Pintura Arq. Eduardo Moreira Santos, Lx (28.08.1904 - 23.04.1992)

sábado, 19 de maio de 2018

Macau - Apresentação da obra “O Oriente na Literatura Portuguesa – Antero de Quental e Manuel da Silva Mendes”




O Clube Militar recebeu anteontem ao final da tarde a apresentação da obra “O Oriente na Literatura Portuguesa – Antero de Quental e Manuel da Silva Mendes” da autoria de Carlos Botão Alves, do Instituto Politécnico de Macau (IPM). “O livro é um estudo de análise textual entre dois grandes autores do virar do século XIX para o século XX. Falta fazer em Macau estudos de maior fôlego que abranjam toda a obra de determinados escritores que ou passaram por Macau, ou são de Macau, mas que têm Macau como centro da sua escrita”, disse o académico à Tribuna de Macau.

Manuel da Silva Mendes foi uma personalidade que despertou o interesse do autor logo desde a década de 80. “É um homem que pensava analisar de várias formas. Uma das vezes fiz um texto grande, já no final dos anos 90, sobre a parte filosófica e de análise da sabedoria oriental os imensos textos que ele escreveu”.

Integrado na colecção “Suma Oriental”, do Instituto Internacional de Macau (IIM), o livro ontem apresentado demorou cerca de “seis ou sete anos” a ser redigido, tentando abarcar os textos que Manuel da Silva Mendes produziu em Macau, “inclusivamente uma célebre conferência que deu em 1909 no Clube Militar, que ficou muito célebre e foi muito referida por autores subsequentes, sobre Laozi e o Taoismo”.

Assim, Carlos Botão Alves optou por fazer um estudo de literatura comparada com um autor “já conhecido e que já tem créditos no cânone literário português”, Antero de Quental. Entre os dois escritores há vários traços comuns. “Há preocupações políticas, sobretudo pedagógicas, de regeneração de um país pela educação do seu povo, e são preocupações muito grandes quer num, quer noutros. Eles têm o período de vida comum, do virar do século e o que me interessou referir era a possibilidade que os dois autores viram nas correntes de sabedoria oriental, Antero de Quental com o budismo indiano e Manuel da Silva Mendes com as traduções e os textos sobre quer o taoismo, quer o budismo”.

Além disso, os autores “foram-se apropriando desses princípios para construir um sistema que lhes permitisse olhar para o mundo de uma forma mais apelativa e, sobretudo, mais pedagógica”. “São sempre textos muito positivos, de comentário e de interesse para se poderem ler. Eram textos que Manuel da Silva Mendes escrevia nos jornais. Até ao momento, havia muitos dispersos e era necessário ter um texto que permitisse ter uma visão enquadradora de todo o seu pensamento”, frisa Carlos Botão Alves.

Ao longo dos sete anos de redacção do livro, houve “grandes desafios de crítica textual”. “Havia várias versões de um mesmo texto com algumas pequenas – grandes – alterações. Uma delas, de Luís Gonzaga Gomes, outro macaense. Manuel da Silva Mendes não nasceu na terra mas teve grande contacto com a comunidade chinesa e com o conhecimento do chinês e depois Luís Gonzaga Gomes, como tendo sido seu pupilo e fez a grande edição de 1963 e foi com base nesses textos o desafio principal”, indicou o professor do IPM.

Além disso, defendeu o académico, “franceses têm feito muitos textos de literatura comparada, estudos profundos, os ingleses idem aspas, falta colocar os autores de Língua Portuguesa no debate dos temas do Oriente porque a Língua Portuguesa foi a primeira a chegar, a última a partir em termos de império, e permanece imensamente popular, cada vez mais interessante para os alunos chineses, verificarem que há autores em Macau que pensam em termos filosóficos sobre a ideia do que é estar na vida e ser homem no mundo, usando princípios da sua própria filosofia”.

“São pontos de entendimento e penso que isso é fundamental e acabo o livro com dois ou três parágrafos disso. No mundo globalizado, cada vez menos de diálogo, é necessário colocar estes textos para que permitam o entendimento, nunca a suspeita e muito menos o conflito”, sublinhou Carlos Botão Alves.

Na mesma ocasião foi lançado o livro “Manuel da Silva Mendes” do investigador António Aresta, integrado na colecção “Mosaico” do IIM. Embora não tenha estado presente na ocasião, o autor deixou uma mensagem referindo o facto de a sessão estar a decorrer no mesmo local onde Silva Mendes há quase 100 anos deu uma conferência sobre Laozi e o Taoismo.

Na sessão de lançamento que contou com o apoio da Fundação Macau e colaboração do Clube Militar, participaram também a professora de língua e literatura da Universidade de Macau, Ana Cristina Dias, Jorge Rangel, presidente do IIM, e José Rocha Diniz, administrador do Jornal Tribuna de Macau. Inês Almeida – Macau in “Jornal Tribuna de Macau”

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