SÃO PAULO – Que boa parte da atual
crise político-econômica pela qual o País passa hoje se deve a erros na
condução da política externa, não há dúvidas. Basta ver que a diplomacia
brasileira de 2004 a 2011, praticamente, descuidou do aspecto comercial,
tentando conquistar para Brasil – e para o então presidente Lula – um hipotético
prestígio no mundo por meio de uma possível integração sul-americana, de novas
parcerias com países árabes e africanos e as demais nações do Brics (Rússia,
Índia, China e África do Sul).
Dentro dessa estratégia, o Mercosul
deixou de ser um bloco comercial para se tornar um fórum de discussões
políticas e ideológicas. Em nome de uma imaginária liderança, o País teve de
suportar uma série de desaforos de governos ditos bolivarianos. Hoje,
infelizmente, o Mercosul só tem acordos com países que representam menos de 10%
do Produto Interno Bruto (PIB) mundial, o que o deixa, praticamente, de fora
dos principais mercados.
Em nome dessa utopia, o governo
brasileiro trabalhou, em conjunto com o governo argentino, pelo fracasso das
negociações com os Estados Unidos para a formação da Área de Livre Comércio das
Américas (Alca) e nunca conseguiu unir e liderar o Mercosul a ponto de oferecer
uma proposta que pudesse alcançar consenso com os negociadores da União
Europeia. A filosofia seguida era que tanto Estados Unidos como UE queriam
apenas que entregássemos as nossas jóias, dando em troca bijuterias.
Bem, o resultado disso pode ser hoje
medido em números: a participação dos produtos manufaturados na pauta comercial
brasileira, que em 2000 era de 59%, em 2014 foi de 36% e, em 2016,
provavelmente, alcançará índice ainda menor, em consequência da perda de espaço
no mercado norte-americano, o maior do planeta, da falta de políticas de
inovação para a indústria e de outros projetos de expansão do comércio
exterior.
Já as commodities, que tinham uma participação de 38% em 2000, passaram a
representar 60% da pauta de exportações em 2014. É de se lembrar que commodities (matérias-primas) são
mercadorias sem agregação de valor e que geram poucos empregos. Tudo isso
resultou no fechamento de postos de trabalho no setor industrial e nos
segmentos ligados ao comércio exterior. Quer dizer, o País, praticamente, voltou ao
tempo do colonialismo, quando era apenas fornecedor de matérias-primas.
O que se espera, portanto, do atual
governo é que adote um novo modelo de exportação que desonere o produto, ao
longo de toda sua cadeia produtiva, além de tornar o seu sistema tributário
cada vez mais simples e competitivo, de modo a onerar cada vez menos as
empresas, já que tão cedo o País não conseguirá tornar sua infraestrutura de
transporte mais eficiente nem se livrar de seu pesado custo logístico. Milton Lourenço - Brasil
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Milton Lourenço é presidente da Fiorde
Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de Despachos,
Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e da
Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística
(ACTC). E-mail: fiorde@fiorde.com.br. Site:www.fiorde.com.br
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