Os Factos da
Quinzena [*]
1º Facto: Começou o 7º Congresso do MPLA
Com uma novidade: 1- Os
discursos do Presidente JES que sempre primaram pela sua capacidade
manipuladora e dormência repetitiva, desta vez alcançaram o condão da
risibilidade: quem são os empresários que enriquecem ilicitamente, em Angola e
no exterior: os próximos de Sª Exª ou as nossas irmãs e filhas quitandeiras,
que levam "porrada" todos dias?
2º Facto: Minha análise sobre a posição do veterano do MPLA, Ambrósio Lukoki
Oiço que há críticas contra o
veterano Lukoki, por se ter recusado a integrar o novo comité central do MPLA e
ter colocado as suas ideias fora das estruturas do partido, promovendo uma conferência
de imprensa paralela a um congresso do partido, em curso. Diz-se que deveria
ter apresentado uma candidatura sua, dentro do período estabelecido para o
efeito e concorrer interna e pacificamente, contra José Eduardo dos Santos
(JES).
Pedirei aos que assim se
pronunciam – se o dizem de boa-fé, por desconhecimento de causa – que se
dediquem a investigar um pouco, para poderem concluir sobre esta real
possibilidade, dentro de um partido onde, por promoção do próprio JES, todos os
caminhos neste sentido estão bloqueados. Para quem se deve lembrar, eu levantei
este problema em 2001, em várias entrevistas (Agora, Folha 8 e Angolense).
Vou ser muito franco, até
porque tratei deste problema, num ângulo, o mais cientificamente possível, no
meu último livro “Angola: estado-nação ou estado-etnia política”, uma tese que
vai, aliás, ao encontro de Lopo de Nascimento, ao despedir-se da vida política
na Assembleia Nacional, em 2014. O problema hoje já não é de salvar a imagem e
os valores que o MPLA sempre defendeu e ou corrigiu, ao longo dos anos, como
parece ser ainda a preocupação de Lukoki. Eu, pelo menos já desisti disso. É
que isso tornaria JES um homem igual aos outros militantes mais ou menos
experientes. Mas acontece que isso amedronta a muita gente, sobretudo a uma
certa elite, que agora vai se mobilizar em termos de invocações étnicas,
rácicas e regionalistas, como aliás já se viu nas entrelinhas do discurso do
Presidente, ao declarar que o partido é de todas as raças, todas etnias,
regiões, etc. e mais alguma coisa, como se o problema fosse esse.
Todos sabemos que o problema,
hoje por hoje, é que o país está a ser entregue a uma só família, parentes e
amigos de ocasião, fora e dentro do país.
3º Facto: Partidos políticos portugueses no II Congresso do MPLA: ideologias ou
interesses?
Muitos se falou e ainda se
fala sobre este facto. No meu ponto de vista as questões ideológicas da
equação, nas relações Angola Portugal, no plano partidário, há muito se
perderam, especialmente, com a queda do Muro de Berlim. Aliás, em África –
podemos visualizá-lo agora melhor – essas questões só serviam para encobrir a
defesa de interesses geo-estratégicos.
Neste âmbito, achei
completamente sem sentido e mesmo lamentáveis as declarações que se atribuem ao
representante do Partido Comunista Português (PCP), que o expuseram como
imaturo ou ignorante, já que o oportunismo, numa vertente tão descarada, não
costuma caracterizar tanto o PCP. Entendo que o PCP possa invocar razões de
soberania, como o tem feito, no caso da rejeição de projectos parlamentares do
Bloco de Esquerda (BE), de condenação à repressão contra as liberdades em
Angola, mesmo quando inclua vítimas luso-angolanas. Na mesma medida não posso
entender que o PCP destrate, com invocações passadistas, um partido político
angolano – a UNITA – agora apenas adversário político do MPLA, depois de se ter
estabelecido um pacto que constitui a trave mestra daquilo por que o povo
angolano – e por contaminação, o povo português, tendo em conta os laços –
aspirou durante tantos anos – o silêncio das armas. Ideologias não salvam vidas
nem estabilizam estados, particularmente, em África.
