O
director da Escola Portuguesa de Macau garante que a aposta da instituição
sempre foi, e continuará a ser, o ensino de línguas: tanto do Português, pelas
razões óbvias, como do Mandarim, que tem “uma importância particular no
contexto em que a escola se insere”, do Inglês e Francês. Ao Jornal Tribuna de
Macau, Manuel Machado assegura que as estratégias adoptadas para o ensino do
Mandarim estão já a obter frutos mas ressalva que é preciso dar tempo ao tempo.
Além do mais, defende que há todo um trabalho exterior às salas de aula, até
porque “a escola sozinha não pode fazer tudo”
Desde o ano lectivo 1998/1999,
a Escola Portuguesa (EPM) assegura o ensino e a difusão da língua e da cultura
portuguesas no território, mas em termos de projecto pedagógico, e educativo,
“uma das grandes apostas foi sempre o ensino de línguas”. “Desde logo, a Língua
Portuguesa, porque é a língua curricular, e, portanto, é nela que é trabalhado
o currículo desde o 1º até ao 12º ano de escolaridade exceptuando as duas
disciplinas de línguas, nomeadamente o Mandarim que tem uma importância
particular no contexto em que a escola se insere”, frisou Manuel Machado. Além
destas, há também a aposta no Inglês – que pode ser leccionado do 1º ao 12º ano
com carácter de obrigatoriedade, e também o Francês, que pode ser escolhido no
7º ano como segunda língua.
Neste aspecto, em 2017/18, dos
30 alunos que se candidataram ao ensino superior a grande maioria optou por
prosseguir estudos em várias universidades em Portugal, havendo registo de três
candidaturas para o IFT e USJ, e duas para universidades em Hong Kong. O
dirigente escolar realça o facto de haver casos de alunos que terminam o
secundário na EPM e pretendem ingressar no ensino superior em países dentro e
fora da União Europeia, inclusive para a China.
Em relação ao Mandarim, a EPM
adoptou há dois anos uma nova metodologia diferenciando o ensino aos que têm o
Chinês como língua materna e aos que a vão aprender como língua estrangeira.
“Até uma certa altura, estavam todos juntos e há dois anos separámos e isso tem
vindo a dar frutos, porque na verdade os conhecimentos base dos alunos que têm
o Chinês como língua materna não são os mesmos que os outros, portanto, as
abordagens têm de ser feitas em moldes diferentes”, contextualizou o director
da EPM reconhecendo, contudo, que os resultados não são imediatos.
“Obviamente que estes
processos são lentos, mas pela avaliação que temos feito do processo tem dado
os seus resultados e vamos […] dar continuidade”. Sendo a aprendizagem do
Mandarim opcional, a verdade é que o “interesse é muito evidente no primeiro
ciclo”, já que quase todos os pais desses alunos fazem essa opção.
E, admite, “depois vai havendo
alguma diminuição do número de alunos que frequentam por motivos vários” e que
“tem sido alvo da maior atenção por parte da direcção que tem acompanhado o
processo”.
A EPM compromete-se a “apostar
no ensino de línguas – Portuguesa e Mandarim por razões óbvias, e no Chinês
enquanto língua que permite a comunicação entre todos quer dentro, quer fora da
escola – entre outras coisas. Portanto, continuamos a apostar, a acompanhar o
processo e a fazer a sua avaliação”.
Todavia, Machado reconhece que
a instituição “sente essa pressão no que diz respeito ao ensino das duas
línguas”, isto é, “do ensino do Português para os alunos que não são de língua
materna portuguesa porque lá fora fala-se o Português que nós sabemos que se
fala, e sente-se essa pressão no que diz respeito ao ensino do Mandarim”.
“Lá fora vai-se falando mais
Mandarim mas ainda se fala fundamentalmente o Cantonense. Os alunos falam
Inglês e são todos muito bons em Inglês mas não estão imersos num meio em que
seja necessário utilizar o Mandarim, ou o Português. Esse trabalho todo passa
por fora das paredes da escola e que é importantíssimo”, frisou.
