Carta aberta a intelectuais frívolos e
cientistas irresponsáveis
Estivemos
no fim de semana em Portugal. Na zona zero da grande desgraça. Do grande
Incêndio.
Nada
pode haver comparável com o horror das chamas a rodear o TODO. A envolver o
mundo. O ar e a Terra.
Nada
que possa devolver a vida as mais de 64 pessoas entrampadas na sua armadilha.
Na Trampa mortal.
Essa
gente tem nomes. Tinha nomes. Eu não os conheço, mas recuso-me a tratar deles
por números. Eles/as amaram, abraçaram, desejaram, correram, brincaram e
pagavam ao banco, como fazemos nós cada dia. Não eram culpados. Como não o são
as vitimas da guerra.
Eu
trato este drama de guerra. Uma guerra entre a economia que procura
o lucro pronto, fácil e UNIVERSAL e a gente do comum. As pessoas que são
utilizadas para cederem seu terrenos ante uma plantação única. Que vai ser
facilitada polas empresas madeireiras e de pasta de papel. O lucro pode ser
pouco para os indivíduos, mas é algo que fazer com aquela terreno que já não
trabalham. Por serem velhos. Por viver longe, ou por ter perdido os interesses
que o mundo da agricultura trazia. A maioria das pessoas, na Europa Ocidental,
moram nas cidades. Herdaram aquele terra de seu avôs e ficam gratas por
receberem alguns euros por cada corta de eucalitos. Turnos de corta cada vez
mais ajustados. Diziam-nos em Castanheira de Pêra ou Figueiró
dos Vinhos ou em Pedrogrão, que estes turnos estavam agora nos 7 anos.
As árvores queimadas que nós vimos eram delgadas, fraquinhas, direitas para o
céu por mais de 10 metros de alto. O lume que prendeu nelas foi logo para
acima, e fez as folhas e a cortiça saírem disparadas como bombas. Estas bombas
não caem de aviões de guerra, são disparadas desde a Terra, como mísseis que
logo prendem nas massas cerradas de eucalitos d’arredor.
Vimos
hectares e hectares de massas dessa nefasta monocultura, em pê. De menos de 30
cmts de diâmetro, descascadas, desfolhadas na sua maioria. Mas ainda em pê. E
como a natureza é um milagre, já começando a rebentar com novas folhas. Tudo ao
se redor ficara morto. Os animais do bosque, desde o ar até o subsolo:
Pássaros, mamíferos e vermes. Tudo o que faz a terra rica, diversa e viva para
continuar o caminho da evolução biológica. (Os poucos que ainda sobrevivem
baixo um eucalital!) Porque as massas de eucalitos, ainda antes de arder, já
são letais para a maioria dos seres vivos. Isso é um fato comprovado polos
cientistas. Mas nem era necessário seu contributo docto. Basta ver, ouvir e
andar por entre as massas de eucalitais para termos saudade do canto de pássaros,
Para votar de menos o voar dos insectos. Para lembrar como estranha o correr
dalguma limalha.
As
árvores nem são más nem boas. O que é errado é o manejo que delas
podem fazer os seres humanos. Na Galiza estamos numa situação parecida a de
Portugal.
Quer
na Galiza ou Portugal o eucalito é a espécie mais abundante entre as massas
florestais. Neste país o ultimo inventario ( 2013) regista 812.000 Hª.( o 22%
da superfície florestal) Na Galiza o inventário de 1998 dava um monto de
174.210Hª e na atualidade está nas 390.000Hºs, é dizer mais do 29% da
superfície arborizada galega.
Mas
estos são dados. Frios para discutir entre quem cobra do eucalito, e defende a
tudo custo as suas plantação sem limites, e quem pretende que não se instale a
sua monocultura como única opção para a Terra.
Os
dados quentes são os milheiros de hectares ardidas cada ano. Os brigadistas
morridos no salvamento dos incêndios, a perda de vidas e de Biodiversidade, o
aceleramento do Câmbio Climático o empobrecimento da terra.
Os
dados quentes são a criança abrasada em braços de seu pai dentro de um carro
com os vidros fundidos pelas altas temperaturas. Os dados quentes são o grupo
de bombeiros voluntários que queimado seu caminhão deitaram-se sobre as pessoas
para as ampararem com o seu corpo e seus trajes antifogo. Os dados quentes são
as populações em desamparo porque todas as estradas por onde fugir eram
caminhos de fogo mortal.