A vida ensina-nos, hoje por
hoje, que vale o que se faz e não o que se escreve ou se diz. O MPLA, hoje, não
tem outra ideologia que não a de submeter-se a José Eduardo dos Santos,
apoiá-lo a troco de alguns favores, para deixá-lo apossar-se, à vontade, de
enormes recursos do país e manter o poder definitivamente, com o apoio do
exterior, que se defende com a falácia do respeito à soberania, onde o
interesse de indivíduos é confundido com os interesses públicos.
Não há mal nenhum que partidos
de um e de outro lado se convidem mutuamente para determinados eventos. Mas é
fácil intuir o motivo do destaque que se deu aos partidos portugueses no VII
Congresso do MPLA: salvar a imagem afundada do líder incontestável,
impressionando os angolanos que deverão continuar a pensar que eternizar-se no
poder para enriquecer, de tal monta, a família e amigos, dentro e fora do país,
traz um enorme prestígio, pelo menos, na nossa antiga metrópole.
4º Facto: Apóstolos João e Paulo na direcção do MPLA: que esperanças?
Tentava remover alguns problemas para
poder opinar sobre a nomeação João Lourenço e Paulo Kassoma, para os cargos de
Vice-Presidente e Secretário-Geral do MPLA, respectivamente, quando o primeiro
logo me afastou as dificuldades, para recordar a verdade àqueles que já se
animam com a ideia de que desta vez o “chefe” vai mesmo sair, “que bom!” E
sempre, para meu espanto, com tanto tempo de escola do assunto que temos, com a
ideia peregrina de muitos (partidos políticos e outras entidades individuais e
colectivas, fora e dentro do próprio MPLA) de que a saída do Homem, em si, é
que vai resolver o problema de Angola, que é deveras grave.
João Lourenço é referido no sítio Rede
Angola (RA) como se tendo surpreendido, com a sua indicação (eleição) para
segundo homem do MPLA. Diz que antes altercou com um jornalista que estava
convicto que as coisas acabariam assim, enquanto ele dizia da sua convicção de
que tudo não passava de especulação. Mas quando lhe colocaram a questão de se
saber se estava ou não preparado para substituir o chefe, aí, mesmo depois de
prometer trabalhar muito, lembrando-se, com certeza, do que lhe acontecera nos
princípios do século, quando ocupava, pela primeira vez, esta mesma aparente
“pole position”, foi escusar-se a comentar.
Este é o problema. A caminho da terceira
década do estabelecimento da democracia multipartidária no país, no maior
partido que se diz deter o poder como associação de vários indivíduos, a
ascensão para cargos tão importantes continua a depender de um só homem; cuja
estrutura pessoal de apoio informa primeiro determinados jornalistas, para que
os “eleitos” não se convençam que estarão lá por mérito próprio. Os homens
indicados (depois necessariamente “eleitos”) para criar certas ilusões, por
mais valiosos que sejam, como João Lourenço e Paulo Kassoma, só podem prometer
muito trabalho. Nunca podem ter ambições pessoais, no domínio político. Sempre
é muito cedo, mas a verdade é que “nunca mais é sábado”, como se dizia
antigamente. Marcolino Moco –
Angola in “Moco Produções”
[*] Textos, por
ordem cronológica, à volta do VII Congresso do MPLA adaptados de post’s nas
minhas páginas pública e privada do FB.
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Marcolino
José Carlos Moco – Nasceu em Chitue, Município de Ekunha, Huambo a
19 de Julho de 1953. Licenciado em Direito e mestre em Ciências
Jurídico-Políticas pela Universidade Agostinho Neto, e doutorando em Ciências
Jurídico-Políticas na Universidade Clássica de Lisboa. Advogado, Consultor, Docente
Universitário, Conferencista. Primeiro-ministro
de Angola, de 2 de Dezembro de 1992 a 3 de Junho de 1996 e Secretário-Executivo
da CPLP – Comunidade dos Países de Língua Portuguesa – de 1996 a 2000.
Governador de duas províncias: Bié e Huambo, no centro do país, entre 1986 e
1989, Ministro da Juventude e Desportos, 1989/91.
Marcolino
Moco & Advogados - Ao serviço da Justiça e do Direito
Marcolino
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Portugal, Torre Zimbo. Nº 704, 7º andar
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