I
Composto pelas histórias
pessoais e empresarias de 51 empreendedores em atividade entre 1962 e 2013, o
livro Empresários Brasileiros ajuda a
compreender a construção do capitalismo no País. Escrita pelo administrador, empresário
e poeta Latif Abrão Jr. e pelo jornalista e escritor Marcos Barrero, a obra, luxuosamente
produzida em formato mesa (30x25cm) e com capa dura, reúne as biografias de
líderes empresariais que, ao longo daquele período, conquistaram o título de
Personalidade Nacional de Vendas, instituído pela Associação dos Dirigentes de
Vendas e Marketing do Brasil (ADVB). E marca, ao mesmo tempo, não só a
contribuição da ADVB para a sociedade brasileira em seus quase 60 anos de
existência como reconstitui a história do empreendedorismo, a saga do comércio
e da indústria do Brasil.
Obviamente, o leitor arguto irá
desconfiado ao encontro deste livro, imaginando que terá pela frente uma obra
encomiástica, tal como aquelas que empresas e entidades costumam fazer para
comemorar datas redondas, cheias de louvações a capitalistas antigos ou a
outros ainda em ação, mas, desde logo, adverte-se aqui para o engano. Na
realidade, este é um livro surpreendente da primeira à última linha porque as
histórias aqui resgatadas são apresentadas sem nenhuma complacência com seus
personagens, mas atreladas apenas à verdade dos fatos.
Mais: foram escritas ao
estilo do new journalism norte-americano
de Trumam Capote (1924-1984), Gay Talese (1932), Norman Mailer (1923-2007) e
Tom Wolfe (1931), levando o leitor a uma viagem pelo Brasil que trabalha e
constrói. Até porque um de seus autores, o jornalista Marcos Barrero, é
reconhecidamente dono de um dos melhores e mais brilhantes textos de sua
geração.
De se observar é que, das 51
personalidades escolhidas pela ADVB, apenas uma é mulher, o que pode significar
que o capitalismo brasileiro tem sido majoritariamente obra de homens, deixando
concluir que o País ainda está muito distante na luta pela igualdade dos sexos.
A honrosa exceção é a empresária Sônia Hess de Souza, sexta filha de uma
costureira e de um poeta que, em 1957, criaram uma firma para coser roupas. Com
tenacidade e destemor para enfrentar um mundo de homens, Sônia fez da obra dos
pais, a Dudalina S.A., a maior camisaria da América Latina.
II
Seja como for, a leitura
destes perfis ajuda também a compreender a própria história do capitalismo
brasileiro que nasce, a rigor, depois da morte da Velha República em 1930, com
o afastamento do poder de alguns grandes proprietários de terras, especialmente
cafeicultores. Mas foi a partir do final da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) que
o Brasil começou a se modernizar, com a abertura de algumas indústrias, que
puderam ajudar o governo a colocar em prática a política da substituição das
importações.
A essa época, São Paulo já
aparecia como o mais importante centro industrial da América Latina. Muitos
empreendedores já eram filhos e netos de imigrantes italianos que assumiam e
comandavam os negócios de seus ancestrais. No mundo, os Estados Unidos surgiam como
os líderes do bloco capitalista, aumentando sua influência sobre os vizinhos
latino-americanos. O seu modelo de vida começava a chegar aos brasileiros,
através das ondas do rádio, dos jornais e revistas e pelos filmes que vinham de
Hollywood.
Adolpho Bloch dono do Grupo Manchete |
III
Samuel Klein |
À frente de seus negócios,
nem sempre os empreendedores foram exitosos. Quer dizer, se à época da
contemplação do prêmio Personalidade Nacional de Vendas viviam o auge de sua
vida empresarial, muitos tiveram de conviver mais tarde com decepções e até
mesmo enfrentar os caminhos da Justiça comum. Entre as biografias daqueles que
são exemplos de empreendedorismo, estão as de Roberto Marinho (1904-2003),
Samuel Klein (1923-2014), Abílio Diniz (1936), Mauro Salles (1932), Roger
Agnelli (1959-2016), Eugênio Staub (1942), Rolim Adolfo Amaro (1942-2001), Luiz
Fernando Furlan (1946), Abram Abe Szajman (1939) e José Luiz Gandini (1957),
entre tantos outros. Mas há outros tantos que não tiveram tanto êxito assim,
como Victor Pike (1923-1995), executivo norte-americano que veio para montar a
divisão da Chrysler do Brasil, mas que acabaria seus dias recolhendo frutas
rejeitadas nas feiras-livres do bairro do Brooklin, em São Paulo, depois de ter
sido passado para trás por colegas da própria empresa.
