Mbanza
Congo- Três anos depois do início do processo de escavações arqueológicas para
a descoberta de vestígios históricos e culturais destinados a sustentar o
dossier de candidatura a património mundial da humanidade, o projecto
"Mbanza Congo: cidade a desenterrar para preservar" entrou em
velocidade cruzeiro e com indicadores positivos para a sua concretização junto
do Organismo das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO).
Escavações arqueológicas de Mbanza Congo Foto: Alberto Julião |
Fruto do trabalho de 11
arqueólogos angolanos e estrangeiros, liderados pela angolana Sónia Domingos,
quadro do Instituto Nacional do Património Cultural, instituição afecta ao
Ministério da Cultura, o processo culmina, muito em breve, na inscrição da
histórica e antiga capital do Reino do Congo na lista de bens sob a protecção
da UNESCO, dotando, desta forma, Angola de um bem cultural com valor
imensurável.
Numa corrida contra o tempo
para cumprir os timings estabelecidos, a equipa aportou, na terceira fase do
trabalho de escavações arqueológicas, na “velha” cidade de Mbanza Congo, onde,
durante três meses (Abril, Maio e Junho) arregaçou as mangas e empenhou-se
fundo nas escavações para encontrar vestígios enterrados há séculos.
Apostados em mostrar que o
objetivo supremo "inscrição de Mbanza Congo" na lista do património
mundial é alcançável, os especialistas "vasculharam" todos os cantos
da cidade em busca de vestígios do passado que possam contribuir na conquista
de vontades dentro das estruturas da UNESCO.
Sem olhar a meios e mesmo
debaixo de um calor intenso, os especialistas não descuraram nenhuma hipótese
encontrada no terreno das escavações, fazendo com que cada uma das peças
(artefactos, ossadas humanas e outros utensílios) que apresentem vestígios de
um passado longínquo mas histórico entre no baú das avaliações e catalogação
para posterior análise em laboratórios norte-americanos, a fim de se comprovar
o seu valor histórico cultural.
Surpreendidos em plena
jornada laboral, depois de uma visita, 24 horas antes, da ministra da Cultura,
Rosa Cruz e Silva, por uma equipa de jornalistas provenientes de Luanda, os
membros da equipa, que na véspera tinham ganho mais três reforços, nomeadamente
a dupla de antropólogos John e Linda Trontom e da directora do Instituto
Nacional do Patrimonio Cultural, Maria da Piedade, procuraram satisfazer a
curiosidade dos profissionais de comunicação social ávidos por mais detalhes
sobre o assunto.
Sempre disponível e com um
sorriso nos lábios, a coordenadora do projecto, a arqueóloga angolana Sónia
Domingos, recorreu ao seu manancial de informações para "matar" a
curiosidade dos escribas angolanos, dando, ao pormenor, todos os detalhes sobre
as três fases já executadas e a seguinte, que vai culminar com um atelier de
fundamentação (última etapa de concepção do relatório, verificação das provas)
que serão enviadas, numa primeira versão, em Setembro deste ano, à UNESCO,
dando mostras do trabalho realizado até ao momento.
Esta etapa, segundo a ministra
da Cultura, Rosa Cruz e Silva, servirá de ensaio geral para o trabalho final,
pois, a partir da resposta a ser dada pela UNESCO, com indicações sobre as correcções a serem
feitas, os técnicos vão então concentrar-se na versão final do texto de fundamentação
para que, em Janeiro de 2015, seja enviada a versão definitiva, para se
ficar à espera dos resultados finais
sobre a inclusão ou não de Mbanza Congo na lista de património mundial.
Etapas
do projecto
O projecto para a inscrição
de Mbanza Congo na lista do património mundial reserva, entre outras, a
componente científica para a descoberta dos elementos materiais e imateriais
que deverão fundamentar o valor excepcional e universal desta capital do antigo
Reino do Congo.
A coordenadora do projecto, a
arqueóloga angolana Sónia Domingos, enumerou as acções de pesquisa sobre o
património imaterial, o levantamento arquitectónico dos edifícios mais
emblemáticos e históricos da cidade, seu estudo e inventariação para posterior
classificação.
As escavações arqueológicas
em curso e já na sua terceira fase foram destacadas pela responsável, assim
como o estudo documental que foi feito em vários países, como França, Bélgica,
Alemanha, Portugal e no estado do Vaticano, que detêm vários documentos
inéditos sobre o reino do Congo.
De acordo com a arqueóloga,
os arquivos documentários são de grande valor porque servirão também de
argumentação do dossier de candidatura a ser apresentado a UNESCO, que
confirmará o valor extraordinário de Mbanza Congo.
Sónia Domingos realçou ainda
as pesquisas sobre a tradição oral local que permitiram a delimitação do centro
histórico de Mbanza Congo, através das conhecidas 12 fontes de água que
circundam esta localidade e que estão ligadas ao momento da fundação do Reino
do Congo.
“Todos os elementos que
serviram para a fundação do Reino do Congo, que inclui a localização
estratégica de Mbanza Congo, os cursos
de água, entre outros, servirão também para a elaboração da declaração a ser
entregue à UNESCO“, frisou.
