SÃO PAULO – O primeiro
Plano Nacional de Dragagem (PND-1), já concluído, custou aos cofres públicos R$
1,6 bilhão, segundo dados da Secretaria de Portos (SEP), mas não rendeu os
resultados esperados, já que muitos portos, sem os serviços de manutenção
adequados, perderam os ganhos que haviam obtido com o trabalho de
aprofundamento. Sem a contenção necessária, muitas margens desmoronaram e
várias áreas voltaram a ficar assoreadas em vários portos nacionais.
Sob a alegação de que o
PND-1 serviu como um bom aprendizado – bem caro, por sinal –, a SEP, prometendo
evitar os erros do passado, lançou o PND-2, que prevê investimentos de R$ 3,8
bilhões. Mas boa parte desse dinheiro público corre o risco de ser igualmente
desperdiçado, pois, de antemão, sabe-se que há construções às margens de alguns
portos com mais de um século que não suportariam sequer uma dragagem para 12
metros, quando o objetivo oficial é alcançar um calado de 15 metros para
receber pelo menos os navios Post-Panamax mais antigos.
Se os recursos públicos
serão bem aplicados desta vez é o que não se sabe porque, sob certos aspectos,
criar um calado maior, alargando a distância da lâmina d´água até a quilha do
navio, pode acarretar mais problemas na medida em que mais cargas serão
movimentadas. Afinal, para que mais cargas sejam movimentadas, é preciso que a
infraestrutura fora do porto seja compatível. Em outras palavras: é necessário
que haja um sistema multimodal que funcione a contento.
No caso do Porto de
Santos, mais carga pode significar maior número de caminhões nas rodovias e nas
vias de acesso ao cais que hoje já vivem entupidas. É de lembrar que, com a
conclusão das obras do Rodoanel em 2016, mais caminhões deixarão o Planalto
paulista em direção as duas margens do Porto.
Como a Rodovia dos Imigrantes não pode ser utilizada por veículos
pesados para a descida da Serra do Mar, a única opção continuará sendo a velha
Via Anchieta, que terá de passar por uma boa reforma.
Em vez de se preocupar
apenas com obras rodoviárias, as autoridades precisam pensar também em criar
condições para que seja possível usar mais as hidrovias. Afinal, um comboio de
barcaças pode levar até 200 contêineres, o que significa menos 200 caminhões
nas estradas.
Devem levar em conta
também que é fundamental ligar o Porto de Santos por monotrilho à região
metropolitana de São Paulo. Mais: é urgente elaborar um projeto para a
construção de uma extensão do Porto de Santos fora da costa que, a exemplo do
recente terminal de Xangai, na China, possa receber os meganavios Post-Panamax sem
necessidade de obras de desassoreamento e longe de aglomerações urbanas. E
outro que preveja uma extensão em Bertioga, com a viabilização de uma rede
hidroviária na região, tal como se vê em países europeus. Em tais obras, com
certeza, os recursos não serão desperdiçados. Mauro Dias - Brasil
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Mauro
Lourenço Dias, engenheiro eletrônico, é vice-presidente da Fiorde Logística
Internacional, de São Paulo-SP, e professor de pós-graduação em Transportes e
Logística no Departamento de Engenharia Civil da Universidade Estadual de
Campinas (Unicamp). E-mail: fiorde@fiorde.com.br Site: www.fiorde.com.br
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