Walter Clark |
Ou ainda o banqueiro Edemar
Cid Ferreira (1943), fundador do Banco Santos e conhecido mecenas das artes,
que acabaria punido pela Justiça, acusado de golpes no sistema financeiro, e
Paulo Roberto de Andrade (1947), antigo dono da Fazendas Reunidas Boi Gordo,
igualmente acusado de fraudes, protagonista do maior escândalo do agronegócio
no País, como se lê no livro. Ou ainda o executivo Walter Clark (1936-1997),
tido como o criador da TV Globo, que casou e teve filhos com as mais belas
atrizes e socialites de sua época, mesmo sendo empregado, sem nunca ter chegado
a patrão, a par de exibir um dos mais altos salários do País. E que morreu
quase na pobreza, a ponto de ter tido seu funeral custeado por um ex-colega da
TV Globo.
O livro, porém, começa com um
vendedor de publicidade, Mário Pacheco Fernandes (1928), que, se não chegou a
se tornar um gigante empresarial, passou para a história da indústria
automobilística nacional como o inventor da Romi-Isetta, uma versão nacional de
um exótico carrinho fabricado na Itália que chegou ao Brasil em 1959, depois de
uma associação da indústria italiana Isetta com um grupo paulista. A história
da Romi-Isetta se confunde com a história da construção de Brasília e com o
auge do cinema nacional e do início da TV no Brasil como veículo de massas, já
que das campanhas publicitárias do mini-automóvel participaram os grandes
artistas da época.
IV
Latif Abrão Jr., nascido em
Franca-SP, administrador pela Fundação Getúlio Vargas e bacharel em Direito
pela Universidade de São Paulo (USP), é presidente da ADVB e superintendente do
Instituto de Assistência Médica dos Servidores Públicos Estaduais (Iamspe).
Empresário, sócio-proprietário do Hotel Terras Altas, em Itapecerica da
Serra-SP, é autor dos livros de poemas Criado-Mudo
(Editora Callis, 2005), ilustrado por ele, e O Sentimento da Pedra (L2M, 2013). É autor também do livro de
ensaios Administração & Poesia
(L2M, 2013). Como executivo, atuou nas empresas Companhia Energética de São
Paulo (Cesp), Corporação Bonfiglioli, Vasp-Companhia Aérea de São Paulo e no
grupo Notre Dame Intermédica, onde ocupou a presidência da empresa. Foi
professor de Economia Brasileira e Teoria Geral de Administração e consultor
nas áreas de Gestão e Saúde.
Marcos Barrero, nascido em
Assis-SP, jornalista, é escritor e professor de Jornalismo em São Paulo. Autor
dos livros Assis de A a Z – a Enciclopédia
do Século, Catchup, Mostarda e Calorias (poesias), História dos Campeonatos Regionais (esportes), Casa da Fazenda (co-autoria) e Dez
Décadas – a História do Santos FC (co-autoria). Foi roteirista e diretor da
Rede Globo e o primeiro ombudsman de rádio do mundo na Bandeirantes/AM, em
1996, conforme registra a Organization of
News Ombudsman, de San Diego/Califórnia. Atuou como professor de
Jornalismo, Telejornalismo e Radiojornalismo na Pontifícia Universidade
Católica (PUC), de São Paulo, de 1990 a 2004.
Foi apresentador, diretor
artístico e um dos fundadores da allTV,
com a qual ganhou o Prêmio Esso de Melhor Contribuição ao Telejornalismo
Brasileiro em 2005. Formou-se em Jornalismo pela Faculdade Casper Líbero, de
São Paulo, e possui curso de especialização em jornalismo brasileiro pela mesma
instituição. Foi repórter, redator e editor na revista Manchete, nos jornais O
Estado de S.Paulo, Gazeta Esportiva e
Diário de S.Paulo, na Editora Abril, e
nas rádios Jovem Pan e Bandeirantes. Escreveu para Veja, Isto É, Folha de S.Paulo e Leia Livros. Adelto
Gonçalves
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Empresários Brasileiros,
de
Latif Abrão Jr. e Marcos Barrero. São Paulo: L2M Comunicação/ADVB, 467 págs., R$
189,90, 2014. E-mail: advb@advbsp.org.br
Site: www.advbsp.org.br
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Adelto Gonçalves, jornalista, é doutor
em Literatura
Portuguesa pela Universidade de São Paulo (USP) e autor de Os vira-latas da madrugada (Rio de
Janeiro, José Olympio Editora, 1981; Taubaté, Letra Selvagem, 2015), Gonzaga, um poeta do Iluminismo (Rio de
Janeiro, Nova Fronteira, 1999), Barcelona
brasileira (Lisboa, Nova Arrancada, 1999; São Paulo, Publisher Brasil,
2002), Bocage – o perfil perdido
(Lisboa, Caminho, 2003), Tomás Antônio
Gonzaga (Academia Brasileira de Letras/Imprensa Oficial do Estado de São
Paulo, 2012), e Direito e Justiça em
Terras d´El-Rei na São Paulo Colonial (Imprensa Oficial do Estado de São
Paulo, 2015), entre outros. E-mail: marilizadelto@uol.com.br
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