PGL - Fernan Portas é galego nascido no
Brasil, foi pressionado para que abandonasse o seu português, combatente contra
o castelego que se fala na Galiza, a estratégia para o reintegracionismo deve
ser paciência e sedução e aspira a que o governo central e autonómico deixe de
ter medo.
Quê
provocou em você a saudade do Brasil e o medo a perder a língua?
A certeza de que não votaria à mátria e o
xenofobismo da cidade. Havia um acosso e crítica constantes da vila e da
própria família em que deixássemos de falar português. Naturalmente nos entrava
por um ouvido e saía pelo outro. Em casa e entre nós “sempre” em português. O
povo que perde a sua língua, perde a sua identidade. E o poder despótico sempre
quer corromper a língua, porque é o patrimônio cultural do povo. A mátria não é
o meio geográfico, nem o conjunto de aparelhos econômicos e políticos. A mátria
é o idioma, criado ou herdado pelo povo.
Como
foi o contato com o Reintegracionismo?
Na Escola Oficial de Idiomas, um companheiro
de aula estava nessa onda. Eu era bastante inclinado a que as pessoas daqui
aprendessem português. Era um começo fácil, devido às dificuldades que há na
Espanha para aprender idiomas, por culpa da dublagem e os métodos de ensino
traduzido, que limitam muito a forma em que eu acho que se deve estudar uma
língua, pela associação de ideias e imagens, sem ter sempre uma “língua
primária” na qual tudo deve passar, como se fosse uma peneira.
Donde
achas que vem a resistência em dizer: Sou galego e falo português?
No xenofobismo que todo povo hispânico tem. É
um pecado original imposto pelos Reis Católicos que começou com seu sonho de
uniformizar a Península Ibérica. A expulsão dos Judeus e Mouros, é a primeira
prova disto. A Espanha é um país que não respeita as minorias porque tem muito
pouca cultura democrática. Fomos governados sempre por Tiranos Autoritários e
isso transformou o nosso caráter que é especialmente “intolerante” com tudo
aquilo que é “diferente”.
Como foi
a transmissão familiar da língua?
No meu caso é residual. Tive grandes dores de
cabeça com minha mãe e irmã, que falam “portunhol” com meus sobrinhos, que já
vivem numa cidade onde falar galego é difícil, português já é impossível. Os
galegos fazemos duas coisas que todo logopeda e professor diz que não se deve
fazer: Misturar e não marcar fronteira.
A pessoa que pretenda falar bem, duas línguas
tão próximas, deve fazer muito esforço e eu entendo que nem todo o mundo está
disposto. É esgotante estar todo o dia corrigindo e sendo corrigido. Mas é
necessário, se não queremos acabar falando o “castelego” que se fala na Galiza.
Qual
deve ser a estratégia para alcançar a hegemonia social?
Paciência e sedução. O modelo impositivo cria
rejeição. É tempo de semear um futuro possível, porque a morte do galego é uma
certeza. O português é o caminho da nossa reencarnação. Devemos fazer o
possível pra convencer ao maior número de pessoas, pra que estudem português,
que é como floresceu a nossa língua, graças aos Galaicos Bracarenses, que
tiveram a sorte de se libertar de Castela e assim poder definir bem a sua
nacionalidade... Infelizmente, os Galaicos Lucenses saímos perdendo, mas ainda
estamos a tempo de criar um Renascimento, que uma decisão política e
arbitrária, nos negou. O nosso caminho é o do sul.
Assim como o Cristianismo usou o latim pra se
espalhar, o galego deve usar o português para se salvar da morte certa que terá
dentro do Estado Espanhol. Já está acontecendo.
Que
ganharíamos os galegos ligados aos países de língua portuguesa?
Liberdade. Nossa língua se dissolve no mar.
Esse mar que não é o que nos dá de comer, é o mar da ignorância ao pensar que
transformando-nos deixaremos de ser galegos.
Os portugueses cultos, sabem perfeitamente
“donde vem a sua língua” e um grande número de intelectuais desejam receber-nos
dentro da sua normativa. O único que devemos aceitar é o nosso lugar. Somos
poucos, pequenos e estamos divididos. Enquanto estivermos assim, Castela não
precisa nos matar, já nos suicidamos...
Temos experiência “meduliana”.
Que
esperas da AGAL e que te animou a ser sócio?
Conhecer gente como eu e poder levar o meu
grão de areia à reintegração. Foi muito gratificante ver a tanta gente estudada
com o mesmo sonho... Espero aprender mais sobre a história da nossa língua e me
sinto muito feliz de contribuir com esse sonho, que não tem nada a ver com a
política.
O que eu quero é que o governo central e
autonômico deixe de ter medo. Nós somos intelectuais, não somos terroristas.
Por isso temos de trabalhar juntos e em paz, porque a paz é o caminho do
conhecimento.
Como
gostarias que fosse a Galiza do ano 2020?
Que o número de galegos estudantes de
português aumente exponencialmente. É o único jeito de consertar este enguiço.
E que o governo pelo menos deixe de pôr pedras no caminho, por medo a uma
possível secessão da Galiza. Isso hoje é absurdo. O Reino Católico Castelhano
nunca foi uniforme e homogêneo. Os galegos somo um povo prático, aqui do que se
trata é de não desaparecer no dissolvimento, que já é preocupante, porque a
minha geração, já têm filhos que não falarão nunca, a língua de seus avós...
In “Portal Galego da Língua” - Galiza
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