SÃO PAULO – Com
o fracasso das tratativas iniciadas em Doha, no Catar, em 2001, o que se
consumou na reunião da Organização Mundial do Comércio (OMC), realizada em
Bali, na Indonésia, ao final de 2013, o Brasil finalmente abriu os olhos e
deixou de apostar nas negociações multilaterais. Obviamente, o ideal seria que
houvesse regras comerciais que valessem para todas as nações, mas isso sempre
ficou claro que não passava de um sonho de verão. Mesmo assim, a representação
brasileira apresentou-se inflexível nesse quesito por anos a fio.
Com isso,
perdeu tempo e oportunidades, deixando de fechar acordos bilaterais ou mesmo
por bloco, tivesse sido também o Mercosul menos intransigente. Agora, a postura
brasileira admite negociações bilaterais a nível regional, mas, passados mais
de seis meses da reunião de Bali, nenhum resultado obteve, ainda que tenha
tentado abrir o leque no sentido de encontrar um acordo amplo entre o Mercosul
e a União Europeia.
Na verdade, o
que falta antes de tudo é um acordo dentro do próprio Mercosul, o que tem
impedido as negociações com o bloco europeu de avançar não só nas chamadas
“questões sistêmicas” como nas questões tarifárias. Derrubados os obstáculos
tarifários, os produtos europeus vão entrar aqui a preços mais baixos – em
média, 12% menos –, enquanto as mercadorias brasileiras não só gozarão do mesmo
benefício como muitas terão aberto pela primeira vez o acesso ao mercado
europeu, como o etanol, por exemplo.
Não se pode
deixar de reconhecer que o Brasil liberalizou em boa parte a política econômica
que praticava na década de 90, quando as tarifas alcançavam até 105%. Depois de
muitas negociações na OMC, o País comprometeu-se em que o máximo da barreira
tarifária chegasse a 12%, o que, nos dias hoje, é ainda considerado uma taxa
elevada, se comparada com aquela que é praticada na União Europeia.
O que faz o
governo agir com cautela é a necessidade de manter a indústria minimamente protegida,
dentro do modelo de desenvolvimento baseado na substituição de importações que
vem da década de 60. Como o País precisa criar pelo menos dois milhões de
empregos por ano, teme-se que o fechamento de algumas fábricas, devido à
concorrência externa, provoque uma situação de convulsão social. Mas é preciso
ver que o Brasil, em troca de vender commodities para a China, abriu o
mercado para toda a sorte de quinquilharias asiáticas e nem por isso entrou em
colapso. Agora, finalmente, vai vender aeronaves da Embraer para a China. Menos
mal.
O que se
percebe é que o País está mais maduro e pode correr o risco de permitir maior
acesso aos bens industriais europeus, em troca de maiores facilidades para o
agronegócio brasileiro, com o aproveitamento daquilo em que cada parte é mais
competitiva. Como a Europa está em crise, não há sentido também em que seus
negociadores continuem inflexíveis como antes. Como ensinava o filósofo grego
Aristóteles (384 a.C-322 a.C), a virtude está no meio. Milton Lourenço - Brasil
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Milton
Lourenço é presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos
Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo
(Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de
Cargas e Logística (ACTC). E-mail: fiorde@fiorde.com.br. Site:
www.fiorde.com.br.
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