Os Factos da
Quinzena
1º Facto: Ainda sobre a Lei da Amnistia
Para quem se lembre, na
abordagem que fiz sobre este tema, na quinzena passada, tive hesitações em
pronunciar-me sobre os aspectos técnico-jurídicos que implicam a aplicação da
recentemente aprovada Lei da Amnistia, à situação dos elementos do conhecido Processo
dos 17 ou 15+2.
Acontece, porém, que em
depoimentos que encontro nas redes sociais, são alguns dos próprios elementos
(que na tentativa de desembaraço de tensões actuais do poder, são ou poderão
ser objectos de tal libertação) que, com toda a coerência e clareza, levantam o
mesmo problema: como amnistiar quem não foi condenado por qualquer crime?
Mantenho a minha ideia, se
calhar decorrente desta já vetusta idade, de que mais vale um homem livre
(mesmo sob condições) do que alguém com a sua dignidade completamente vergastada
no tipo de cadeias que temos. Mas não posso deixar de reconhecer que faz
sentido que estes jovens lutem até onde as suas forças cheguem para termos,
pelo menos, alguém que diga “Não” a toda esta construção perversa de que
necessariamente nos envergonhamos.
2º Facto: As voltas a Luanda com Mónica Almeida, a esposa de Luaty Beirão
Devia-se pôr fim a este tipo
de missões, em que elementos das nossas forças da ordem e segurança, em vez de
centrar a sua atenção na defesa física dos homens e mulheres de Estado e,
particularmente, na garantia da integridade e estabilidade do país em vários
domínios, despendem as suas energias em perseguições, simulações, ameaças
expressas e veladas contra cidadãos que procuram apenas exercer os seus
direitos e contribuir com suas ideias e práticas para um presente suportável e
um futuro melhor.
3º Facto: África do Sul: quando eleições valem para mudar alguma coisa
As recentes eleições
autárquicas na África do Sul, com o poderoso ANC a perder, sem dramas,
preponderância em centros urbanos de grande importância, demonstraram ser uma
resposta positiva da sociedade sul-africana ao tendencial desvio para a
“africanização” de pior sentido (corrupção impune, clientelismo larvar ou
ostensivo e divinização das chefias) que ganhava preocupante aceleração, sob a
liderança do presidente David Zuma.
Em Angola isso não
aconteceria, porque não temos um estado que se posiciona acima dos partidos
para dirimir situações prejudiciais. O Estado é instrumento de um homem, sua
família e amigos, para esmagar o resto da sociedade, até as últimas
consequências. Admira-me, por isso, o entusiasmo com que sectores da sociedade angolana,
especialmente partidos políticos, aspiram por espectaculares resultados
eleitorais, quando até pelas leis que vão sendo aprovadas e por vários gestos
claros como a água cristalina, se reforça ainda mais a dependências das futuras
eleições a José Eduardo dos Santos e seus filhos, admiradores ou simples
aduladores. É minha convicção que quando o Estado está tomado por um grupo
minoritário, não há eleições que valham para coisa alguma. Por isso é que tenho
repetido que os únicos elementos da sociedade que estão a apontar para a saída
estratégica correcta desta situação, são os chamados “revus”. Infelizmente, não
contam com mais do que algumas mensagens fugazes de solidariedade de poderosos
partidos políticos da oposição, que prometem fazer melhor depois que tenham as
eleições ganhas. Que eleições?!
4º Facto: Os Jogos Olímpicos do Rio ou de qualquer outra parte do mundo e a
utopia de John Lennon
Sempre que se cumpre em qualquer parte
do Mundo, uma dessas fantásticas jornadas nascidas da ideia do Barão de
Coubertin, a de rememorar a quebra de barreiras e guerras temporárias entre as
cidades-estado da antiga Grécia, ressoa-me aos ouvidos a bela letra e
respectiva melodia de John Lennon: Imagine:
Imagine there’s no Heaven/It’s easy if you try /And no Hell bellow us
/Above us only sky (...)/ Imagine there’s no country/ It isn’t
hard to do/ Nothing to kill or die for (......)/I hope someday you will join us
/ And the world will be as one
Esse dia ainda não chegou mas mantemos a
esperança. Foi comovente ver no Rio, coreanos do Norte e do Sul aos abraços,
como se o seu mundo já fosse apenas um.
5º Facto: A morte do menino Rufino, ponta de um iceberg dentro de um sistema de
certa justiça social e política
Não é o primeiro caso dramático
que acompanha a usurpação de terras e destruição de moradias, cumprindo a
palavra de ordem do Presidente Santos, que decretou, desta feita, o que chama
de acumulação primitiva do capital por alguns angolanos. Como disse o
responsável pela ONG SOS-Habitar, que tão bem tem acompanhado a problemática,
ignorada por uma comunicação social pública obrigada a insultar putativos
opositores e a enaltecer os feitos do “arquitecto da paz”, não se é permitido
indagar das razões que levaram os ocupantes a chegar até ali, com tantas
guerras que houve, nem da natureza da propriedade originária. Como é que num
país de Justiça, se constitui uma comissão militar para executar decisões que
só a um tribunal competem?
6º Facto: A choradeira de um juiz que Januário se chama
Da forma como o senhor juiz
julgou, sem qualquer critério jurídico, os chamados “revus”, apenas querendo
exibir a sua condição supra-humana, a choradeira na sua carta às entidades
superiores que supostamente não reconheceram os seus bons serviços, só pode ser
ou fingimento combinado ou demonstração de que o senhor passou por uma formação
jurídico-judicial inexistente. Se assim for, já é tarde. O melhor será
desistir. Marcolino Moco – Angola in “Moco
Produções”
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Marcolino
José Carlos Moco – Nasceu em Chitue, Município de Ekunha, Huambo a
19 de Julho de 1953. Licenciado em Direito e mestre em Ciências
Jurídico-Políticas pela Universidade Agostinho Neto, e doutorando em Ciências
Jurídico-Políticas na Universidade Clássica de Lisboa. Advogado, Consultor, Docente
Universitário, Conferencista. Primeiro-ministro
de Angola, de 2 de Dezembro de 1992 a 3 de Junho de 1996 e Secretário-Executivo
da CPLP – Comunidade dos Países de Língua Portuguesa – de 1996 a 2000.
Governador de duas províncias: Bié e Huambo, no centro do país, entre 1986 e
1989, Ministro da Juventude e Desportos, 1989/91.
Marcolino
Moco & Advogados - Ao serviço da Justiça e do Direito
Marcolino
Moco International Consulting
www.marcolinomoco.com
Avenida de
Portugal, Torre Zimbo. Nº 704, 7º andar
Tel:
930181351/ 921428951/ 923666196
Luanda - Angola
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