Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

sexta-feira, 13 de julho de 2018

Cabo Verde - Quer que memória do ex-Campo de Concentração do Tarrafal seja factor de promoção de diálogos pela paz

Cidade da Praia – O ministro da Cultura e das Indústrias Criativas, Abraão Vicente manifestou, na Cidade da Praia, o desejo de Cabo Verde em ver transformada a memória do ex-Campo de Concentração do Tarrafal num factor de promoção de diálogos pela paz.

O governante lançou esta aposta em declarações à imprensa onde informou que o processo de candidatura do ex-Campo de Concentração a Património da Humanidade deverá ser abordado durante a Cimeira da CPLP que terá lugar nos dias 17 e 18 de Julho, na ilha turística do Sal sob o lema “Cultura, pessoas e oceanos”, e que marca o arranque da presidência cabo-verdiana da organização.

Segundo Abraão Vicente, à volta deste processo o Governo está a fazer o trabalho de montagem conceptual e de uma equipa científica através do Instituto do Património Cultural (IPC), tendo explicado ainda que neste momento está-se a fazer a apresentação internacional do processo de modo que a candidatura seja feita em conjunto com outros países.

A ideia é criar um projecto museológico que ensina aos cabo-verdianos, aos portugueses, angolanos, guineenses e ao mundo em geral, o quê é que Cabo Verde e a nação crioula aprendeu com a existência de um campo de concentração, e ligar o Campo de Concentração do Tarrafal a todo o sistema prisional construído durante a época salazarista, mas numa perspetiva cabo-verdiana de modo a promover diálogos pela paz.

Tendo em conta que se trata de um campo que teve duas fases na sua história e que envolveu os outros países da comunidade, Cabo Verde quer que a candidatura seja feita em conjunto com Angola, Portugal e envolvendo a Guiné-Bissau, explicou o ministro da Cultura e das Indústrias Criativas.

O Campo de Concentração do Tarrafal conhece um dos períodos mais negros da sua história nos anos 30. Com o decreto-lei n.º 26 539 de 23 de Abril de 1936, o regime salazarista criou na localidade de Achada de Chão Bom, no concelho de Tarrafal (ilha de Santiago), o estabelecimento prisional Campo de Concentração que ficou eternamente conhecido como o “campo de morte lenta”.

Entrou em funcionamento em 29 de Outubro de 1936, onde recebeu os primeiros prisioneiros, oponentes políticos ao regime, camponeses, operários, soldados, marinheiros, estudantes, intelectuais, sindicalistas.

Entre 1936 e 1954, funcionou como colónia penal destinada a cidadãos desafectos do regime. Dos 340 presos que foram levados para o “campo de morte lenta”, 32 prisioneiros políticos perderam a vida, sendo o mais conhecido o secretário-geral do Partido Comunista Português (PCP), Bento Gonçalves que morreu a 11 de Setembro de 1942.

Os restantes sofreram mazelas físicas e psicológicas que os iriam marcar para a vida. No pós-guerra, derrotado o regime fascista nazi, o regime fascista português foi pressionado para que o campo do Tarrafal fosse encerrado, o que acabou por acontecer em 26 de Janeiro de 1954.

A prisão mortífera é encerrada para vir a ser reaberta, em 1961, por ordem de Adriano Moreira, na altura ministro do Ultramar.

O Campo de Concentração do Tarrafal abriria novamente as portas, sob a gestão do mesmo regime, mas destinado a diferentes prisioneiros, desta vez aos partidários dos movimentos de libertação anticoloniais e independentistas que, no início dos anos sessenta, começaram a surgir em Angola, Guiné-Bissau e Moçambique.

Foi designado por um novo nome, “Campo de Trabalho do Chão Bom” (o nome da pequena aldeia junto ao campo), mas a filosofia continuou a mesma.

A repressão e a inumanidade só terminariam uma semana depois de 25 de Abril de 1974. No dia 01 de Maio de 1974, os últimos prisioneiros foram libertados. In “Inforpress” – Cabo Verde

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