistência em dizer: Sou galego e falo português?
 
No xenofobismo que todo povo hispânico tem. É um pecado original imposto pelos Reis Católicos que começou com seu sonho de uniformizar a Península Ibérica. A expulsão dos Judeus e Mouros, é a primeira prova disto. A Espanha é um país que não respeita as minorias porque tem muito pouca cultura democrática. Fomos governados sempre por Tiranos Autoritários e isso transformou o nosso caráter que é especialmente “intolerante” com tudo aquilo que é “diferente”.
 
Como foi a transmissão familiar da língua?
 
No meu caso é residual. Tive grandes dores de cabeça com minha mãe e irmã, que falam “portunhol” com meus sobrinhos, que já vivem numa cidade onde falar galego é difícil, português já é impossível. Os galegos fazemos duas coisas que todo logopeda e professor diz que não se deve fazer: Misturar e não marcar fronteira.
 
A pessoa que pretenda falar bem, duas línguas tão próximas, deve fazer muito esforço e eu entendo que nem todo o mundo está disposto. É esgotante estar todo o dia corrigindo e sendo corrigido. Mas é necessário, se não queremos acabar falando o “castelego” que se fala na Galiza.
 
Qual deve ser a estratégia para alcançar a hegemonia social?
 
Paciência e sedução. O modelo impositivo cria rejeição. É tempo de semear um futuro possível, porque a morte do galego é uma certeza. O português é o caminho da nossa reencarnação. Devemos fazer o possível pra convencer ao maior número de pessoas, pra que estudem português, que é como floresceu a nossa língua, graças aos Galaicos Bracarenses, que tiveram a sorte de se libertar de Castela e assim poder definir bem a sua nacionalidade... Infelizmente, os Galaicos Lucenses saímos perdendo, mas ainda estamos a tempo de criar um Renascimento, que uma decisão política e arbitrária, nos negou. O nosso caminho é o do sul.
 
Assim como o Cristianismo usou o latim pra se espalhar, o galego deve usar o português para se salvar da morte certa que terá dentro do Estado Espanhol. Já está acontecendo.
 
Que ganharíamos os galegos ligados aos países de língua portuguesa?
 
Liberdade. Nossa língua se dissolve no mar. Esse mar que não é o que nos dá de comer, é o mar da ignorância ao pensar que transformando-nos deixaremos de ser galegos.
 
Os portugueses cultos, sabem perfeitamente “donde vem a sua língua” e um grande número de intelectuais desejam receber-nos dentro da sua normativa. O único que devemos aceitar é o nosso lugar. Somos poucos, pequenos e estamos divididos. Enquanto estivermos assim, Castela não precisa nos matar, já nos suicidamos...
 
Temos experiência “meduliana”.
 
Que esperas da AGAL e que te animou a ser sócio?
 
Conhecer gente como eu e poder levar o meu grão de areia à reintegração. Foi muito gratificante ver a tanta gente estudada com o mesmo sonho... Espero aprender mais sobre a história da nossa língua e me sinto muito feliz de contribuir com esse sonho, que não tem nada a ver com a política.
 
O que eu quero é que o governo central e autonômico deixe de ter medo. Nós somos intelectuais, não somos terroristas. Por isso temos de trabalhar juntos e em paz, porque a paz é o caminho do conhecimento.
 
Como gostarias que fosse a Galiza do ano 2020?
 
Que o número de galegos estudantes de português aumente exponencialmente. É o único jeito de consertar este enguiço. E que o governo pelo menos deixe de pôr pedras no caminho, por medo a uma possível secessão da Galiza. Isso hoje é absurdo. O Reino Católico Castelhano nunca foi uniforme e homogêneo. Os galegos somo um povo prático, aqui do que se trata é de não desaparecer no dissolvimento, que já é preocupante, porque a minha geração, já têm filhos que não falarão nunca, a língua de seus avós...
In “Portal Galego da Língua” - Galiza


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