A
conselheira para as Comunidades Portuguesas considera que o Governo de Macau
não tem uma estratégia para o ensino do português, não havendo o fomento do
“cruzamento de culturas” entre alunos chineses e da Escola Portuguesa. Para
Rita Santos é preciso “vontade política” e sensibilizar as escolas privadas a
adoptarem o português, ensinando-se logo no nível primário
Colocando na linha da frente
do seu trabalho como conselheira das Comunidades Portuguesas a defesa e
implementação da Língua Portuguesa, Rita Santos, considera ser “preciso vontade
política” para tornar esse processo realidade no território.
“Gostaria de chamar atenção do
Governo da RAEM de que precisa definir uma estratégia sobre como é que vai ser
o ensino do português. Até agora não vi nada”, disse em declarações ao Jornal Tribuna
de Macau, acrescentando ser “preciso
sensibilizar as escolas privadas a ensinar português”.
Além disso, salientou que essa
“estratégia bem delineada tem de partir da base, da escola primária”, isto
porque “não se aprende português só ao entrar na universidade, aprende-se ao
longo do tempo e com convívio com a comunidade portuguesa”. Daí que admita ver
muitos recém-licenciados em tradução com “dificuldades” linguísticas e que não
conseguem traduzir.
“Quando vão para o Politécnico
ou Universidade de Macau, ou outras têm muitas dificuldades porque não
dominam”, declarou, acrescentando que o facto de não haver “fomento do
cruzamentos de culturas entre os alunos das escolas chinesas e da Escola
Portuguesa” também contribui para essa situação.
“O Chefe do Executivo diz que
só temos 200 intérpretes tradutores… é lamentável dizer isto”, disse Rita
Santos, que também considerou “chocante, deputados que representam o povo e
devem respeitar a Lei Básica” quererem o inglês como língua oficial.
Questionada sobre a situação
actual dos serviços consulares portugueses na RAEM, Rita Santos afirmou
existirem melhorias.
“Não temos queixas do Cônsul
Geral de Portugal em Macau, que tem feito um esforço muito grande para
aperfeiçoar o sistema de marcação para tratar dos documentos e um esforço na
divulgação de actividades culturais e económicas da comunidade”, declarou a
representante.
Apesar disso, reiterou que a
falta de pessoal e os salários incompatíveis com a realidade de Macau são um
problema. “Transmitimos essa preocupação ao Secretário de Estado das
Comunidades para ver se é possível repensar o nível do vencimento do pessoal
consular, porque corremos o risco dos actuais funcionários se reformarem e quem
é que os vai substituir com um salário tão baixo?”, questionou, sublinhando que
a contratação “é urgente”.
Referindo que um guarda de um
prédio ganha mais do que o oferecido no último concurso para o Consulado, notou
que a falta de pessoal afecta diversos departamentos, incluindo vistos para
Portugal e outros assuntos como aquisição de nacionalidade, casamento, cartão
do cidadão para bebés, que neste caso podem demorar dois anos.
“Por mais esforço que o Cônsul
faça tem de haver correspondência e vontade política portuguesa de olhar para
Macau não apenas como RAE da China, mas como uma região que a China apoia para
servir de plataforma de cooperação entre a China e Lusofonia”, salientou,
defendendo que “há que olhar para Macau por outro prisma”.
Frisando que “Macau não é
igual aos outros [países e regiões]” e o Consulado serve cerca de 180 mil
pessoas, indicou que os conselheiros vão continuar a insistir no assunto em
Lisboa, apesar das respostas dadas serem “politicamente correctas e floreadas”.
Portugueses
de Timor ainda usam B.I.
Rita Santos como presidente do
Conselho Regional Ásia Oceânia visitou a Embaixada de Portugal em Timor-Leste,
recentemente, tendo-se deparado com os antigos bilhetes de identidade. “Qual
não foi o meu espanto quando vejo que ainda usam o bilhete de identidade
antigo, não têm cartão do cidadão”, disse ao Jornal Tribuna de Macau,
acrescentando ainda que apenas existe uma máquina para tratar do passaporte.
“Estou a preparar um documento para sensibilizar o Ministério dos Negócios
Estrangeiros para ter mais atenção a esta situação e ao povo que tanto gosta da
bandeira portuguesa”, afirmou. Segundo explicou, vai pedir um aumento do número
de pessoal na Embaixada e actualização dos sistemas. Por outro lado, elogiou o
envio de professores de português para Timor Portugal, investimento que está a
dar frutos, junto das crianças.
Propina
na Diáspora é “discriminatória”
O Conselho Permanente das
Comunidades Portugueses enviou um parecer ao Ministério dos Negócios
Estrangeiros português onde defende que a introdução de propinas no Ensino de
Português no Estrangeiro (EPE) “ignora disposições constitucionais” (art.74) e
trata de “forma discriminatória e injusta os portugueses que residem fora do
país”. No documento assinado por Flávio Martins, lê-se que “uma das formas de
afirmação de Portugal no Mundo é feita pela expansão da Língua e Cultura
portuguesas e apostar no ensino” dessas duas vertentes “não deve ser encarada
como uma despesa, mas sim como um investimento necessário para o presente e
para o futuro de Portugal”. Na carta é referido ainda que os alunos de EPE são
os únicos portugueses que pagam propina no ensino básico e secundário, pelo que
é pedida da revogação da medida. Liane
Ferreira – Macau in “Jornal Tribuna de Macau”
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