Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

terça-feira, 3 de julho de 2018

América do Sul - Corredor ferroviário bioceânico

SÃO PAULO – A crise de abastecimento a que o País foi atirado pela paralisação de caminhoneiros, ao final de maio, mostrou o quanto o Brasil é refém do modal rodoviário e, principalmente, do óleo diesel, que é o combustível que move a economia nacional. Segundo dados do Instituto de Logística e Suplly Chain (Ilos), mais de 60% de tudo o que é transportado no País viajam em contêineres puxados por carretas ou sobre caminhões, percentual que, nos últimos anos, só tem crescido em razão da falta de investimentos em outros modais.

Ainda segundo o Ilos, entre 2006 e 2016, a participação das rodovias na matriz de transportes avançou de 59% para 62,8%, enquanto, no mesmo período, a fatia das ferrovias recuou de 24% para 21%, por falta de investimentos no setor. Segundo dados da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), o Brasil, que já teve uma malha ferroviária maior que a dos Estados Unidos, tem hoje apenas 3 quilômetros de ferrovia para cada quilômetro quadrado, enquanto aquele país tem dez vezes mais: 30 quilômetros de trilhos para cada quilômetro quadrado.

E mais: dos atuais 28 mil quilômetros de malha passados a concessionárias, apenas 8 mil quilômetros estão em operação. Como ficou em segundo plano no processo de privatização, a situação do transporte de passageiros por trem está em situação ainda mais dramática.

Diante disso, os caminhoneiros fazem o que podem, enfrentando estradas mal conservadas e bem pouco policiadas, o que permite com frequência toda a sorte de imprevistos, inclusive aqueles derivados da violência social. Sem contar os prejuízos para as empresas transportadoras e para os donos das cargas, pois, muitas vezes, o caminhoneiro é obrigado a ficar três dias ou mais parado no cais para descarregar.

Em meio a tantas desditas, aparece agora uma luz no fim do túnel: Brasil, Bolívia, Paraguai e Peru acabam de concluir os entendimentos prévios para um acordo que prevê a construção de um corredor ferroviário entre o Oceano Pacífico (a partir de Puerto de Ilo, no Peru) e o Atlântico (Porto de Santos). Os estudos preliminares, que contam com assessoramento técnico da União Europeia, prevêem investimentos da ordem de US$ 14 bilhões e que a obra estará concluída até 2024.

Os estudos estimam ainda que o corredor bioceânico irá transportar 40 milhões de toneladas, percorrendo 3.755 quilômetros, facilitando principalmente as exportações para a Ásia. Ou seja, essa ferrovia, além de facilitar a tão almejada saída para o mar por parte da Bolívia, vai permitir o desenvolvimento, a exploração e a industrialização dos recursos naturais de todo o continente sul-americano, até porque está prevista ainda a adesão da Argentina e do Uruguai.

Entre outros benefícios, com a participação do trem bioceânico, será possível conduzir a carga desde o Brasil até o porto de Xangai, na China, em 36 dias e 8 horas. Hoje, a demora é de 67 dias e 13 horas. Segundo os estudos, até 2021, o corredor ferroviário terá ainda capacidade para transportar 6,1 milhões de passageiros por ano, número que deverá chegar a 13,3 milhões em 2055. Se o futuro irá confirmar esses números, não se sabe. Mas, até lá, haja otimismo! Milton Lourenço - Brasil



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Milton Lourenço é presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística (ACTC). E-mail: fiorde@fiorde.com.br. Site: www.fiorde.com.br

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