SÃO PAULO - O
porto projetado para Peruíbe, no Litoral Sul paulista, pelo grupo do empresário
Eike Batista antes do malogro de suas empresas, que tantas críticas despertou
não só entre ambientalistas, na verdade, constituía uma ideia revolucionária e
que prometia oferecer grandes resultados para a infraestrutura logística da
região como alternativa para o Porto de Santos, que já não dispõe de muito
espaço para crescimento.
Do projeto
desse porto, o que ficou foi a sua concepção moderna, pois idealizado com base
em experiências internacionais bem sucedidas, que já não procuram a utilização
de abrigos naturais, mas de estruturas offshore ou flúvio-marítimas.
Dentro dessa concepção, pode-se citar o porto francês de Le Havre, que tem
movimento inferior ao de Santos e área de expansão muito superior, mas que, no
entanto, optou por construir o Porto 2000, uma estrutura marítima na
desembocadura do rio Sena, obviamente distante das aglomerações urbanas.
Outro exemplo
a ser citado é o de Roterdã, na Holanda, com área semelhante à do Porto de
Santos, que construiu Maasvlakte, no Mar do Norte, nos anos 60, e desde 2008
constrói Maasvlakte II, aberto a operações em maio de 2013. Sem contar o novo
terminal do porto de Xangai, na China, hoje o mais movimentado do mundo, que
foi construído a 35 quilômetros da costa.
Todos esses
exemplos servem para mostrar que a centralização federal da autonomia das
companhias docas, com o esvaziamento dos Conselhos de Autoridade Portuária
(CAP), estabelecida pela Lei nº 12.815/13, segue na contramão da tendência
mundial. Um exemplo dessa visão tecnocrata é a insistência da Secretaria de
Portos (SEP) em manter os terminais graneleiros no bairro da Ponta da Praia, em
Santos, embora o Plano de Desenvolvimento e Zoneamento (PDZ) do porto recomende
desde 2006 a sua transferência para áreas mais afastadas, especificamente para
a área continental, local de baixa densidade populacional.
É verdade que
nessa região há espaço para duplicar a atual área portuária de Santos, mas essa
também não é a tendência mundial. Há muito que as autoridades portuárias já
deveriam ter pronto para Santos uma alternativa offshore. Insistir em
ampliar ou reformar os terminais encravados em plena zona urbana é prova de
insensibilidade com a população, que é afetada por graves problemas de saúde
pela movimentação de fertilizantes. E não adianta argumentar que serão
instalados equipamentos para diminuir os impactos ambientais, pois de antemão
já se sabe que isso não passa de uma falácia.
O futuro dos portos passa mesmo
pelas expansões offshore e flúvio-marítimas, que se mostram
economicamente mais produtivas, além de oferecerem impactos ambientais menos
significativos e estarem distantes das aglomerações urbanas. Além disso, exigem
custos menores com obras de dragagem e assoreamento. E mais: construídas em
águas profundas, podem receber os navios cada vez mais gigantescos que vêm por
aí. Milton Lourenço - Brasil
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Milton
Lourenço é presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos
Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo
(Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de
Cargas e Logística (ACTC). E-mail: fiorde@fiorde.com.br. Site:
www.fiorde.com.br.
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