A
petrolífera francesa Total está a preparar o arranque da produção da sua nova
jóia em Angola, o projecto Kaombo, no Bloco 32, que, a partir de
Agosto/Setembro deverá estar a retirar das águas ultra profundas, ao largo da
bacia do rio Kwanza, mais de 200 mil barris por dia, tendo já chegado o
primeiro dos dois navios-plataforma ao local
O projecto Kaombo da Total é
encarado no meio petrolífero angolano, admitiu ao Novo Jornal Online uma fonte
liga ao sector, como o marco que pode definir o fim do declínio da indústria
petrolífera angolana e o retomar do investimento das multinacionais no offshore nacional.
Já não é segredo para ninguém
que, com os preços a cair continuamente, as multinacionais foram desinvestindo
nos últimos anos a ponto de a Agência Internacional de Energia (AIE) ter
divulgado em Março último um relatório que prevê uma queda da produção dos
faiscantes 1,8 milhões de barris por dia (mbpd) em 2015 para pouco mais de 1,2
mbpd nos próximos cinco anos, até 2023.
Isto, porque, explica a AIE, o
desinvestimento nas infra-estruturas por parte das grandes empresas, em
resultado dos baixos preços, com o inerente desmantelar dos equipamentos, ou a
sua colocação em "stand by",
pode ser feito com alguma celeridade, mas para reatar a normalidade na
produção, podem ser necessários anos, devido à complexidade de todo o complexo
petrolífero na área da produção offshore.
Nos últimos quatro anos, o
sector petrolífero angolano desceu montanha abaixo, da euforia dos mais de 100
USD em 2014 por barril à depressão dos 30 de 2016, estando agora a recuperar a
olhos vistos mas ainda longe dos tempos em que Angola surgiu aos olhos do mundo
como o novo "el dorado”, em
2008, quando, por cada barril, os mercados chegaram a pagar 147 dólares.
Os actuais 73 dólares por
barril, pagos no mercado londrino (Brent), que modela os valores diários das
exportações nacionais, com as crises internacionais e a estratégia de cortes da
Organização dos Países Produtores de Petróleo (OPEP)
Kaombo,
"l espoir"
É face a este cenário
deprimente para a indústria petrolífera angolana e para a economia nacional,
que tem no crude, ainda, o responsável por cerca de 95 por cento do total das
suas exportações, continuando uma economia claramente petrodependente, que o
projecto Kaombo, da francesa Total, está a ser visto como a esperança de que
venha a constituir um ponto de viragem e o regresso de Angola aos bons velhos
tempos.
Para já, como a multinacional
acaba de divulgar, o primeiro dos dois navios-plataforma, do género FPSO, que
agrega à capacidade de extracção, a de armazenamento e distribuição para
terceiros, chegou ao Kaombo, onde se perspectiva o início da exploração de
facto dentro de poucos meses, que deverá chegar aos 230 mil barris por dia, em
plena produção.
Este FPSO tem capacidade para
extrair das águas ulta profundas do Kaombo 115 mil barris por dia, o que vai,
segundo a Total, que opera o projecto e nele tem 30 por cento de quota, dar o
tiro de partido para que, quando estiver em pleno, a companhia francesa veja a
sua produção global de petróleo e gás natural aumentar cerca de 6 por cento
este ano.
Para além da Total, o Kaombo
conta com uma participação de 30 por cento da Sonangol (concessionária), mais
20 da sino-angolana Sonangol Sinopec International, e os restantes são da Esso
(15%) e Galp (5%).
Kaombo
por dentro
Kaombo é um enorme projecto
lançado em 2014 pela Total, o primeiro em águas ultra profundas do Bloco 32,
que se estende por mais de 800 quilómetros quadrados ao largo da bacia do
Kwanza, e é ligado por cabos e pipelines
submergidos com mais de 300 kms entre as duas FPSO previstas para ali operarem.
A operadora do projecto estima
que dele venham a ser retirados, ao longos dos próximos anos, mais de 650
milhões de barris, que estão depositados a profundidas enormes, em alguns
locais superiores a 2 000 metros.
No global, Kaombo conta com
seis campos de exploração e quando foi anunciado, em 2014, a Totalo estimava
conseguir o "first oil", ou o primeiro petróleo dali extraído, em
2017, mas a queda abrupta do valor do barril nos mercados internacionais -
chegou mesmo abaixo dos 30 USD em Fevereiro de 2016 - levou a companhia a
protelar esse momento.
Foi o acordo da OPEP com
outros países, como a Rússia, com o objectivo de estabilizar e fazer subir os
preços, através de um corte diário na produção de 1,8 mbpd, com Angola a
contribuir com 78 mil, que proporcionou razões para a Total voltar a acelerar
as coisas, com base na subida do valor da matéria-prima, chegando a quase
triplicar o preço do barril do início de 2016 para o início de 2018.
O investimento global previsto
para este projecto é de 3 mil milhões de dólares, contabilizando já a novidade
que foi o facto de a Total, contrariamente ao que sucedia até aqui, ter
apostado na transformação de outros navios, petroleiros, em navios-plataforma
(FPSO), como é o caso dos dois que vão operar no Kaombo.
Médio
Oriente, extrema ameaça
Um dos grandes problemas que a
indústria petrolífera nacional enfrenta actualmente é o relativamente elevado
custo da produção, que, apesar de não haver números exactos, rondará os 15
dólares por barril, apesar de a Sonangol ter adiantado que tinha conseguido
reduzir os custos de produção para menos de 8 USD/barril nos anos de 2015/16.
Apesar de o país ter
conseguido reduzir substancialmente estes custos, a verdade é que o Médio
Oriente, onde estão alguns dos maiores produtores mundiais, como a Arábia
Saudita (1º) e o Irão (4º), contando ainda com o Iraque (5º), representando a
região mais de 30 mbpd do total global à volta dos 92 mbpd, apresentam-se com
muito menos custos de produção para as multinacionais do sector.
Esses custos, por vezes
inferiores a 5 USD/barril, impõe que, num tempo de grande volatilidade nos
preços, e com tendência para descer, devido às grandes mudanças no perfil do
consumo - como exige o combate ao aquecimento global/alterações climáticas -,
se torne evidente a preferência dos gigantes mundiais para investirem, mesmo
que, como é o caso dos dias que correm, os preços estejam a subir com algum
vigor e bem acima dos 70 USD/barril.
É neste confronto que Angola,
que surge no mapa dos valores de custo/produção com dificuldades de ser
competitiva neste domínio, perde e esteja a assistir a um continuado
desinvestimento nos últimos quatro ano.
Mas se se olhar estritamente
para Kaombo, onde a Total, que é um dos gigantes mundiais do sector, está a
apostar de forma inequívoca, começa a surgir no horizonte a possibilidade de
que o “offshore” angolano volte a ser
sobrevoado por dezenas de helicópteros, como acontecia até 2014, entre Luanda e
as plataformas, que fervilhava de técnicos e o crude jorrava com abundância,
tal como o champagne nas petrofestas que iluminavam as noites luandenses. Ricardo Bordalo – Angola in “Novo
Jornal”
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