Fundamentou que, ao fazer a
declaração do valor excepcional e universal de Mbanza Congo, a equipa
científica pretende provar que todos os elementos que estiveram na base da
fundação do Reino do Congo ainda estão patentes e bem visíveis nesta
localidade.
As
próximas etapas
Concluído a terceira fase
dos trabalhos de escavações arqueológicas, os especialistas, a que se vão
juntar em Agosto um antropólogo físico, estarão virados para mais duas etapas:
fotografia aérea (retratos de vários ângulos da cidade de Mbanza Congo e das
áreas de escavações) e o plano de gestão (tratamento do texto de fundamentação,
inventariação e catalogação final das praças recolhidas e a serem enviadas para
laboratórios internacionais ais para a sua comprovação científica).
Os
planos da ministra da Cultura
Em função dos resultados
alcançados com o processo de escavação arqueológica, a ministra da Cultura,
Rosa Cruz e Silva, manifestou a ambição da criação de uma escola de arqueologia
e de um museu do Zaire. A escola, de acordo com a governante, terá como missão
formar técnicos para esta área do saber que vão reforçar os quadros dos museus
de Arqueologia de Benguela e do Zaire e surge na sequência dos resultados
alcançados com a acção dos especialistas angolanos e estrangeiros que trabalham
para a inscrição da cidade de Mbanza Congo como Património Mundial da
Humanidade da UNESCO.
"Vamos, em colaboração
com o Governo do Zaire, elaborar um plano para que, no âmbito do programa do
Executivo, para o ano 2015, possa ser incluída verba para a edificação da
escola e do museu, como forma de garantimos a formação de mais especialistas,
bem como para acolher as peças recolhidas no processo de escavação arqueológica
do dossier Mbanza Congo", disse a ministra.
Os
resultados dos arqueólogos no terreno
Satisfeita com os resultados
alcançados até ao momento pela equipa de arqueólogos no terreno, a ministra diz
ser um trabalho de reconhecido valor, tendo em conta o alcance dos mesmos no
trabalho final que se pretende enviar à UNESCO. "É um trabalho que começou
em 2011 e até ao momento é bastante satisfatório, pois permitiu a recolha e
descoberta de vários artefactos e locais de interesse histórico cultural, que
reforçam a nossa convicção de que estamos no bom caminho", apontou a
governante.
Nas escavações, estão
envolvidos especialistas do Museu de Arqueologia, da Comissão Científica do
Ministério da Cultura e das Universidades de Coimbra (Portugal) e Yaoundé
(Camarões). Fruto das várias fases desenvolvidas, a equipa conseguiu reunir
quatro mil peças resultantes das escavações efectuadas, que deverão se
inventariadas, catalogadas e classificadas.
Entrega
do dossier à UNESCO
O dossier relativo a
candidatura da cidade de Mbanza Congo a património mundial da humanidade será
entregue à UNESCO em Janeiro de 2015, após a conclusão das várias fases
desenvolvidas pelo Governo angolano, através do Departamento Ministerial da
Cultura.
No entanto, antes de Janeiro
de 2015, o Governo fará chegar, em Setembro deste ano, o pré-dossier para que
os peritos da UNESCO possam fazer uma avaliação e pronunciar-se sobre as
correcções e alterações que serão feitas a fim de se melhorar o texto final.
O projecto de inscrição da
cidade de Mbanza Congo na lista do Património Mundial da Humanidade da UNESCO
foi lançado em 2007, com a realização de uma Mesa Redonda Internacional,
denominada “Mbanza Congo, cidade a desenterrar para preservar”.
História
da cidade de Mbanza Congo
M'Banza Congo é uma cidade e
município da província do Zaire, e tem cerca de 68 mil habitantes. Foi a
capital do antigo reino do Kongo e designou-se São Salvador do Congo até 1975.
A cidade foi fundada antes da chegada dos portugueses e era a capital de uma
dinastia que governava desde 1483. O local foi abandonado durante guerras civis
que eclodiram no século XVII.
M'Banza Congo foi o lar dos
Menekongo, monarcas que governavam o Reino do Congo. No ano de 1549, por
influência dos missionários portugueses, foi construída a Sé Catedral de São
Salvador do Congo, a mais antiga da África Sub-Sahariana, o nome da igreja no
local é Nkulumbimbi. Foi elevada ao estatuto de catedral em 1596.
O papa João Paulo II visitou
a catedral em 1992.
O nome São Salvador do Congo
apareceu pela primeira vez em cartas enviadas por Álvaro I do Congo ou Álvaro
II do Congo, entre os anos de 1568 e 1587. A cidade voltaria a chamar-se
M'Banza Congo, após a Independência de Angola em 1975.
Quando os portugueses aí
chegaram, ela já era uma grande cidade, a maior da África sub-equatorial.
Durante o reinado de Afonso I, edificações de pedra foram criadas, incluindo o
palácio e muitas igrejas.
Em 1630, foram relatados
cerca de 4000 a 5000 baptismos na cidade com uma população de 100.000 pessoas.
A cidade foi saqueada várias vezes durante as guerras civis do século XVII,
principalmente na batalha de Mbwila e foi abandonada no ano de 1678, sendo
reocupada em 1705 por seguidores de Dona Beatriz Kimpa Vita, a partir desta
época a cidade não foi mais abandonada. Venceslau
Mateus – Angola in “ANGOP”
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