A administração do Canal de
Suez estipulou reduções de 30% sobre as tarifas cobradas para trânsito no
canal, depois de registrar quedas significativas no tráfego de 2015, causadas,
entre outros motivos, pelo desvio que as linhas de containers passaram a fazer
pelo Cabo da Boa Esperança. Com os preços de combustível marítimo (bunker)
registrando índices entre os mais baixos da história, mesmo com a distância, o
caminho alternativo ainda se mostrou vantajoso, de acordo com publicação do Journal of Commerce.
O paradoxo é que,
historicamente, o Canal de Suez foi construído entre 1859 e 1869, justamente
como alternativa ao trânsito marítimo entre o Mar Vermelho e o Mediterrâneo, de
forma a evitar o longo percurso pelo Cabo da Boa Esperança. As obras, patrocinadas
por Egito e França e conduzidas pelo francês Ferdinand de Lesseps, receberam
uma minuciosa visita do imperador brasileiro Dom Pedro II, que buscava
conhecimento e inspiração para desenvolver a economia do Brasil. O imperador
não pôde comparecer à cerimônia de inauguração, no entanto escreveu uma
narrativa na qual descreve uma “Viagem Imaginária à Abertura do Canal de Suez”.
O desconto oferecido pela
autoridade de Suez não se aplica a todos os navios porta-container que passam
pelo canal, e tende a ser especificamente dirigido a embarcações cujas rotas
apresentem a possibilidade de desvio pelo Cabo da Boa Esperança. Outros navios
podem requerer o desconto à SCA (Suez Canal Authority) por meio de sua agência
de navegação. Para isso, os armadores precisam enviar um certificado do porto
de origem, e declaração de chegada ao próximo destino, dentro do prazo de 60
dias a partir do trânsito no canal.
Os descontos começaram a ser
aplicados no início de março e vão expirar em 5 de junho, quando poderão ser
renovados, a critério da SCA.
O Canal vem lutando para
justificar a dispendiosa expansão que permitiu o tráfego em via dupla que
inaugurou em agosto, graças ao qual a SCA previu aumento de receita de até 260%
até 2023. Entretanto, analistas vêm questionando o embasamento dessa
estimativa, uma vez que ela depende intrinsecamente de um aumento nos volumes
globais de mercado até a data estabelecida.
Suez também está prestes a
entrar em uma competição acirrada com o Canal do Panamá, assim que as novas
eclusas, maiores do que as atuais, forem inauguradas, permitindo a passagem de
navios de até 14 mil Teus a partir de junho. As atuais limitações do Panamá
garantiram para o Canal de Suez um mercado relativamente cativo de meganavios
na rota entre a Ásia e a Costa Leste dos EUA, um cenário que está prestes a
mudar. Cleci Leão – Brasil in “Guia
Marítimo”
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