Foi em 1999 que “descobri” que havia no Porto
um suplemento literário que saía semanalmente no diário O Primeiro de Janeiro,
o Das Artes Das Letras. É que estava lançando meu primeiro livro em Portugal, o
romance Barcelona Brasileira, que saiu pela editora Nova Arrancada, e precisava
de alguma forma divulgar aquele lançamento. Por coincidência, à época, vivia em
Oeiras, por conta de uma bolsa de pesquisa da Fundação de Amparo à Pesquisa no
Estado de São Paulo (Fapesp), e quase sempre, antes de seguir para a Biblioteca
Nacional de Lisboa ou para a Torre do Tombo, passava pelo Centro dos
Correspondentes, na Praça dos Restauradores, pois tratava de reforçar o
orçamento também com alguns textos para a Revista Época, de São Paulo.
Foi lá que dei de cara com um exemplar d’ O
Primeiro de Janeiro e resolvi, então, enviar um texto de divulgação do livro.
Para minha surpresa, a editora do suplemento literário interessou-se por meu
romance e, em vez de um texto de divulgação, publicou mesmo uma extensa
entrevista, que se fez por e-mail.
Desde então, sempre que pude, nunca deixei de
enviar colaborações para aquele suplemento, até que uma crise financeira fez a
empresa editora fechá-lo. Em novembro de 2005, por ocasião de um seminário
sobre os 200 anos da morte de Bocage na Universidade do Porto, tive a
oportunidade de conhecer pessoalmente a sua redação.
Foi com entusiasmo que soube há cinco anos do
renascimento daquele suplemento, desta vez com o título As Artes entre As
Letras, por empenho quixotesco da sua antiga editora, agora diretora desta
publicação, Nassalete Miranda. Afinal, aqui no Brasil não se sabe da existência
de nenhuma publicação da grandeza do As Artes entre As Letras, a uma época em
que se tem notícia quase diariamente do fechamento de uma banca de jornais,
provavelmente porque as novas gerações já não se interessam pela palavra
impressa, mas apenas pela virtual.
Por isso, a data de 25 de Junho não pode
passar em brancas nuvens porque, afinal, marca a passagem do quinto aniversário
do As Artes entre As Letras, um dos poucos elos que ajudam a manter a unidade
da comunidade cultural lusófona em todo o mundo, graças à edição digital.
Obviamente, não tem sido fácil chegar até aqui, mesmo porque são poucos aqueles
empresários que veem numa publicação cultural um bom investimento comercial.
Mas estamos certos de que esse sonho que já dura 125 edições há de durar muito.
É o que esperamos de todo o coração. Adelto
Gonçalves – Brasil
Adelto
Gonçalves,
doutor em Literatura Portuguesa (USP)
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