O Clube Militar recebeu anteontem
ao final da tarde a apresentação da obra “O Oriente na Literatura Portuguesa –
Antero de Quental e Manuel da Silva Mendes” da autoria de Carlos Botão Alves,
do Instituto Politécnico de Macau (IPM). “O livro é um estudo de análise
textual entre dois grandes autores do virar do século XIX para o século XX.
Falta fazer em Macau estudos de maior fôlego que abranjam toda a obra de
determinados escritores que ou passaram por Macau, ou são de Macau, mas que têm
Macau como centro da sua escrita”, disse o académico à Tribuna de Macau.
Manuel da Silva Mendes foi uma
personalidade que despertou o interesse do autor logo desde a década de 80. “É
um homem que pensava analisar de várias formas. Uma das vezes fiz um texto
grande, já no final dos anos 90, sobre a parte filosófica e de análise da
sabedoria oriental os imensos textos que ele escreveu”.
Integrado na colecção “Suma
Oriental”, do Instituto Internacional de Macau (IIM), o livro ontem apresentado
demorou cerca de “seis ou sete anos” a ser redigido, tentando abarcar os textos
que Manuel da Silva Mendes produziu em Macau, “inclusivamente uma célebre
conferência que deu em 1909 no Clube Militar, que ficou muito célebre e foi
muito referida por autores subsequentes, sobre Laozi e o Taoismo”.
Assim, Carlos Botão Alves
optou por fazer um estudo de literatura comparada com um autor “já conhecido e
que já tem créditos no cânone literário português”, Antero de Quental. Entre os
dois escritores há vários traços comuns. “Há preocupações políticas, sobretudo
pedagógicas, de regeneração de um país pela educação do seu povo, e são
preocupações muito grandes quer num, quer noutros. Eles têm o período de vida
comum, do virar do século e o que me interessou referir era a possibilidade que
os dois autores viram nas correntes de sabedoria oriental, Antero de Quental
com o budismo indiano e Manuel da Silva Mendes com as traduções e os textos
sobre quer o taoismo, quer o budismo”.
Além disso, os autores
“foram-se apropriando desses princípios para construir um sistema que lhes permitisse
olhar para o mundo de uma forma mais apelativa e, sobretudo, mais pedagógica”.
“São sempre textos muito positivos, de comentário e de interesse para se
poderem ler. Eram textos que Manuel da Silva Mendes escrevia nos jornais. Até
ao momento, havia muitos dispersos e era necessário ter um texto que permitisse
ter uma visão enquadradora de todo o seu pensamento”, frisa Carlos Botão Alves.
Ao longo dos sete anos de
redacção do livro, houve “grandes desafios de crítica textual”. “Havia várias
versões de um mesmo texto com algumas pequenas – grandes – alterações. Uma
delas, de Luís Gonzaga Gomes, outro macaense. Manuel da Silva Mendes não nasceu
na terra mas teve grande contacto com a comunidade chinesa e com o conhecimento
do chinês e depois Luís Gonzaga Gomes, como tendo sido seu pupilo e fez a
grande edição de 1963 e foi com base nesses textos o desafio principal”,
indicou o professor do IPM.
Além disso, defendeu o
académico, “franceses têm feito muitos textos de literatura comparada, estudos
profundos, os ingleses idem aspas, falta colocar os autores de Língua
Portuguesa no debate dos temas do Oriente porque a Língua Portuguesa foi a
primeira a chegar, a última a partir em termos de império, e permanece
imensamente popular, cada vez mais interessante para os alunos chineses,
verificarem que há autores em Macau que pensam em termos filosóficos sobre a
ideia do que é estar na vida e ser homem no mundo, usando princípios da sua
própria filosofia”.
“São pontos de entendimento e
penso que isso é fundamental e acabo o livro com dois ou três parágrafos disso.
No mundo globalizado, cada vez menos de diálogo, é necessário colocar estes
textos para que permitam o entendimento, nunca a suspeita e muito menos o
conflito”, sublinhou Carlos Botão Alves.
Na mesma ocasião foi lançado o
livro “Manuel da Silva Mendes” do investigador António Aresta, integrado na
colecção “Mosaico” do IIM. Embora não tenha estado presente na ocasião, o autor
deixou uma mensagem referindo o facto de a sessão estar a decorrer no mesmo local
onde Silva Mendes há quase 100 anos deu uma conferência sobre Laozi e o
Taoismo.
Na sessão de lançamento que
contou com o apoio da Fundação Macau e colaboração do Clube Militar,
participaram também a professora de língua e literatura da Universidade de Macau,
Ana Cristina Dias, Jorge Rangel, presidente do IIM, e José Rocha Diniz,
administrador do Jornal Tribuna de Macau. Inês
Almeida – Macau in “Jornal Tribuna de Macau”
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