Infelizmente, o Brasil
nunca se destacou como terra de homens de ideias arrojadas e de visão. E não
adianta culpar os nossos antepassados lusitanos por todos os males. Basta ver
que Portugal, mesmo sendo um país periférico na Europa e de população reduzida,
já obteve por duas vezes o Prêmio Nobel – o de Medicina, em 1949, com Egas
Moniz (1874-1955), e o de Literatura, em 1998, com José Saramago (1922-2010) –,
enquanto o Brasil, nenhum.
Essa constatação não faz
bem para a autoestima do brasileiro, mas a verdade é que os nossos
administradores públicos estão sempre dando provas de estultície e pouca visão
do futuro. Não se sabe exatamente de quem partiu a ordem para sucatear e acabar
com boa parte da malha ferroviária do País há cerca de meio século, mas que
constituiu ideia errada, isso foi. Naquele tempo, nossos gestores não foram
capazes de imaginar que o trem teria ainda muito tempo de utilidade. E que a invenção
do contêiner iria revitalizá-lo como modal.
Nos dias atuais, os
gestores públicos ainda não despertaram para a revolução que se dá nos mares
com a construção de grandes embarcações que, em pouco tempo, dominarão o
comércio global nos trajetos de longa distância. E ainda não partimos para a
construção de um porto como o de Yangshan, numa ilha localizada a pouco mais de
30 quilômetros da costa, ao sul de Shangai, na China. Ou seja, continuamos a
apostar em portos instalados em abrigos naturais da costa, perto de
aglomerações urbanas e sem águas profundas, o que exige demasiados recursos
para o seu assoreamento.
No Hemisfério Norte, já
se encontra em operação há um ano o cargueiro Triple E, da armadora
dinamarquesa Maersk Line, o maior navio de contêineres do mundo, com 400 metros
de comprimento, 59 de largura e 73 de altura e capacidade para carregar até 165
mil toneladas, ou 18.270 TEUs (unidade equivalente a um contêiner de 20 pés).
Obviamente, o Brasil não está preparado para receber esse novo gigante dos
mares.
Só a muito custo e com
muitos riscos, essa embarcação entraria no porto de Santos com lotação bem
inferior ao seu limite. É de assinalar que o Triple E exigecalado de 15,5
metros, enquanto no estuário do Porto de Santos a distância da lâmina d’água
até a quilha do navio é de 12,3 metros.
Mas não é só o
gigantismo do Triple E que impressiona. O navio foi construído para consumir
menos combustível e emitir menos gases poluentes. Essa será a tendência da
construção naval nos próximos anos, já que a expansão do espaço ajuda a baixar
o custo das empresas de transporte, embora por enquanto embarcações maiores que
o Triple E estejam descartadas em razão das dificuldades para manobrá-las nos grandes
terminais.
Seja como for, como o
comércio exterior se expande a passos largos, não é difícil imaginar que em
breve haverá outros terminais maiores que o de Shangai e o de Maasvlakte II,
expansão do porto de Roterdã, na Holanda. É verdade que o Brasil já dispõe de
alguns terminais de contêineres modernos, como o Tecon Rio Grande-RS, o de
Paranaguá-PR, o de Itapoá-SC e o de Suape-PE, mas nenhum pronto para receber os
futuros gigantes dos mares. Mauro Dias -
Brasil
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Mauro
Lourenço Dias, engenheiro eletrônico, é vice-presidente da Fiorde Logística
Internacional, de São Paulo-SP, e professor de pós-graduação em Transportes e
Logística no Departamento de Engenharia Civil da Universidade Estadual de
Campinas (Unicamp). E-mail: fiorde@fiorde.com.br Site: www.fiorde.com.br
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