Os
dados quentes são as terras queimadas que irão cair até os rios ou as rias para
acabarem seu percurso mortal invadindo de cinzas as águas .As cinzas são ricas
em Sódio, que forma soda caustica em contacto com a água, rebaixando o seu PH e
provocando fortes alterações no ambiente mortais para a maioria de peixes,
mariscos e bicheria dos meios aquáticos.
Depois
de termos visto o de Portugal, e concluir que isso poderia ter sido igual na
Galiza há que se definir. Não valem frívolas elucubrações acerca
de manejos de dados para fazerem com eles malabarismos. É a realidade, que
sempre é teimosa, a que se impõe.
Há que acabar com esta política florestal!!
Aparecem
iniciativas vizinhais valiosas, como as de Casal de São Simão. São
movimentos cívicos que devem ser apoiados. Pretendem um trabalho comum de
eliminação de eucalitos a volta da aldeia numa franja de 500 metros, e mais:
Um
bom caminho corta lumes com lugar para virarem os caminhões e, ainda, charcas
no alto, recolhendo as águas da chuva, que vão manter o terreno húmido e
disponibilizar irão de água para eventualidades de incêndios.
Pretendem
preservar e repovoar com as espécies próprias da zona: Sobreiras medronheiros
(érvedos) que nascem lá espontaneamente. Restituir os habitats que a sucessão
ecológica criara durante centos de anos. Gerando riqueza no lugar que possa
atrair novos moradores.
Acolheram-nos
na sua casa com todo afeto e carinho para explicar-nos seus planos. O povo é
que se está a mobilizar de maneira calma e civilizada. Esta iniciativa é
seguida também pola aldeia vizinha de Ferreira muito mais afetada polo grande
fogo que Casal. E irá se estender a outros lugares como exemplo de boas
praticas cidadãs.
ADEGA
apoia esta ação de defesa contra o lume. Esta iniciativa voluntária e generosa
de trabalho comunitário. Junto com a Associação Quercus de Portugal tentamos
preparar atividades em comum de apoio a vizinhança sempre que eles quiserem e
solicitem ajuda. No máximo respeito as iniciativas nascidas da base do
povo.
Estas
iniciativas têm o valor de estourar nas caras da classe política para que estas
tomem conta do valor do COMUM e preparem leis estritas de
ordenamento das florestas e do território. Mas as leis não chegam. Têm
de serem cumpridas.
Na
Galiza existem muitas limitações a plantar eucalitos. Mas ficam no papel. ADEGA
tem feito, mais de trezentas denuncias no que vai de ano sobre plantações
ilegais de eucalitos e só uma mínima parte foi atendida e obrigado a levantar
as árvores.
Cúmplices
são a Confederación
Hidrográfica que mira para outro lado e põe mínimas multas sem
qualquer perigo para os infratores. A Xunta que ordena arquivar as denuncias,
os guardas florestais que não cumprem com o seu papel e deixam fazer, etc. Toda
uma estrutura corrompida que colabora para que o BEM COMUM da
Terra seja apenas para uns poucos poderosos, grandes industrias que mandam mais
que os governos eleitos polo povo. Os catedráticos de Universidade que fazem
florituras com dados manipulados e procuram o favor de quem lhes paga são
cúmplices também. Não queira a “providencia” que uma desgraça como esta lhes
caia na consciência. Poderão viver com ela?
Nós
definimo-nos por uma política florestal diversa. Polo aproveitamento
integral do Monte e do Bosque, pola diversificação de culturas e polo cumprimento
da LEI.
Ainda: As
massas de eucalitos devem ser eliminadas nesse continuo perigoso e agresivo que
têm na atualidade. A política tem de ser global e social.
Recuperemos
os nossos bosques: Caducifolios, diversos e adaptados ao ambiente local. Eles
fizerom de corta fogos, já nos grandes incendios do 2006 e
mostrarom outra vez esse valor protector no grande incêndio de
Portugal. Adela Figueroa – Galiza in “Portal Galego da Língua”
Adela Clorinda
Figueroa Panisse
é de Lugo (Galiza), fazedora de versos, observadora do mundo e cuidadora de
amizades. Trabalhadora no ambientalismo e na criatividade da palavra. Foi
professora e lutadora pela recuperação da dignidade da Galiza e, ainda, pela
solidariedade entre os seres humanos e a sua reconciliação com a terra. Gosta
de rir, cantar e de contar contos. Também de escutar histórias, de preferência
ternas e de humor.
Sem comentários:
Enviar um comentário