Para Manuel Machado, além das
responsabilidades da EPM, é preciso reconhecer que este trabalho é “partilhado”
e “a escola sozinha não pode fazer tudo”. “As línguas aprendem-se praticando. A
escola dá as ferramentas, mas depois têm de ser muito praticadas e não é com os
tempos lectivos que a escola tem – e que não pode ter mais – que se desenvolvem
se não houver esse trabalho por fora”.
Finanças
de “boa saúde”
Do ponto de vista financeiro,
a Escola Portuguesa “tem cumprido todos os seus compromissos e nunca lhe tem
faltado o dinheiro necessário para os cumprir, quer da parte da Fundação Escola
Portuguesa (FEPM) quer da parte do Governo de Macau”, garantiu Manuel Machado.
“A Fundação da EPM recebe,
anualmente, uma proposta de orçamento – relativa às receitas e despesas do ano
subsequentes – e, obviamente, face a isso vai transferindo as verbas que tem de
transferir fruto do orçamento aprovado”. Parte dessas verbas tem origem nos
nove milhões de patacas que a Fundação Macau injecta nas contas da FEPM que
depois vai transferindo, “à medida das necessidades” para a EPM.
Além disso, a DSEJ apoia a
Escola Portuguesa, directa ou indirectamente, por exemplo, subsidiando entre
“65% a 70%” das propinas dos alunos. “Depois dão outros subsídios, no âmbito do
fundo de desenvolvimento das escolas, para obras de reparação, aquisição de
equipamento, pagamento de determinado pessoal – nomeadamente a todo o pessoal
especializado, psicólogos, do ensino especial”, esclareceu. Aliás, “do universo
de pessoas que trabalha na escola há uma percentagem significativa cujos
vencimentos são totalmente suportados pela DSEJ”.
Por outro lado, questionado
sobre as expectativas quanto à mudança do Governo, o director da EPM quis
apenas deixar uma palavra de apreço ao Secretário para os Assuntos Sociais e
Cultura. “O doutor Alexis Tam tem sido um grande amigo da Escola Portuguesa de
Macau e muito sensível no apoio e face às necessidades da escola, através dos
serviços que dirige. Tenho de dizer porque seria uma injustiça se não o
fizesse”, vinca.
Serviços
de apoio requisitados anualmente por até 160 alunos
Em cada ano lectivo, os
serviços de psicologia, orientação e ensino inclusivo da EPM são requisitados,
em média, por 150 a 160 alunos ainda que nem todos sejam acompanhados
sucessivamente. A escola conta com duas psicólogas a tempo inteiro, cinco
professores formados em ensino especial e terapeutas da DSEJ, para fazer face
ao número de alunos com necessidades educativas diversas que “tem vindo a
crescer muito”, disse Manuel Machado. Este ano, a EPM tem “mais de 60 crianças
com necessidades educativas especiais” em diferentes turmas. “São mais
evidentes no primeiro ciclo porque é onde temos mais alunos, mas há alunos com
necessidades educativas em todos os ciclos, isso posso garantir. Diria quase em
todas as turmas, não é que sejam muitos por turma, porque procuramos distribuir
da melhor maneira”, frisou.
Relação
com Associação de Pais é a “melhor possível”
A relação com os actuais
órgãos sociais da Associação de Pais e Encarregados de Educação da EPM (APEP) é
“felizmente a melhor possível”, considera Manuel Machado. “Temos reuniões
periódicas em que tratamos de assuntos diversos e procuramos trabalhar sempre
em conjunto para pôr em prática iniciativas da associação de pais e da escola”,
disse. A APEP é “um parceiro muitíssimo importante” com o qual “temos chegado
sempre a consenso no que diz respeito aos principais aspectos sobre o funcionamento
da escola”, disse o director da EPM. Catarina
Almeida – Macau in “Jornal Tribuna de Macau”
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