Porto Velho - A conta dos
ataques de piratas a embarcações de transporte de carga na Amazônia é bem maior
que o prejuízo de R$ 100 milhões estimado com o roubo de mercadorias. Para
evitar e se proteger dos criminosos, empresas de transporte têm reportado um
custo adicional de milhões de reais por ano com a contratação de empresas de
vigilância e escolta armada. A conta, essencial para a proteção das cargas, é
repassada ao frete e, mais adiante, ao consumidor.
Uma das líderes no setor de
cargas na região, a Transportes Bertolini (TBL) gasta cerca de R$ 4 milhões por
ano com o serviço para proteger cargas de eletrônicos da Zona Franca de Manaus
no trajeto de Belém a Santarém. "É um problema muito sério na Amazônia. No
Estreito de Breves (canal fluvial de acesso ao Arquipélago do Marajó), até
mataram um comandante", diz Irani Bertolini, dono da TBL e presidente da
Fetramaz, entidade que reúne as empresas de transporte na Região Amazônica.
Dois profissionais fardados e
armados viajam a bordo nos comboios e trabalham em regime de revezamento,
fazendo uma ronda nas embarcações. Nos trechos de maior incidência de ataques
piratas, ambos ficam em alerta. Ao todo, 40 profissionais prestam serviço para
a TBL.
Antes da contratação do
serviço, em 2015, a empresa havia sido alvo de seis ataques de piratas que
resultaram em prejuízo de R$ 500 mil, sobretudo com roubo de combustível. Os
piratas chegam em barcos menores e velozes e atacam de surpresa. "É a
linha vermelha da Amazônia. O risco é iminente", diz Ricardo Bonatelli,
gerente de navegação da TBL. Após a empresa contratar os serviços de escolta
armada, no entanto, os ataques cessaram.
A companhia de vigilância
Prosegur teve alta de 30% na demanda por seus serviços de 2016 para cá,
principalmente no Amazonas e no Pará, segundo o diretor Bruno Jouan. À medida
que os "piratas amazônicos" ficam mais ousados, a companhia também
renova seu "portfólio" - agora, está usando drones para monitorar
cargas.
Em busca de segurança, no
entanto, as empresas têm procurado o serviço de cabotagem, que representa quase
90% do transporte de mercadorias de valor agregado da Zona Franca de Manaus.
Segundo Eduardo Carvalho, presidente do Sindicato dos Armadores do Pará
(Sindarpa), isso tem tirado algumas empresas de transporte fluvial comum de
circulação.
"Apesar de a cabotagem
ser mais lenta, ela é mais segura. O contêiner sai da fábrica e chega ao
destino final com mais segurança do que o caminhão em cima da balsa e depois
por estrada", diz Claudomiro Carvalho Filho, vice-presidente do Sindicato
das Empresas de Navegação Fluvial do Amazonas (Sindarma).
O delegado Geraldo Pimenta
Neto, superintendente regional da Polícia Civil de Marajó Ocidental, no
município de Breves, afirma que os casos de roubo de carga na região têm
diminuído com a vigilância privada e a intensificação do monitoramento pelo
Grupamento Fluvial de Segurança Pública no Pará (GFLU), formado pelas polícias
civil e militar e pelo Corpo de Bombeiros.
À frente das operações da polícia
civil em dez municípios na região das Ilhas de Marajó desde dezembro, o
delegado disse que com o aumento do policiamento, os piratas migraram para
roubos a residências e estabelecimentos nas margens dos rios, sobretudo em
busca de óleo diesel.
Seguro
Outro problema é a dificuldade
de se fazer o seguro de cargas. "Ninguém consegue fazer seguro de roubo de
carga na Amazônia. Quando a seguradora aceita, o preço é impagável",
afirma Carvalho. Procurada, a Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg) informou
não ter dados sobre essa situação de seguros na Amazônia.
Outra consequência é o
fracionamento da carga em várias embarcações - o que também pesa no frete.
"São custos que atentam contra o desenvolvimento da Amazônia", afirma
Getulio Bezerra Santos, coordenador do Programa de Segurança das Operações de
Transporte de Cargas e Prevenção ao Delito (Proteger), da Confederação Nacional
do Transporte. A meta é construir uma base de dados sobre pirataria pelos
boletins de ocorrência, criando um sistema interligado de dados.
Adalberto Tokarski,
diretor-geral da Agência Nacional de Transportes Aquaviários, afirma que os
ataques piratas preocupam o órgão regulador. "É algo bastante complexo e
já estive conversando com algumas instituições, incluindo a Polícia Federal e a
Marinha, para ver qual é a solução para desmantelar e inibir essas ações."
Um dos principais entraves para coibir esse crime é a jurisdição dos órgãos de
segurança, pois algumas áreas são de competência de órgãos estaduais e outras,
de entidades federais. "É necessário criar ações coordenadas de
inteligência", defende Tokarski. As informações são do jornal. Karla Mendes – Brasil in “Estado
S. Paulo”
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