Passados 11
anos, o atual governo, às vésperas de ser julgado nas urnas, a 5 de outubro,
fez um mea culpa, ao admitir, ainda que não de maneira explícita, o erro
que foi a decisão do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao lado do
presidente argentino Nestor Kirchner (1950-2010), de trabalhar nos bastidores
para o fracasso das negociações que visavam à formação da Área de Livre Comércio
das Américas (Alca), proposta pelo governo norte-americano.
Esse mea
culpa veio na forma de uma proposta do atual ministro do Desenvolvimento,
Indústria e Comércio Exterior, Mauro Borges, que pretende inserir o Brasil no
comércio global. É uma proposta que vai contra tudo o que defendeu nos últimos
12 anos a diplomacia comercial terceiro-mundista adotada pelo Brasil, que
limitou a indústria nacional a fornecer produtos para países vizinhos e tornou
o agronegócio abastecedor de matérias-primas para a China, criando uma
dependência colonial com o país asiático superior à que havia no século XVIII
em relação a Portugal.
Pena que esse
mea culpa tenha vindo tão tarde e numa altura em que pouco há para se
fazer, pois não se sabe se o atual ministro irá sobreviver às alterações
políticas que virão por força da voz das urnas. Seja como for, não se pode
deixar de elogiar a decisão do ministro de defender e trabalhar para concluir o
acordo do Mercosul com a União Europeia que, como se sabe, arrasta-se também há
mais de dez anos. E não só por culpa do governo brasileiro, mas também do
argentino – aliás, os dois que funcionaram como coveiros da Alca.
Se até o
final do ano esse acordo sair, será uma conquista inolvidável. Já a outra
tarefa que assume proporções ciclópicas é tirar o Mercosul da situação de pane
em que se encontra, já que não avança nem regride. A ideia do ministro é
ampliar o espectro do Mercosul, atraindo os demais países vizinhos para uma
integração ampla e a formação de uma zona de livre-comércio na América do Sul.
Como se disse,
é de lamentar que a ideia tenha vindo tão tarde, até porque, depois do fracasso
da Alca, países como Chile, Peru e Colômbia, talvez porque tiveram governos
mais sensatos, constituíram com o México a Aliança do Pacífico e estão num plano
mais avançado nas tratativas para buscar maior integração com a Europa e os
Estados Unidos. Sem contar que os três países sul-americanos já assinaram
acordos com vários blocos e nações industrializadas e avançaram sobremaneira na
integração internacional. Unir, portanto, o Mercosul à Aliança do Pacífico não
parece constituir missão das mais fáceis.
A outra
proposta do ministro, igualmente meritória, é no sentido de aprofundar as
relações comerciais com o México, que há muito tem uma economia complementar à
do Brasil. Afinal, não é de hoje que muitas indústrias do setor de
metalmecânica exportam para o México. Portanto, se as propostas do ministro
forem levadas adiante, não há dúvida que o Brasil haverá de alcançar maior
inserção internacional, apesar do atraso na infraestrutura logística nacional
que hoje constitui a principal barreira ao desenvolvimento e à competitividade
das empresas e dos produtos brasileiros. Milton
Lourenço - Brasil
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Milton
Lourenço é presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos
Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo
(Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de
Cargas e Logística (ACTC). E-mail: fiorde@fiorde.com.br. Site:
www.fiorde.com.br.
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